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Ciclo de diálogos com os trabalhadores aborda organização e saúde no trabalho em decorrência da pandemia


06/08/2020

Ascom/Cogepe

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Na manhã do último dia 29 de julho (quarta-feira), a Fiocruz – por meio da Cogepe – realizou o segundo seminário do ciclo de diálogos com os trabalhadores sobre questões relacionadas ao trabalho e à pandemia de Covid-19. O encontro virtual transmitido pelo Canal da Cogepe no Youtube para centenas de participantes abordou a organização do trabalho e saúde dos trabalhadores no atual contexto social e sanitário. Foram convidados ao debate o doutor em Saúde Pública, epidemiologista e pesquisador colaborador voluntário da UNB, Heleno Corrêa, e a mestre em Administração Pública e consultora dos programas de Desenvolvimento Gerencial e de Gestão de Pessoas da Escola Corporativa Fiocruz, Denize Dutra. Ao abrir a sessão, a coordenadora-geral de Gestão de Pessoas, Andréa da Luz, ressaltou o caráter reflexivo dos encontros. “É o momento de pararmos e nos perguntarmos: como estamos trabalhando?” indagou, antes de passar a palavra para a condução do mediador do seminário, o chefe do Departamento de Desenvolvimento de Pessoas da Cogepe, Nelson Viera. Clique aqui e assista ao vídeo com a íntegra do seminário.

Comportamento organizacional é aspecto fundamental 

O fortalecimento da capacidade de dialogar, ampliado com o advento do teletrabalho, pautou a etapa inicial da apresentação de Denize Dutra, consultora de desenvolvimento de carreiras. Denize entende o diálogo como sendo o grande alicerce desse novo processo de trabalho, em contrapartida ao modelo anterior sustentado em processos e controles. “Agora tem que haver uma mudança de paradigma da nossa relação com o trabalho, com a organização, fundamentada na confiança que só se estabelece com base no diálogo absolutamente transparente, substituindo os controles pelas metas muito bem definidas pela clareza e pelos acordos”, explicou a consultora. 

Para Denize, o avanço positivo nessa nova modalidade de trabalho passa não somente por questões que dizem respeito ao domínio, manejo e habilidade com sistemas tecnológicos, mas, sobretudo, pelo comportamento organizacional. A consultora defende que não basta somente o investimento material se não for trabalhada uma mudança de comportamento das pessoas. Nesse sentido, prossegue Denize, a autonomia deve ser fortalecida, sendo necessário para tanto repensar os próprios modelos de gestão para se obter resultados positivos, produtividade, satisfação e realização das pessoas.  

A convidada propôs uma retrospectiva do avanço do teletrabalho com objetivo de refletir e tirar lições desse processo: como ele era executado antes, como se ampliou de forma abrupta durante o atual momento de isolamento social, e como seguirá sendo utilizado após o fim do período pandêmico. A consultora destacou as experiências ambíguas decorrentes da experiência massiva de teletrabalho, em que por um lado há a adaptação e satisfação dos trabalhadores à nova rotina, mas por outro existe o desenvolvimento de ansiedade, medo, solidão. Para fazer essa experiência ser produtiva, Denize pontua a necessidade do desenvolvimento de competências emocionais, ligadas à autogestão, gestão do tempo, da energia e os cuidados com a saúde física e mental, destacando que vivemos um período em que as “trocas e compartilhamentos das pessoas ficam mais evidenciadas”. 

Os desafios da mobilização coletiva em tempos de isolamento

Segundo conferencista a palestrar, o pesquisador e epidemiologista Heleno Corrêa comentou a importância da mobilização e organização dos trabalhadores e das novas formas de organização do trabalho decorrentes da pandemia. O convidado ressaltou que o trabalho remoto, antes uma opção ou possibilidade, virou uma obrigação para diversos trabalhadores sem que houvesse preparação adequada para tais mudanças, que podem impactar em especial o sentido coletivo do trabalho. Recuperando reflexões do debate anterior, Corrêa lembrou a fala do sociólogo do trabalho Ricardo Antunes, acerca da transferência do “inferno do trabalho para casa”, ao comentar a quebra da sociabilidade que o distanciamento dos colegas gera. Mal que chamou de “dor invisível”.

Outra preocupação demonstrada em sua fala foi com os excessos e sobrecarga que esses trabalhadores podem ser submetidos ao transformarem suas residências em locais de trabalho. E voltou a frisar a importância das instituições sindicais na proteção dos direitos sociais dos trabalhadores: “o capitalismo já aprendeu que podemos trabalhar sozinhos”, frisou, ao refletir sobre a possibilidade de acúmulo de funções e cobrança intensa por rendimentos. “Nada aterroriza mais o trabalhador que está em casa do que as palavras metas e produtividade”, afirmou ao convidar os participantes a refletirem sobre uma nova organização social humanitária e sindical. A fala do convidado se baseou em um texto de sua autoria, disponibilizado para a organização do evento para posterior distribuição. Acesse-o aqui (link).

Ao término das apresentações, o mediador Nelson Passagem resgatou alguns dos pontos que foram discutidos no primeiro seminário, realizado em 22 de julho, para que servissem de norte ao debate que se sucedeu. A lembrança do debate anterior visou sua ampliação com as impressões trazidas pelos participantes do segundo evento, com “a proposta de ir se costurando uma tessitura, uma rede ampliada de diálogo que se inclui de maneira articulada e coerente os nossos debates internos”.

A coletividade do trabalho como um valor institucional

Entre as questões trazidas por Nelson, destaque para o cenário anterior ao da pandemia de intensificação de perdas de direitos, de desigualdades, elevação das taxas de desemprego e informalidade, ampliados com o início da circulação do vírus no país. Nelson recordou também fala da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, sobre o atual momento de ruptura com profundos impactos em todas as esferas da vida social, mas que afeta de maneira variada as diferentes classes sociais e tem consequência diversificada pela discriminação de gênero e racismo, tema complementado pela vice-presidente da Asfoc-SN, Mychelle Alves, naquela ocasião. 

Ao encerrar a atividade, a coordenadora da Cogepe voltou a enfatizar a coletividade do trabalho, seja ele no formato presencial ou remoto: “esse é um valor que precisamos preservar na Fiocruz. Não podemos traduzir o trabalho a uma questão individual, instrumental. Ele precisa ser coletivizado”. Na sequência, convidou toda a comunidade interna a prosseguir dialogando conjuntamente acerca de questionamentos e incertezas que o período gera e finalizou sua fala destacando a necessidade de irmos além das burocracias legais ou ferramentas de comunicação com vistas a discutir e firmar acordos internos de trabalho que incluam a todos em suas especificidades, anseios, direitos e deveres.

Saúde mental em pauta

O terceiro seminário do ciclo Diálogo com os Trabalhadores acontecerá no dia 12/8 (quarta-feira), no mesmo horário dos anteriores (10h), com o tema: Os aspectos psicossociais do mundo do trabalho na pandemia: novos sujeitos trabalhadores? Estão confirmados como palestrantes os psicólogos: Luciana Cavanellas (CST/Cogepe), Marcello Rezende (CST/Cogepe) e Maria Fabiana Damásio, diretora da Fiocruz Brasília. O evento terá transmissão pelo canal da Cogepe no Youtube, e pode ser acessado pelo link: https://bit.lydialogotrabalhadores3. A organização da iniciativa tem apoio da Escola Corporativa Fiocruz e da Assessoria de Comunicação da Cogepe.

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