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Curso de educação infantil chega a sua 36ª edição

04/04/2024

Eduardo Müller

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“Só quem tenta o absurdo é capaz de alcançar o impossível”. A frase do escritor e filósofo espanhol, Miguel de Unamuno, foi citada por Sérgio Balsante Santana, estagiário da Creche Fiocruz, durante sua apresentação na aula inaugural da 36ª edição do curso de desenvolvimento profissional em educação infantil, promovido em parceria pela Creche Fiocruz e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (Poli). O evento abordou a acessibilidade e a inclusão em espaços educativos.

A frase de Unamuno simboliza a trajetória de vida de Sérgio, que perdeu a visão aos 40 anos de idade, e se viu diante da necessidade de recomeçar o aprendizado de ações básicas da vida, como escovar os dentes, vestir uma roupa e sair de casa. Nessa sua readaptação à vida, Sérgio relatou os inúmeros obstáculos que impedem a acessibilidade na sociedade. “A maior barreira que encontro não é a arquitetônica, mas a atitudinal. Sempre é a pessoa. Pensar no respeito e na empatia de se colocar no lugar do outro. Não me exclua com atitudes porque me incluo em qualquer lugar”, disse Sérgio. Para ele, o processo de inclusão das pessoas com deficiência passa pelo convívio. “Ele acontece e se transforma todos os dias. Depende do indivíduo e do que ele está disposto a encarar”, afirmou Sérgio, destacando que o primeiro direito a ser reativado depois de uma perda da visão é o de ir e vir.

Leonardo Santos também é deficiente visual. Ele trabalha na Coordenação de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas (Cedipa), atuando em um eixo de enfrentamento aos capacitismos. “Quero contribuir para que as crianças que estão na Creche Fiocruz, para que as pessoas que vierem depois de mim, tenham um caminho com menos barreiras de todos os níveis, com menos dificuldades, com menos preconceitos e que essas pessoas tenham orgulho do que elas são. Que essas pessoas saibam que elas não devem nada a ninguém única e exclusivamente por serem pessoas com deficiência”, falou Leonardo. Entusiasta da educação inclusiva, Leonardo, que nasceu com deficiência visual, comemorou a iniciativa da Creche e do Poli de abordar a acessibilidade e a inclusão na aula inaugural. “Eu considero importante que a educação inclusiva já seja uma temática abordada desde a infância, por pessoas que abordam e lidam com essa criança bem nesse início, saindo um pouco mais dos convívios familiares para um convívio mais diverso, mais coletivo”, afirmou Leonardo.

Acessibilidade

“Toda vez que colocamos uma medida de acessibilidade, ela beneficia várias pessoas”, disse Hilda Gomes, coordenadora da Cedipa. Hilda explicou as diferenças entre as seis dimensões das medidas de acessibilidade: arquitetônica, comunicacional, metodológica, instrumental, programática e atitudinal. Para ela, a atitudinal é a mais importante. “São práticas sociais e culturais. Tem dimensão política. Não há neutralidade. É preciso implementar

outras perspectivas, construir novas formas de olhar, de entender e de significar a história para a construção das identidades”, afirmou Hilda.

Sônia Regina Rocha é psicóloga no Instituto Benjamin Constant (IBC), instituição centenária ligada ao Ministério da Educação e referência em reabilitação e educação especializada de pessoas com deficiência visual. “Como reinventar a vida e continuar sem a visão?”, questionou Sônia, que atua com foco em grupos de pessoas que perderam a capacidade de enxergar por motivos variados. A resposta passa pelo entendimento de que não há um perfil definido de pessoa com deficiência visual. Sônia relatou também a existência de uma série de obstáculos que impedem a permanência das pessoas em um programa de reabilitação. Essas barreiras vão desde questões comunicacionais, passando por dificuldade de deslocamento e a necessidade de ter um acompanhante no período em que acontecem os encontros no IBC.

Mesa de abertura

Silvia Motta, diretora da Creche Fiocruz, celebrou os 38 anos de criação do curso de desenvolvimento profissional em educação infantil. Ela lembrou que somente no período da pandemia não houve edição da capacitação que já formou cerca de 2.500 pessoas. “Tentamos trazer a vivência em uma creche, no chão da escola”, disse Silvia, destacando os três atores principais na educação infantil: criança, família e os trabalhadores. “A creche se cuida. Nenhuma criança pode ser cuidada se o trabalhador não estiver sendo cuidado. Precisamos ouvir para cuidar e nosso objetivo é cuidar de cada um de vocês”, falou Silvia para as alunas do curso.

Ingrid D’Avilla Freire Pereira, vice-diretora da Poli, falou da alegria em receber os participantes do curso na Escola, e lembrou que a trajetória da unidade está diretamente relacionada ao cuidado. Ingrid destacou a necessidade de entender que o cuidado não está dissociado do trabalho. “Cuidado é trabalho, mais do que o atributo de amar conhecer”, disse, destacando que é necessário pensar sua valorização, reconhecimento e garantias, como por exemplo, a contagem do tempo previdenciário.

O coordenador de desenvolvimento de pessoas da Cogepe, Nelson Passagem, falou dos desafios de tornar a Fiocruz uma instituição mais acessível. Para ele, a Fundação não é tão distinta em relação a outras instituições públicas quanto a questões de acessibilidade. Nelson frisou que há “um compromisso claro da instituição no enfrentamento dessa questão” e que a Cogepe é um elemento importante nesse processo. Nelson lembrou dos esforços institucionais e citou a tese 7 do Congresso Interno, que trata de diversidade e equidade no mundo do trabalho.

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