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Rede voltada para divulgação científica é lançada em Minas


10/07/2024

Fonte: Fiocruz Minas

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Cientistas e profissionais de comunicação participaram, na última sexta-feira (5/7), do lançamento da Rede Lide, iniciativa que visa aproximar a comunidade científica da sociedade e é desenvolvida por meio de parceria entre importantes instituições do estado, dentre as quais Fiocruz Minas, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC), Biominas e Parque Tecnológico de Visçosa (TecnoPARQ). Intitulado Comunicação da ciência: a proposta da Rede Lide, o evento contou com apresentações dos representantes das instituições que integram a rede e ainda dos jornalistas Bernardo Esteves, da revista Piauí, e Maísa Caldeira, da TV Record Minas, que, durante toda a manhã, compartilharam conhecimentos e reflexões.

O objetivo da Rede Lide é promover cursos, oficinas, capacitações, prêmios de jornalismo, entre outras ações (Foto: Fiocruz Minas)

 

Abrindo as apresentações, a gerente de Desenvolvimento Institucional do BH-TEC, Cristina Guimarães, destacou que a Rede Lide nasce com o propósito de fazer conexões de forma somar esforços para tornar a ciência mais próxima da sociedade. Ela também contou que uma das principais atuações será o fortalecimento das relações entre mídia e comunidade científica, com o intuito de promover uma divulgação da ciência, tecnologia e inovação mais eficaz e acessível. “Vamos realizar uma série de ações, como cursos, oficinas, capacitações, prêmios de jornalismo, entre outras. Queremos colocar CT&I na boca do povo”, afirmou.

A pesquisadora e coordenadora dos programas de Divulgação Científica e Extensão da Fiocruz Minas, Cristiana Brito, que também é secretária regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), comentou sobre a importância da divulgação científica em saúde. Mostrando uma impactante imagem de um cemitério, em Manaus, durante a emergência sanitária, a pesquisadora lembrou que a pandemia da Covid-19 foi um divisor de águas, que gerou uma demanda enorme por informações por se tratar de uma doença nova, atingindo uma quantidade enorme de pessoas e com risco de morte. “Esse cenário gerou incerteza, insegurança e busca por informações, fazendo com que a ciência tivesse que repensar seus ritos. Foi necessário encurtar prazos, levando à disseminação de preprints. É um cenário que culmina num tsunami de informações, que a OMS chama de infodemia. Há uma grande quantidade de informações sendo disseminada, grande parte sem embasamento científico, as chamadas fake news, causando um impacto desastroso”, explicou.

Ao falar sobre os impactos, a pesquisadora apresentou um gráfico que mostra que a taxa de letalidade de Covid-1 no Brasil foi bem maior que a taxa média mundial. Cristiana também falou sobre a hesitação vacinal que vem ocorrendo nos Brasil nos últimos anos, tendo como consequência o risco da volta de doenças, como sarampo e poliomielite. “O Ministério da Saúde inclusive lançou uma campanha pela reconquista das altas coberturas vacinais, pois sabemos que quando havia uma alta cobertura, tínhamos uma baixa incidência de doenças infecciosas. Destaco, então, a importância da divulgação científica e, principalmente, de capacitações”, enfatizou.

A pesquisadora e diretora de Divulgação Científica e Educação Inclusiva da UFMG, Débora D’ávila Reis, trouxe em sua apresentação uma imagem da pandemia de Covid-19, lembrando que foi uma época em que a transmissão de informações com fundamentação científica teve o objetivo de salvar vidas. Ela também destacou que a divulgação científica deve formar consciência crítica e, dessa forma, é importante ir além da divulgação dos resultados, abordando outros aspectos. “A produção da ciência é lenta. A ciência está imersa em incertezas. A ciência produz verdades provisórias e contestáveis, é cheia de riscos e controvérsias. A ciência não é neutra e está imersa em uma rede de disputas e interesses políticas e econômicas. Esses são alguns aspectos que precisam ser colocados, se quisermos formar consciência crítica e estabelecer laços mais fortes com a sociedade”, ressaltou.

A agente de comunicação e marketing do TecnoPARQ Laísse Nicácio abordou a atuação do TecnoPARQ e destacou a importância da comunicação, ao agir formando e fortalecendo elos entre os diferentes atores que compõem o ecossistema de inovação. A gerente de Operações e Parcerias da Biominas, Isabela Allende, apresentou o trabalho da Biominas e ressaltou que a divulgação tem o potencial de impulsionar e fortalecer parcerias, ao mostrar que a ciência pode melhorar a vida das pessoas.

Mídia

A jornalista da TV Record Minas Maísa Caldeira falou sobre sua experiência televisiva e contou como lida com o desafio de noticiar ciência, tecnologia e inovação, diante da rotina agitada de uma redação de TV. Mostrando diversas matérias sobre pesquisas realizadas pela TV Record, Maísa destacou que, ao fazer uma reportagem sobre descobertas científicas, o jornalista atua como tradutor e, por isso, deve compreender com exatidão o que está sendo relatado para passar ao público as informações com uma linguagem acessível.

Repórter da revista Piauí especializado em ciência e ambiente, o jornalista Bernardo Esteves fez uma série de provocações, que, mais do que trazer respostas, tiveram por objetivo propor reflexões. Apresentador do podcast A Terra é redonda (mesmo), Bernardo destacou que, ao divulgar a ciência, a imprensa precisa repensar seu papel. Ele mostrou algumas desinformações que passam por agência de checagem de notícias e questionou: É nosso papel negar o óbvio?

Esteves afirmou que o jornalista, ao cobrir ciência, precisa analisar o peso de cada pesquisa, considerando que um estudo de caso e um estudo randômico longitudinal são bastante diferentes. Ele também destacou a importância de avaliar quem são as fontes e procurar analisar a que interesse elas estão servindo. Segundo o jornalista, há algumas figuras que se apresentam como cientistas e negam o aquecimento global, mas, ao apurar melhor quem são essas pessoas, descobre-se que elas fazem palestras pelo país financiadas pelo agronegócio. “A imprensa precisa chamar atenção para isso”, ressaltou.

O jornalista também disse que a imprensa gosta de estimular as controvérsias, mas é preciso ter cuidado com as falsas controvérsias. Ainda falando sobre as mudanças climáticas, ele questionou programas que levam entrevistados para negar o aquecimento global, quando a quase totalidade dos estudos científicos mostram que o aquecimento é real. “Se diante de 100 estudos, 2 ou 3 mostram o contrário do que os outros 97 apontam e você resolver dar espaço para eles, então vai ter que dar espaço para os outros 97 também, para equilibrar essa balança”, afirmou.

Antes de encerrar o evento, os palestrantes interagiram com a plateia e responderam a perguntas. Prestigiaram o encontro a pró-reitora da UFMG, Cláudia Mayorga, o representante do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Tiago Braga, e a coordenadora de Divulgação Científica da Fiocruz, Cristina Araripe.

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