15/12/2016
André Costa (CCS)
Uma das mais eminentes especialistas na relação entre saúde e relações internacionais do planeta, a diretora do Programa de Saúde Global do Instituto de Pós-Graduação para Estudos Internacionais e do Desenvolvimento de Genebra, Ilona Kickbusch,foi convidada pela Fiocruz para a palestra Alternativas para administrar melhor crises de saúde global, como parte do Simpósio Internacional Zika, na Academia Brasileira de Medicina. Kickbusch falou sobre como a comunidade internacional pode melhor agir para enfrentar ameaças como o zika, apresentando um “trabalho em andamento”: progressos da Força-Tarefa de Crises de Saúde Global das Nações Unidas, da qual faz parte.
Coordenador do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fiocruz, Paulo Buss apresentou a conferencista Ilona Kickbusch no evento Zika (foto: Pedro Linger).A pesquisadora começou sua palestra discorrendo sobre como, após a fraca resposta internacional à crise de ebola na África Ocidental, a comunidade de saúde global vem se mobilizando para evitar que erros semelhantes se repitam. “Durante a crise de ebola na África Ocidental ficou evidente que o mundo não estava preparado para lidar com crises severas na saúde. Ficou claro que crises de saúde dizem respeito antes de tudo não a doenças, mas sim a governança, a nível local e global”, disse Ilona. “Muitos assuntos técnicos sobre saúde global subitamente se tornaram assuntos muito políticos, que dizem respeito a questões de equidade, justiça e governança”, acrescentou.
Iniciativas para lidar com esta dimensão política da saúde global e gerar uma melhorar governança da saúde global incluem a própria força-tarefa, mecanismo estabelecido em junho pelo ex-Secretário-Geral das Nações Unidas Ban Ki-moon, assim como o Painel de Alto Nível de Respostas Globais a Crises de Saúde da ONU, que a precedeu. Os mecanismos, segundo Kickbusch, fazem parte da construção de uma “arquitetura global efetiva para reconhecer e mitigar a ameaça de doenças infecciosas epidêmicas”.
Boa parte das necessidades da saúde global, de acordo com a cientista política, dependem de fatores econômicos. Segundo ela, 4,5 bilhões de dólares globais por ano seriam necessários para respostas adequadas a futuros surtos – o que, por sua vez, poderia evitar perdas de até 60 bilhões de dólares anuais em pandemias futuras.
Este desafio de financiamento sublinha a importância de outras iniciativas recentes, como a proeminência decisiva que a saúde pela primeira vez teve em um encontro do G-20 em setembro em Hangzhou, na China, assim como um inédito encontro de ministros da saúde do G-20. Outra iniciativa de suma importância é a criação de um mecanismo de avaliação externa para progressos na área de saúde, o Mecanismo Conjunto de Avaliação Externa, da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo Kickbusch, o envolvimento cada vez maior de atores internacionais em questões de saúde global ganha relevância ainda mais significativa quando se considera que “crises de saúde são também crises de inequidade, relacionadas à segurança, a migrações, ao ambiente. Não podemos estar à mercê da caridade, precisamos que todo o mundo contribua. Precisamos assegurar que crises de saúde global sejam uma prioridade na agenda internacional”.
De acordo com a pesquisadora, a expansão de esforços para promover a cobertura universal de saúde contribuirá para fortalecer regulações Internacionais de Saúde e aumentar o preparo para emergências futuras como o zika, podendo fazer de 2016 um ano decisivo. “Vivemos um momento cosmopolita, na qual atores globais devem se unir e definir que agora agem juntos, em união”, ela resumiu.