28/05/2015
Por: César Guerra Chevrand / Agência Fiocruz de Notícias
Em operação desde o início do ano, o sistema de monitoramento online da dengue desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) vem abastecendo a Prefeitura do Rio de Janeiro de informações estratégicas sobre a evolução da doença em tempo real no município. Mas os pesquisadores envolvidos no projeto querem mais. Já está em negociação com o poder público a inclusão de pelo menos outras duas doenças emergentes, transmitidas pelo mesmo vetor que a dengue: a chikungunya e o Zika vírus.
Atualmente, as informações reunidas pelas diferentes equipes envolvidas no projeto estão disponíveis para o público no portal Info Dengue Rio. Com uma longa tradição de modelagem de dados em vigilância, os pesquisadores do Programa de Computação Científica (PROCC) da Fiocruz e seus colegas da Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (EMAp) da FGV processam os dados sobre doentes enviados pela Prefeitura do Rio de forma a ter um mapa sempre atualizado sobre a dengue.
Para se traçar um cenário ainda mais preciso da doença no município, os dados da Prefeitura do Rio são cruzados com os indicadores de menção a dengue no Twiiter, a partir do trabalho realizado pelo Observatório de Dengue da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e com os dados climáticos produzidos pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Coordenadora do Info Dengue Rio, a pesquisadora do PROCC da Fiocruz Claudia Codeço comenta a complexidade e a importância do projeto.
"A parceria com o poder público é fundamental para o sucesso do projeto. O programa passou por uma fase inicial de testes e sofreu pequenos ajustes. A análise de dados em Saúde sempre foi feita de maneira muito retrospectiva, olhando os dados do passado. O nosso desafio é realizar uma predição, de pelo menos uma semana, para oferecer à prefeitura informação de qualidade para a tomada de decisão", disse Claudia, que usa o exemplo da meteorologia para ilustrar o tipo de previsão realizada pelo Info Dengue Rio.
Com a consolidação do sistema, a pesquisadora do PROCC explica que o monitoramento da dengue também pode ser realizado por outros municípios do Brasil, dependendo apenas de novas parcerias com prefeituras pelo país. No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, a equipe do projeto gostaria de alcançar em breve o monitoramento de toda a Região Metropolitana. As negociações com as prefeituras de Belo Horizonte e Curitiba já estão adiantadas. A meta mais audaciosa agora é adaptar o modelo vigente para incluir outras doenças.
O primeiro passo, de acordo com Claudia Codeço, é acrescentar os dados sobre a chikungunya e o Zika vírus, que chegaram há pouco tempo no país, manifestam sintomas que se confundem com os da dengue e também são transmitidos pelo Aedes aegypti.
"O fato de a gente conseguir acompanhar semanalmente o que está acontecendo com a dengue permite uma resposta mais imediata e eficaz do poder público. A inclusão de outros agravos no sistema é um caminho natural, mas gera novos desafios metodológicos. A proposta já existe e nós estamos conversando e estruturando o processo para oferecer a mesma informação de qualidade que oferecemos hoje no caso da dengue", afirma.
A pesquisadora do PROCC da Fiocruz adianta também que faz parte dos planos da equipe estender o sistema de monitoramento online para a Influenza e demais doenças respiratórias. Outros mecanismos de interação, típicos de redes sociais, também devem vir a fazer parte do sistema, de modo a oferecer informação de qualidade não somente ao poder público, mas também ao cidadão que acessa o portal do Info Dengue Rio.
"Esse projeto é um desafio para nós, pesquisadores, porque nos tira um pouco da vertente acadêmica e nos coloca em contato com o mundo real. Ciência é justamente esse ato de conhecer o mundo. Tanto em termos de cidadania quanto em termos de atividade de extensão, essa tem sido uma ótima experiência para todos nós", completa Claudia Codeço.
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