30/06/2021
Por: Mayra Malavé Malavé (IFF/Fiocruz)
Desde outubro de 2020, o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) empreende o projeto de pesquisa "Intersetorialidade, acesso a políticas públicas e tessituras do cuidado na pós-epidemia: o que a Síndrome Congênita do Vírus Zika (SCZV) trouxe de lições para o enfrentamento às implicações sociais de outras condições crônicas de saúde na infância?".
No decorrer do tempo, com o desenvolvimento das crianças com a síndrome, emergiram novos problemas de saúde, ocorreram mudanças na dinâmica familiar e novas demandas por políticas públicas, como educação inclusiva e acesso a cadeiras de rodas, além do surgimento inesperado da pandemia da Covid-19 no início de 2020, que trouxe muitas mudanças na forma de atender à população. Neste cenário, o IFF/Fiocruz procura compreender de que forma a trajetória constituída por famílias, profissionais de saúde, rede intersetorial de atendimento e pesquisadores pode contribuir para a luta por acesso a direitos de famílias, crianças e adolescentes com condições crônicas de saúde.
Conforme explicado pela assistente social do IFF/Fiocruz e coordenadora da pesquisa, Alessandra Gomes Mendes, o projeto é um desdobramento do estudo anterior realizado pelo Instituto sobre O enfrentamento às implicações sociais do zikaV pelas famílias, a qual articulou a mesma linha do estudo atual: pesquisa, ensino e atenção à saúde. Ambos foram financiados pelo Programa de Incentivo à Pesquisa (PIP) da instituição.
Sobre o propósito do projeto, Alessandra comenta. "Do ponto de vista da pesquisa, o objetivo é analisar como está se dando o acesso às políticas públicas pelas crianças com SCZV hoje, para assim identificar, na trajetória de suas famílias, sobretudo em relação à rede intersetorial de atendimento, os elementos que fortalecem ou dificultam o acesso a bens e serviços públicos pelas crianças com condições crônicas de saúde e/ou deficiências em geral".
Capa do “Guia Prático de Direitos para Profissionais de Saúde e Famílias de Crianças com a SCZV no Rio de Janeiro” (Imagem: Leandro Pimentel e Georges de Paula Racz)
Desde a ótica da atenção à saúde, "ao mesmo tempo em que se busca intervir sobre as atuais dificuldades de acesso às políticas públicas, por meio dos atendimentos individuais, o projeto propõe o fortalecimento da articulação da rede intersetorial voltada a este público, por meio do 'Fórum de Intersetorialidade e cuidado às crianças e famílias afetadas pelo zikaV'. No tocante ao ensino, o projeto contribui para a formação de profissionais de saúde, por meio da participação de residentes multiprofissionais e estudantes da especialização em política social e intersetorialidade, que vêm desenvolvendo a temática em seus trabalhos finais de curso. Mas, também por meio do Fórum Intersetorial, contribui para a qualificação dos profissionais da rede de atendimento", explica Alessandra Mendes.
Pelo IFF/Fiocruz também participam do projeto, a pesquisadora da Unidade de Pesquisa Clínica, Eloane Ramos; a estudante da especialização em Política Social e Intersetorialidade, Viviane Maia; o assistente de pesquisa, Daniel Campos; além de contar com a participação de residentes multiprofissionais, quando atuam no Serviço Social da Enfermaria de Doenças Infecciosas Pediátricas (DIPe), e da parceria informal com outros especialistas do Instituto; da rede Zika da Fiocruz, das secretarias estaduais de saúde e assistência social, assim como com a municipal de educação, o que facilita o acesso aos profissionais que atuam na ponta dos serviços.Ao final do projeto, "espera-se ter contribuído para o fortalecimento dos laços entre os diferentes sujeitos que compõem a rede intersetorial de atendimento, possibilitando o diálogo, a identificação de nós críticos e a construção de propostas de fortalecimento do cuidado e acesso a direitos de crianças com condições crônicas de saúde/SCZV. Pretende-se também promover a capilarização do conhecimento produzido no Instituto por meio desses encontros, da publicação de artigo científico e de material informativo", aponta Alessandra.
Fórum Intersetorial
Com o início do projeto de pesquisa no final do ano passado, a equipe começou a organizar o Fórum de Intersetorialidade e cuidado às crianças e famílias afetadas pelo zikaV, que é o espaço para articulação entre os sujeitos envolvidos no atendimento e garantia de direitos das crianças e suas famílias. Os encontros do Fórum acontecem semestralmente. Até o momento, aconteceram duas edições, realizadas no formato digital, seguindo as recomendações para evitar a propagação da Covid-19.
Conforme informado por Alessandra Gomes Mendes, a primeira edição do Fórum aconteceu em novembro de 2020, contou com 127 inscritos entre profissionais das áreas de saúde, assistência social, educação, pesquisadores e famílias, representadas pela Associação Lótus. A segunda edição foi em 28 de maio deste ano, contou com 94 inscritos e abordou o 'acesso à rede de atendimento em tempos de pandemia', com foco nas necessidades clínicas atuais das crianças e no atendimento intersetorial local, com ênfase no potencial de contribuição dos pontos focais do zikaV.
A terceira edição do Fórum está prevista para novembro desse ano. "Estamos nos debruçando sobre as proposições dos dois primeiros encontros para definir, entre as pautas prioritárias, as mais urgentes e aquelas que possam gerar maiores consequências práticas aos temas discutidos. O último encontro, por exemplo, fechou com o desafio de como articular cotidianamente entre si o conjunto dos sujeitos participantes, para potencializar esse diálogo habitual para além do Fórum. Realmente é algo que precisamos nos debruçar", conclui Alessandra.
Assista abaixo a última edição do Fórum Intersetorial.