26/04/2017
André Costa (CCS) Foto: Peter Ilicciev
“Temos uma longa história em comum. O Instituto Pasteur e a Fundação Oswaldo Cruz não compartilham somente conhecimentos científicos, mas valores. Estamos vivendo um período fascinante na ciência, com a fusão de várias disciplinas. Estes novos modos de organização científica são muito exigentes, nada mais é como era há 10 anos. Devemos lembrar disso, quando discutimos colaborações. Assim como devemos antecipar onde estaremos dentro de 15 anos”.
Representantes das três instituições discutiram programas interdisciplinares em diferentes áreas do saber (Fotos: Peter Ilicciev - CCS/Fiocruz)
A declaração do presidente do Instituto Pasteur, Christian Bréchot, em reunião realizada na última terça-feira (4/4), em Manguinhos, evoca laços que unem as duas instituições no passado e no futuro. A Fiocruz está vinculada desde o seu surgimento àquele instituto francês, onde o sanitarista que dá nome à Fundação estudou. Ao longo do tempo, diversas ações em conjunto foram desenvolvidas pelas duas instituições, que compartilham não apenas conhecimentos científicos, mas uma compreensão do que são a saúde e a ciência. E esta proximidade se manifesta mais uma vez no momento atual, de renovação e novos desafios na saúde pública.
O encontro reuniu dirigentes e pesquisadores brasileiros e franceses, assim como membros do corpo diplomático francês e representação da USP. Em pauta, projetos que desenvolvam o histórico acordo de parceria entre as três instituições assinado em 2015.
“Temos uma cooperação histórica e estratégica com o Pasteur, e muitos novos projetos a caminho. Queremos avançar para o estabelecimento de um centro comum. Desenvolveremos programas interdisciplinares, envolvendo vários campos de pesquisa, para enfrentamento a doenças infecciosas e novos problemas de saúde”, disse a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima.
A primeira dessas parcerias mencionadas por Nísia deve ser divulgada em breve: uma chamada para projetos em conjunto entre Pasteur, USP e Fiocruz, que contemplará estudos sobre doenças transmitidas por vetores, neurociência e medicina translacional, entre outros. O edital está em preparação e será divulgado assim que estiver concluído.
Em relação ao antigo sonho comum do estabelecimento do Instituto Pasteur do Brasil, o diretor do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Wilson Savino, e responsável pela coordenação de Estratégias de Integração Regional e Nacional da Fiocruz, fez uma apresentação do Campus Eusébio, no Ceará, com inauguração prevista para o final deste ano. Savino destacou as facilidades com as quais contará a unidade, colocando-a como uma das possíveis sedes do Pasteur do Brasil.
Dentre seus pontos está um enfoque em pesquisas de ciência de ponta sobre doenças infecciosas, moleculares e neuronais, entre outras. O pesquisador colocou que já há pesquisadores da Fiocruz no Ceará trabalhando com saúde da família, saúde ambiental e com aplicação do uso de dados na área médica, e reforçou outros atrativos do centro. “O estado do Ceará tem o melhor balanço fiscal e o maior nível de investimento público em todo o Brasil. A Fiocruz Ceará fará parte de um hub da saúde no estado, incluindo infraestrutura e tecnologia”, afirmou.
Nísia Trindade Lima destacou a importância da parceria para o enfrentamento do surto de doenças infecciosasO vice-presidente internacional do Pasteur, Marc Jouan, destacou que a parceria entre as instituições deve evoluir passo-a-passo, e que o chamado para projetos que será divulgado é um bom exemplo de ações concretas a serem tomadas. “Precisamos simplificar, encontrar soluções concretas. Queremos que os projetos estejam selecionados até julho. Este é um bom exemplo de trabalho em conjunto”, afirmou.
Jouan acrescentou que, no futuro, o cenário ideal seria a criação de um fundo em comum entre as três instituições, que pudesse financiar projetos em comum. “Deste modo, poderíamos lançar projetos todo ano. Precisaríamos ser muito flexíveis, disponibilizando os fundos também para pesquisadores da França”, disse. Bréchot, o presidente do Pasteur, endossou esta ideia, afirmando que o fundo não deve ser “imenso, mas ainda assim muito representativo, sobretudo do que há de mais avançado”.