Fiocruz

Fundação Oswaldo Cruz uma instituição a serviço da vida

Início do conteúdo

Prospecção de política de cuidado revela agravos à saúde de jovens


11/03/2024

Eric Andriolo (Agenda Jovem Fiocruz)

Compartilhar:

A Secretaria de Saúde Pública e a Subsecretaria de Juventude do Rio Grande do Norte anunciaram os principais dados sobre demandas de saúde da juventude potiguar. Entre os destaques estão casos de internação de meninas e mulheres após o parto, bem como a violência, que atinge principalmente jovens pardos e pretos. Jovens e adolescentes representam aproximadamente 30% da população do estado, com 3,3 milhões de cidadãos, sendo que jovens são 23% e adolescentes são 7%.

Os resultados fazem parte da prospecção de uma política de cuidado para juventude e adolescência para o Sistema Único de Saúde (SUS) no Nordeste, fruto de uma parceria entre governos da Bahia, do Ceará, do Rio Grande do Norte e do Recife com a Agenda Jovem Fiocruz e o Centro de Saúde Escola Samuel Barnsley Pessoa (CSEB) da Faculdade de Medicina da USP.  No Rio Grande do Norte, o Observatório Infanto Juvenil em Contextos de Violência (Obijuv) da UFRN também integra a iniciativa. 

A ideia é responder às demandas em saúde de adolescentes e jovens a partir da atenção primária, tendo como inspiração a Linha de Cuidado para Adolescentes e Jovens (LCA&J) implementada em São Paulo. A prospecção permite que cada estado identifique as demandas locais e decida como direcionar as políticas de saúde para esse público. É aquilo que os especialistas chamam de política “ascendente”: que é feita de baixo para cima.

“As construções ascendentes têm grande potencialidade de responder às necessidades locais. Quando vamos ao território, temos a possibilidade de construir caminhos para que os profissionais tenham direções mais efetivas para encaminhar os pacientes”, afirma a pesquisadora responsável pela prospecção da Linha de Cuidado no RN, Pryscylla Fideles.

A região de saúde de Mossoró foi escolhida como referência. Com a maior quantidade de jovens, essa área contém 146 unidades básicas de saúde e 9 centros de atenção psicossocial. Também apresenta números elevados de internações e mortes de jovens e adolescentes. 

Apesar de Mossoró abarcar 14% dos jovens e adolescentes potiguares, a região responde por 20% do total de óbitos por causas externas dessa população no RN. Nesse público, 76% das mortes foram causadas por agressões em 2021, de acordo com dados do SUS.

Violências e dificuldades no parto se destacam

Para elaborar uma linha de cuidado no Rio Grande do Norte, foi preciso mapear todas as 1.306 unidades de atenção básica e 55 centros de atenção psicossocial do estado. Os dados são de 2021. Nas mulheres, a gravidez é a principal causa, representando 80% dos casos, especialmente entre adolescentes. O recorte racial também é importante: 73% dessas mulheres eram pretas. O parto representa 10% das causas de morte entre mulheres adolescentes e jovens no RN. Segundo os pesquisadores, isso é evidência de problemas na qualidade do cuidado pré-natal. 

Entre os homens, chama atenção o número de casos de violência, especialmente entre pardos e pretos. “Causas externas” como acidentes, envenenamentos e violências são os principais motivos de internação de jovens e adolescentes, representando 75% dos casos de morte nesse grupo, especialmente entre pardos (77%). Pessoas pardas são 51% da população potiguar. 

Para o subsecretário de Juventude do Rio Grande do Norte, Gabriel Medeiros, os dados são importantes para incluir jovens nas políticas de saúde: “A juventude muitas vezes é invisível para as políticas públicas. Especialmente na saúde, em função da tese de que o jovem não adoece. Produzir dados e elaborar uma política estruturante do SUS para a juventude é importante para desmistificar essa compreensão”. Afirma. 

Dados do SUS revelados pela Fiocruz em dezembro revelam agravos à saúde dessa população. Jovens representam um terço das vítimas de acidentes de trabalho. Problemas de saúde mental são a primeira causa de internações entre homens jovens. Já para as mulheres, um dos principais motivos é a esterilização.

“Os dados de saúde mental, saúde sexual e reprodutiva e saúde do trabalhador, para citar três exemplos, comprovam que a experiência juvenil brasileira impõe agravos à saúde que justificam atenção especial das políticas públicas a esse setor”, complementa o subsecretário.

Linha de Cuidado 

Linhas de Cuidado são uma estratégia de organização da atenção à saúde no SUS, que busca articular toda a rede de serviços de um território a partir da atenção Básica para o cuidado a uma determinada população ou questão de saúde. O objetivo da Agenda Jovem Fiocruz, da Equipe de Pesquisa da LCA&J do CSEB e das secretarias dos estados é desenvolver uma Linha de Cuidado especificamente para jovens e adolescentes, público que recebe pouca atenção dos serviços de saúde.

“Jovens têm necessidades distintas de acordo com a faixa etária e outros marcadores sociais. Por exemplo, nem todo jovem é adolescente”, explica o coordenador da Agenda Jovem Fiocruz, André Sobrinho. “Apesar de sofrerem vários agravos à saúde, pessoas jovens apresentam dificuldade em acessar os serviços. Por isso, uma Linha de Cuidado pode oferecer um melhor acolhimento a essa população. Isso requer alinhamento entre pesquisa e gestão, o que abre muitas possibilidades de adaptação ao território”, completa.

Voltar ao topoVoltar