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Poliomielite: Fiocruz confirma a presença de poliovírus no país


27/06/2014

Por Cristiane Albuquerque/IOC

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Pesquisadores do Laboratório de Referência Nacional de Enteroviroses do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) confirmaram a presença de poliovírus em amostras de vírus isoladas pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), coletadas em São Paulo, no monitoramento do esgoto do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP). Por meio de análises genéticas, foi possível identificar que o vírus encontrado nas amostras é similar a uma cepa recentemente isolada de um caso na Guiné Equatorial. Para estes testes, o laboratório de referência sequenciou o gene da proteína VP1, utilizado internacionalmente como padrão para o procedimento. É importante no entanto salientar que nenhum caso foi constatado em humanos. A confirmação do diagnóstico e a identificação da linhagem genética da amostra foi coordenada pelo pesquisador Edson Elias da Silva, chefe do Laboratório de Enterovírus do IOC.

A Vice-diretora de Serviços de Referência e Coleções Biológicas do IOC, Eliane Veiga da Costa, ressaltou o protagonismo do Instituto enquanto referência no tema junto ao Ministério da Saúde e como referência para a região das Américas junto à Organização Mundial da Saúde (OMS). “Há mais de 20 anos prestando serviços alinhados aos padrões internacionais estabelecidos pela OMS, o Laboratório identificou e sequenciou as amostras seguindo o protocolo de referência. Os resultados da análise foram emitidos dentro do prazo de cinco dias, após o recebimento das amostras”, destacou. "Recentemente, o IOC sequenciou geneticamente umas das últimas amostras do vírus a circular no Brasil, na década de 1980, o que contribui para o trabalho de comparação genética em relação a possíveis casos da doença no país”, acrescentou a vice-diretora. Clique aqui para saber mais sobre o estudo.

As amostras foram analisadas por meio de técnica de sequenciamento nucleotídico e de PCR em tempo real, protocolos internacionalmente validados para a referência no tema. Após a confirmação, o Laboratório, que atua como referência nacional no tema junto ao Ministério da Saúde e referência para a região das Américas junto à Organização Mundial da Saúde (OMS), informou os resultados aos Órgãos competentes - Ministério da Saúde, à Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), que efetuou o envio da amostra do isolado viral, além da Organização Pan-Americana de Saúde, Organização Mundial da Saúde e ao Centers for Disease Control and Prevention (CDC). O Brasil erradicou a doença em 1989. Já na América Latina, não há casos registrados desde 1991. Atualmente, mais de 95% da população brasileira está vacinada contra a poliomielite.

Em alerta divulgado nesta segunda-feira (23/06), a OMS ressaltou que autoridades de saúde brasileiras aumentaram as atividades de vigilância com o objetivo de detectar a transmissão do poliovírus selvagem tipo 1 e potenciais casos de poliomielite paralítica, assim como pessoas sem imunização.

Sobre o Laboratório

O Laboratório foi o primeiro a identificar, em 1989, a presença no Brasil do Enterovírus 71, causador de doença paralítica, indistinguível daquela causada pelos poliovírus selvagens, além de outras síndromes. Realizou também o isolamento e caracterização do último poliovírus selvagem da Região das Américas, no Peru, em 1991. Enquanto referência nacional e internacional, o Laboratório presta consultoria à rede de laboratórios Nacionais do Ministério da Saúde e participa ativamente na formação de recursos humanos para estes laboratórios, por meio de treinamentos e cursos.

Os pesquisadores dedicam-se ainda ao sequenciamento completo de nucleotídeos dos últimos poliovírus selvagens isolados no Brasil e na Região das Américas e do perfil genômico das amostras vacinais Sabin em circulação no Brasil. Esses conhecimentos serão importantes no monitoramento da circulação viral no caso de uma reemergência dos poliovírus selvagens no Brasil e de possíveis mutações e recombinações das cepas vacinais com genomas de outros poliovírus e enterovírus.

Sobre a poliomielite

A poliomielite é uma doença infecto-contagiosa aguda. Não existe cura e o vírus causador da doença se multiplica no intestino. A transmissão ocorre pela ingestão de água e alimentos contaminados com fezes (contato fecal-oral) e, por isso, crianças até os quatro anos, que ainda não adquiriram hábitos de higiene, correm mais risco de contrair o poliovírus. Apenas 1% dos infectados desenvolve a forma paralítica, decorrente da migração do vírus para o sistema nervoso central. As sequelas podem ser permanentes e, quando há comprometimento bulbar o paciente pode morrer de insuficiência respiratória.

 

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