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Espaços de poder feminino são tema de debate no Dia da Mulher

12/03/2024

Eduardo Müller (Cogepe)

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Na sexta-feira (8/3), Dia Internacional da Mulher, a Fiocruz promoveu roda de conversa para debater a presença feminina nos espaços institucionais de poder. O evento foi organizado pelo Gabinete da Presidência, com apoio da Coordenação-Geral de Gestão de Pessoas (Cogepe) e a Coordenação de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas (Cedipa). Assista à gravação no canal da Fiocruz no YouTube.

O presidente da Fundação, Mario Moreira, reafirmou o compromisso da Fiocruz com a defesa dos direitos das mulheres. “A Fiocruz tem voz nessa luta. Ela trabalha na arena política, defendendo uma sociedade mais justa, sem preconceito, inclusiva e igualitária. Eu tenho debatido a necessidade de estabelecermos uma relação plena de coerência com os valores que defendemos perante a sociedade e as nossas práticas institucionais”, disse Mario. 

Fiocruz e as mulheres
A coordenadora de gestão de pessoas da Fiocruz, Andréa da Luz, falou da importância de ampliar o entendimento sobre o que são os espaços de poder. Para Andréa, eles não devem ser entendidos somente como lugares de direção, mas sim como locais que façam a diferença em relação a toda uma “história do patriarcado que por muito tempo dominou os espaços de poder”. A coordenadora enfatizou que as mulheres são a maioria da força de trabalho da Fiocruz, independentemente do vínculo funcional. “Em relação às servidoras, nós somos 56% e ocupamos 53% dos cargos de liderança. Isso é uma vitória. Claro que ainda temos segmentos em que precisamos avançar, por exemplo, nas unidades técnico-científicas”, disse Andréa.

A chefe de gabinete da Presidência, Zélia Profeta, falou sobre a organização das atividades institucionais que marcam o Dia Internacional da Mulher. “É importante celebrar o 8 de março, mas queremos fazer com que ele se estenda ao longo do ano em uma perspectiva da reflexão e contribuição com políticas do governo federal”, disse. A chefe de gabinete citou a Política Nacional de Cuidados como fundamental para avançar no enfrentamento da desigualdade e que contribui para a equidade de gênero. “A provisão do cuidado no Brasil é definida como privada e quem assume na sua imensa maioria são as mulheres. Entre as mulheres que estão cuidando a maior parte é negra. É também um trabalho não remunerado. Uma política que trate dessa questão é fundamental”, afirmou Zélia. 

A vice-presidente da Asfoc, Lucia Helena da Silva, falou sobre sua trajetória profissional na Fiocruz, iniciada em 1989. “Meu espaço é o administrativo, sempre fui secretária. Agora, eu estou pela primeira vez sendo vice-presidente, estou em um espaço em que aprendo, em que há valorização, há cuidado. Essas são características da nossa instituição”, afirmou Lucia. 

Experiências diversas
A roda de conversa foi mediada por Hilda Gomes, gestora da Cedipa, e teve a participação de Anamaria Corbo, diretora da Escola Politécnica Joaquim Venâncio (EPSJV), Marilda Gonçalves, diretora do Instituto Gonçalo Muniz (IGM), Bruna Catalan, bolsista da Coordenação de Saúde do Trabalhador (CST/Cogepe) e Jenifer Kelly, técnica de inovações farmacêuticas.

Hilda Gomes lembrou que muitas pessoas oferecem flores às mulheres para celebrar a data. Para Hilda, o gesto é uma forma de carinho, mas é necessário avaliar que o 8 de março “não é um dia romântico, mas sim um dia político”. Hilda lembrou que apesar de se ter na Fiocruz um contingente maior de mulheres trabalhando em todas as frentes, nessa dimensão [de espaços de poder], o quantitativo é maior de mulheres brancas, e menor de mulheres negras e pardas. “Isso é um reflexo da sociedade. Em uma pirâmide de análise da composição étnico-racial do Brasil, as mulheres negras estão na base, entendendo que são as que têm menor acesso à saúde de qualidade, à educação, à moradia”, explicou Hilda.

Marilda Gonçalves prestou uma homenagem a sua mãe. “Ela sempre foi uma pessoa muito forte. Ela olhava para mim e para minhas irmãs e falava: vocês podem se casar, ter filhos, podem fazer o que quiserem, mas primeiro vocês têm que ser mulheres independentes. Eu sempre tive o foco de ser uma mulher independente, conquistar os meus espaços e estar na luta. Não desistir, persistir sempre foi uma meta importante na minha vida”, disse Marilda, que foi a primeira mulher a estar na diretoria do IGM. 

Bruna Catalan, bolsista com deficiência visual, falou sobre os obstáculos que passou para conquistar sua autonomia pessoal e profissional. “Eu fui uma pessoa com deficiência que até meus 22 anos estive com uma família superprotetora. Chegou um momento em que me despertou a vontade de ter a minha autonomia, de ter a minha liberdade”, relatou Bruna. Sua decisão, contudo, acabou por trazer consequências. Bruna disse que durante três anos perdeu o convívio familiar. “Eu sofri muito quando criei a minha autonomia. Não foi fácil. Era tudo muito novo, não tinha apoio de ninguém. Eu vi que a vida não era um conto de fadas. Eu passei a ter preocupações, responsabilidades que eu não tinha”. 

A partir da sua experiência pessoal, Anamaria Corbo falou sobre mulheres que assumem papel de liderança. “Não podemos baixar a cabeça. Não é fácil estar aqui, tivemos que brigar muito para estar aqui. No caso da Fiocruz, ela viabiliza espaços, principalmente depois da gestão do Arouca, de participação, seja no âmbito da Fiocruz ou das unidades”, falou Anamaria. A diretora refletiu sobre o processo de criação de uma liderança. “Não posso me autodenominar liderança, isso é um reconhecimento sobre algo que você faz e que interfere em um processo mais coletivo. Sempre uma referência que vem de fora. Não é você que constrói. A gente forma liderança no processo”, explicou Anamaria. 

Jenifer Kelly foi a primeira mulher trans em Bio-Manguinhos e, desde que realizou sua transição de gênero, empenhou-se na conquista de espaços das pessoas trans. “Todo o pioneiro tem uma luta porque é o primeiro ou a primeira. Bio-Manguinhos não estava preparada para receber esse público. Eu sofri diversas situações que não envolveram somente o preconceito”, relatou Jenifer. Ela conta que virou referência na unidade pela sua atuação na defesa das pessoas trans. “Nossa luta não foi em vão. Abriu oportunidade para essas pessoas trabalharem em paz. Para terem o direito de exercer a profissão que estudaram. Isso não tem preço e me orgulha muito”, concluiu Jenifer.
 

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