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A agenda da saúde em 2015: entrevista com Daniel Groisman, pesquisador da Escola Politécnica de Saúde


18/12/2014

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Daniel Groisman é psicólogo e professor-pesquisador do Laboratório de Educação Profissional na Atenção à Saúde da Escola Politécnica de Saúde Joaquim (ESPJV/Fiocruz) e há muito tempo vem trabalhando com formação de trabalhadores na saúde do idoso e políticas públicas para o cuidado e envelhecimento.

 

Portal Fiocruz - Quais temas provavelmente vão dominar a agenda da saúde em 2015?

Daniel Groisman - Além dos grandes temas que já permeiam o debate público e a maioria das conferências de saúde — como o problema do financiamento, a necessidade de ampliação do acesso e da cobertura e o combate às desigualdades e iniquidades — há uma questão que, cada vez mais, vem sendo discutida: a saúde do idoso. A sociedade brasileira vem envelhecendo, e de forma muito rápida. Talvez seja a maior transformação recente da população. É a grande característica demográfica do Brasil, no século 21. O aumento da esperança de vida e a diminuição do número de nascimentos fez com que o perfil da população envelhecesse.

É importante ter noção de que a saúde de uma pessoa, na velhice, é resultado de como foi sua vida inteira. Garantir boas condições para uma população envelhecida é um grande desafio para o sistema de saúde. Se o sistema não funciona bem nas demais fases da vida das pessoas, elas vão chegar à velhice em piores condições de saúde. Existem várias questões envolvidas nisso, como o combate e o tratamento de doenças crônicas e degenerativas e o a necessidade de recursos humanos especializados para atender ao idoso. Outro tema que vem sendo mais debatido, apesar de tradicionalmente ter sido pouco problematizado, é a questão do cuidado. Quando se começou a falar em saúde do idoso, a abordagem era muito em cima da prevenção e da promoção, talvez porque tivesse como alvo o idoso jovem, ou seja, a população entre 60 e 70 anos. Mas, hoje, dentro da população idosa, há a tendência de se tornarem mais velhos. Temos então o seguinte cenário: a população se torna mais idosa, ao mesmo tempo em que a família se transforma, com menos nascimentos e casamentos menos duradouros. As pessoas têm menos tempo para cuidar dos familiares que se tornaram dependentes. E a seguridade social brasileira, quando foi pensada, não previa esse problema, que era considerado de responsabilidade privada, da família e dos indivíduos. Mas a realidade vem mostrando que o Estado precisa ajudar no cuidado ao idoso. Imagino, então, que isso será debatido: como o SUS pode ajudar as famílias e os idosos que precisam de cuidados em seus domicílios.

Quais projetos e leis mais decisivos para o campo da saúde — mesmo que não diretamente ligados a ele — devem entrar em votação no próximo ano?

Existe um projeto de lei cuja tramitação eu venho acompanhando com atenção: o PL 4702/12, que cria a profissão de cuidador de pessoa idosa. Existe a percepção de que as pessoas que trabalham cuidando de idosos devem ter um fortalecimento na sua qualificação e uma maior valorização enquanto trabalhadores, porque auxiliam a família, a sociedade e a política pública. Ao mesmo tempo, há a perspectiva de que se possa inserir em algum lugar das políticas de saúde ou assistência social os serviços de cuidados por meio de cuidadores, o que não existe de forma universal, apesar da enorme demanda. Este é um projeto que já vem sendo debatido há alguns anos, mas, como qualquer regulamentação de nova profissão, enfrenta obstáculos e resistências. Acredito, porém, que a percepção de que o direito ao cuidado precisa ser valorizado e reconhecido vai prevalecer no final, e o projeto vai ser aprovado.

Quais temas deveriam estar na pauta da saúde em 2015, mas parecem envoltos em silêncio? 

Um deles é a questão do direito à saúde enquanto realidade. O Brasil trabalha com a lógica de ter um setor privado e um setor público e, muitas vezes, quando pensamos no SUS, isso não abrange a população como um todo. No caso da população idosa, há um dado interessante. Enquanto 50% das pessoas no país possuem plano de saúde, essa proporção, para os idosos, é de apenas um em cada cinco. Como a indústria da seguridade social visa ao lucro em primeiro lugar, aqueles que mais necessitam tendem a ficar excluídos, o que agrava a situação dos idosos. Ante à temática da saúde dos idosos, temos que pensar na questão da efetivação do direito à saúde, garantindo que o sistema seja, de fato, para todos.

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