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Pesquisa revela bom nível de potabilidade da água de Manguinhos


24/02/2015

Por Isabela Schincariol/ Ensp

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Visando atender uma queixa da população de Manguinhos, no Rio de Janeiro, em relação à qualidade da água consumida nas mais de quinze comunidades que formam este complexo de favelas localizado no entorno da Fiocruz, o Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), em parceria com a iniciativa Teias-Escola Manguinhos, realizou uma grande análise na região. O coordenador da pesquisa e pesquisador do DSSA/Ensp, Paulo Barrocas, apontou que, de maneira geral, a qualidade da água analisada ao longo da pesquisa atendeu aos padrões de potabilidade da atual legislação brasileira (portaria MS/nº2914/2011). Somente foram encontrados problemas pontuais, em especial no que se refere ao armazenamento intradomiciliar da água fornecida pela rede de abastecimento.  

Baseado nos resultados do estudo intitulado Estudo da Qualidade da Água consumida e da ocorrência de doenças de veiculação hídrica no território de Manguinhos na cidade do Rio de Janeiro – RJ, o pesquisador alertou para a necessidade de orientação e esclarecimento da população no que tange ao armazenamento e conservação da água. Outro ponto ressaltado por Barrocas foi a importância de apresentar à população os resultados da pesquisa. Além do princípio ético, para ele é fundamental que os indivíduos tenham acesso às informações e conhecimentos produzidos pela academia. “Assim, com o envolvimento da comunidade, esperamos contribuir para que os moradores desse território tenham mais subsídios para reivindicar seus direitos e participar das decisões políticas no que diz respeito à sua qualidade de vida”, disse ele.  

Sobre os problemas pontuais encontrados no território, Barrocas esclareceu que moradores de diferentes áreas de Manguinhos citaram problemas ocasionais no abastecimento e o aspecto ruim da água após grandes chuvas, enchentes e ainda após períodos de falta d’água. Entretanto, ele explicou que os pesquisadores de campo não tiveram a oportunidade de fazer coletas nestas ocasiões que pudessem confirmar os relatos. “As amostras revelam apenas uma fotografia do momento da coleta das amostras”. Por não ter sido um monitoramento, descreveu ele, não se pode afirmar que a água é de uma qualidade ou de outra ao longo do ano, por exemplo. Somente pode-se dizer sobre a qualidade das amostras analisadas que refletem as características naquele momento específico.

Academia e comunidade: cooperação

A parceria com o Teias-Escola Manguinhos teve início no ano de 2011. Na ocasião, foram analisadas amostras em escolas localizadas no território. Em meio a esse trabalho foi detectado um problema de hepatite em uma das escolas. Para realizar as análises, foi estabelecida uma colaboração com o Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental e o Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico em Virologia, ambos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). A partir deste acúmulo de experiências, os pesquisadores decidiram desenvolver estudos na área de Vigilância em Saúde Ambiental.

“Com um projeto formal, concorremos a um edital do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (Dsast/SVS/MS) no fim de 2012. Além dos dois laboratórios do IOC, nesta pesquisa foi incluído também o Laboratório de Geoprocessamento do Departamento de Informações em Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), reunindo assim três unidades da Fundação”, detalhou ele, dizendo ainda que, em 2013, o projeto passou a contar com o apoio da Vice-Direção de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da ENSP e o Programa de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Saúde Pública da Vice-Presidência de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fundação (PDTSP/VPPLR/Fiocruz), passando a integrar a Rede Saúde Manguinhos.

Para a escolha dos domicílios visitados, a pesquisa utilizou uma subamostra do desenho feito pelo inquérito coordenado pela também pesquisadora da Ensp, Marília Sá Carvalho, intitulado Condições de vida e saúde e uso de serviços de saúde no território Teias-Escola Manguinhos, no ano de 2012. O qual buscou conhecer as condições de vida e saúde da população e o uso de serviços no território de Manguinhos.

Pesquisa segue apresentando resultados à população estudada

Foram coletadas quase 500 amostras em cerca de 250 domicílios, 12 escolas e creches e 3 unidades de saúde – Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria da ENSP, Upa de Manguinhos e a Clínica da Família Victor Valla, todas sob a gerência do Teias-Escola Manguinhos.

Barrocas contou que durante o trabalho de campo os pesquisadores se preocuparam em seguir o caminho da água em cada local visitado. “Coletamos uma amostra na entrada do domicílio, creche ou serviço de saúde para avaliar a qualidade da água na rede de distribuição; a segunda depois da água ter passado pela caixa d’água ou outro reservatório de armazenamento; e uma terceira depois dela passar pelo filtro ou bebedouro. Em decorrência desta característica percebemos que a contaminação se dava, em sua maioria, dentro dos domicílios, ou seja, após passar pela infraestrutura dos locais, como cisternas, caixas d’água e filtros”, alegou ele.

O DSSA/ENSP fez as análises dos parâmetros físico-químicos e bacteriológicos de potabilidade. Os laboratórios do IOC/Fiocruz buscaram os principais vírus entéricos causadores de gastroenterites e diarreias, e ainda o vírus da hepatite A. O Icict/Fiocruz ficou responsável por consolidar os dados em um banco e produzir mapas que georreferenciem no território os dados de qualidade da água. Os pesquisadores ainda estão finalizando algumas análises.

Ao concluir a pesquisa, a ideia é que seja produzido um grande mapa em que se possa combinar e cruzar dados de saúde e abastecimento no território, pois, segundo Barrocas, esse é o tipo de informação que pode auxiliar os gestores nas tomadas de decisão para o enfrentamento dos problemas locais. A Secretaria Municipal de Saúde compartilhou dados sobre agravos relacionados às questões de saneamento, como hepatite, leptospirose e outras. No entanto, apesar de já terem sido solicitados, a Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro (Emop) não forneceu os dados referentes às redes de esgoto e de abastecimento. “Gostaríamos de poder contar com as informações, por exemplo, das intervenções feitas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e também de ter acesso ao desenho antigo das redes. Ainda aguardamos estes dados”, lamentou Barrocas.  

Conforme destacado anteriormente, o coordenador do estudo ratificou a necessidade de apresentar os dados encontrado aos envolvidos na pesquisa. “Assim como fomos nas casas pedir a colaboração destes moradores, temos o dever de apresenta-los nos domicílios. É importante ressaltar que os dados sejam entregues em linguagem acessível à população. Procuramos trata-los e transforma-los em informação clara e compreensível para todos. Já estivemos nas unidades de saúde e escolares participantes do estudo. Além disso, estão previstos retornos individuais, ou seja, visitas às casas dos participantes para uma conversa qualificada sobre os achados em seus domicílios. Os dados foram apresentamos em uma oficina, no final de 2014, mas outras oficinas estão previstas em 2015 para a apresentação dos resultados à comunidade e aos gestores”, concluiu Paulo Barrocas.

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