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Retorno de HIV em menina americana não inibe busca por cura funcional, diz cientista

Foto da Valdilea Veloso

14/07/2014

Por Alexandre Matos/Farmanguinhos

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A difícil batalha de pesquisadores contra a Aids tem um capítulo negativo. De acordo com reportagem veiculada no jornal O Globo, médicos americanos fizeram um pronunciamento, nesta quarta-feira (9/7), que decepcionou a comunidade científica. Testes de HIV realizados na semana passada em uma menina de 4 anos, que havia sido dada como livre do HIV durante anos, indicam que ela não está mais em remissão, e o vírus voltou a ser detectado.

Para Valdiléa Veloso, pesquisadora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), a notícia representa um certo desapontamento, mas, mesmo assim, trata-se de um caso animador do ponto de vista científico. “O que aconteceu com essa criança foi um estímulo em termos de pesquisa”, disse a especialista, que prevê ainda ações promissoras. “Atualmente, existe uma gama de pesquisas voltadas para a cura de HIV/Aids, inclusive aqui no INI. O principal objetivo é estudar meios de buscar a cura funcional dos pacientes”, destacou.

Segundo a especialista, a cura funcional não erradica todos os vírus do organismo, mas os paralisa em quantidade mínima, tal que não chegue a causar danos ao ser humano. “Com isso, a pessoa que vive com HIV/Aids poderia até suspender o tratamento com antirretrovirais. É exatamente o que teria acontecido com essa criança. Apesar de o vírus ter voltado nos exames dela, o nível é baixo para sua cópia”, analisa Valdiléa. Ela destaca ainda que esse objetivo é o que se pretende alcançar daqui a alguns anos.

Tratamento precoce

Valdiléa informa que esse caso só ratifica que o caminho é começar o tratamento bem cedo. “No caso do adulto, o ideal é fazer testes regularmente, como outros exames mais simples, como o de glicose, por exemplo. Quanto mais cedo diagnosticar, melhor para começar o tratamento. Inclusive, o Ministério da Saúde adotou esta estratégia. A validade do teste acaba quando a pessoa tem relação sexual sem proteção”, assinala.

A pesquisadora explica que o Ministério da Saúde garante que o brasileiro que tenha sido exposto ao vírus HIV pode procurar um centro de atendimento e iniciar um tratamento precoce, como o que ocorreu com a menina americana, destacada na reportagem. “O médico então vai avaliar se deve entrar imediatamente com o tratamento antirretroviral”, diz.

Valdilea informa, ainda, que a Fiocruz está com uma nova pesquisa preventiva. “É uma campanha voltada para o público gay. Uma das ações é o diagnóstico ultra precoce, que busca o material genético do HIV, detectável nos primeiros dias. Com isso, tratamos a pessoa antes que o vírus se dissemine e cause danos à vida do paciente”, assinala.

O público gay é a maior preocupação da Organização Mundial da Saúde (OMS). “É a população de maior risco. Para se ter uma ideia, em cada 100 homens gays, 14 vivem com o vírus HIV, contra 0,4 entre as mulheres heterossexuais”, aponta a pesquisadora. Para conter essa epidemia no público homossexual, a OMS sugeriu pela primeira vez que todos os homens que fazem sexo com outros homens devem tomar medicamento antirretroviral e usar preservativos. A indicação acontece em um momento em que as taxas de infecção pelo HIV entre gays estão atingindo altos níveis em todo o mundo. Veja a reportagem da edição desta sexta-feira, 11/7, do jornal O Globo.

Entenda o caso

Em março do ano passado, médicos anunciaram que, pela primeira vez, um bebê tinha sido curado funcionalmente do vírus causador da Aids. A menina americana foi tratada com medicamentos antirretrovirais cerca de 30 horas após seu nascimento, algo que normalmente não é feito. O suposto sucesso do tratamento foi divulgado com grande destaque, e o caso foi visto como uma possível revolução no protocolo terapêutico de recém-nascidos, já que cerca de 250 mil crianças nascem no mundo infectadas com o vírus a cada ano.

A menina nasceu prematuramente em 2010, e sua mãe, infectada pelo HIV, não tinha recebido cuidado pré-natal. Depois do nascimento, a criança foi levada às pressas para o Centro Médico da Universidade do Mississípi, onde a médica Hannah Gay, especialista em HIV em crianças, ministrou-lhe um coquetel de três drogas antirretrovirais. Depois de um ano e meio, os médicos interromperam o tratamento da menina. Quando ela retornou ao centro médico tempos depois, continuava livre do vírus. Na última semana, descobriu-se a replicação do HIV e a criança passou a ser novamente tratada com antirretrovirais.

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