19/09/2005
Discussões do congresso serão distribuídas em seis painéis temáticos
Durante os três dias de congresso, o programa científico e as sessões paralelas abordarão a discussão sobre as seguintes questões:
Painel 1 - Como podemos conseguir informação para todos?
As organizações voltadas para o desenvolvimento mundial, as autoridades e a sociedade civil dos países em desenvolvimento concordam que o uso do conhecimento e da informação científica é essencial para o desenvolvimento sustentável. E não só isso. É primordial para superar as iniqüidades sociais, em particular na saúde.
Como fazer com que a informação produzida no mundo na área de saúde se transforme em benefícios concretos à população? O primeiro passo é conseguir disponibilizar essa informação a todos, diminuindo a brecha social existente.
Quais têm sido os avanços reais na cooperação internacional para o acesso eqüitativo à informação científica e o conhecimento em saúde? Como a sociedade civil está se convertendo em um ator decisivo, ao se apropriar dos benefícios da crescente disponibilidade da informação e do conhecimento?
Essas questões serão debatidas por especialistas, como Paulo Ernani Vieira, que apresentará o que o SUS está fazendo nesse sentido. Além dele, Adama Samasséko, presidente da Cúpula Mundial sobre Sociedade da Informação das Nações Unidas falará sobre inclusão digital.
Painel 2 - Como combinamos o rigor das evidências científicas com a participação democrática nas decisões relacionadas com a saúde?
O conhecimento científico é um processo cumulativo que evolui continuamente, trazendo evidências para apoiar o processo de tomada de decisão. Há uma contradição entre as políticas baseadas em evidências e a participação pública no processo de tomada de decisão.
Quais são os desafios para estabelecer políticas de saúde baseada em evidências científicas? Quais são os desafios para os serviços de saúde e para os profissionais da saúde?
Neste painel, Ian Chalmers, ex-presidente da Cochrane e editor da James Lind Library, no Reino Unido, irá apontar as falhas no processo de pesquisas que, por vezes, resultam em desperdício de dinheiro público, além de mostrar como sair desse círculo vicioso.
Junto com ele, Anca Dumitrescu, diretora do escritório da OMS para Europa apresentará o que a organização pensa e quais as políticas que propõe para a adoção de evidências científicas na prática.
Painel 3 - e-Saúde e e-Paciente: surge uma nova cultura de participação nas decisões de saúde?
A tecnologia da comunicação chegou ao consultório médico. Os profissionais de saúde estão prontos para o paciente virtual?
As tecnologias da informação têm apoiado, por muitos anos, a maior parte do processo relacionado com o planejamento em saúde, a promoção, a pesquisa, a educação, a comunicação e, com mais repercussão pública, a atenção em saúde. Agora, ela avança para a relação direta entre médico e paciente. Prontuários eletrônicos, informação sobre saúde disponível na internet, exames e consultas via e-mail, são apenas alguns aspectos dessa nova relação.
O aumento recente do uso dos dispositivos, procedimentos e da comunicação nos processos de saúde provocará uma mudança na maneira em que a saúde é percebida e atendida? É possível medir o impacto social das tecnologias de informação? Como a tecnologia da informação pode contribuir para empoderar e transformar os serviços de saúde?
Todos esses tópicos serão discutidos pelo consultor da OMS Salah Mandil, que mostrará como essa relação está se construindo nos Estados Unidos e na Europa, e por Sally Stansfield, da Fundação Bill Gates.
Painel 4 - Como garantimos que as bibliotecas de saúde cumpram sua vocação de prover as necessidades de informação em saúde da sociedade?
O volume de informações produzidas e disponibilizadas sobre saúde é imenso e disso todos já sabem. Que a qualidade dessas informações pode variar do máximo para o mínimo, especialmente se considerarmos a internet, também é um assunto antigo.
O que resta saber é como as pessoas irão lidar com esse volume de conhecimento (que gera estresse, depressão, sensação de falta de informação) e de que maneira irão classificar e escolher o que é melhor.
A biblioteca, que antes funcionava principalmente como um repositório de conhecimento, agora deve assumir o papel de classificador dessa informação. É a intermediária entre o mar de dados disponível e quem precisa de conhecimento confiável. As bibliotecas – físicas ou virtuais – estão prontas para isso? Como não cair na tentação de ser o filtro, a “censura”, da informação?
Diretores das principais bibliotecas de medicina do mundo estarão juntos para debater sobre o assunto. O destaque do painel é Mary Joan Tooey, presidente da Medical Library Association, dos Estados Unidos.
Painel 5 - A comunicação científica nos tempos de open access: onde estamos e para onde vamos?
O processo de publicação de revistas e periódicos científicos mudou com a chegada da internet. Como outros setores, a comunidade científica percebeu que se suas publicações não estivessem na rede, “não existiriam”. Atualmente, quase todas as grandes revistas científicas estão na web. Mas a que preço?
Quando se discute a informação para todos – e a internet é um veículo desenhado para ser democrático em sua distribuição e acesso à informação – , não há como pensar que a ciência esteja fechada na web, disponível para poucos. Daí a criação de movimentos como o open access, que defende o acesso gratuito dos artigos científicos publicados nas revistas eletrônicas.
Espera-se que os modelos relacionados com o open access convertam-se em modelo dominante em um futuro próximo, já que respondem aos interesses dos atores principais na estrutura da comunicação científica, isto é, autores, leitores, instituições financiadoras de pesquisa etc. Espera-se que a corrente principal (mainstream) da publicação científica de países desenvolvidos seja remodelada mais radicalmente nos próximos anos como conseqüência da adoção dos movimentos de open access.
Os editores privados e as sociedades científicas, especialmente dos países desenvolvidos, obtêm lucro com o negócio de revistas científicas. Eles adotarão o acesso gratuito às suas publicações na internet? Quais as alternativas para sua sobrevivência? Seguirão eles conduzindo a corrente principal da comunicação científica dos países desenvolvidos?
Nos países em desenvolvimento, o open access está surgindo como a melhor escolha dos editores para conseguir visibilidade, acessibilidade, qualidade, uso e impacto. Haverá contribuição da rede internacional para o avanço, a abertura e, ainda, para substituir a atual corrente principal de editores científicos de países desenvolvidos? Os países menos desenvolvidos terão participação igualitária no acesso e na disseminação da informação e do conhecimento científico?
Esse importante tema da área da pesquisa científica e da política das ciências no mundo será discutido por especialistas que defendem o acesso aberto e mostram como ele é possível. O diretor da Bireme, Abel Packer, apresentará a experiência do SciELO, que além de manter suas revistas abertas, contribuiu para que muitas delas passassem a ser consideradas no mainstream científico.
Johannes Velterop, do Reino Unido, afirma que poder não é conhecimento acumulado, mas compartilhado. Ele aponta para uma forma de pensamento que interfere não só na área científica, mas em todas as relações sociais.
Painel 6 - As tecnologias de informação permitirão que todos sejamos autores e usuários, publicando e acessando à informação de nosso interesse?
O último painel do ICML9 fala sobre tecnologia da informação (TI). As empresas de TI concorrem dia a dia para desenvolver novas ferramentas que permitam que o usuário da internet seja também produtor na rede. Além disso, são essas ferramentas de tecnologia da informação que ganham espaço quando se fala em buscar informação relevante na internet.
A publicação de informação – via texto, áudio, vídeo etc. – se torna cada vez mais simplificada. Quais são as iniciativas mais bem sucedidas na área de TI? Como essas tecnologias podem mudar ainda mais a relação da sociedade com sua saúde?
Para conversar sobre isso, dois dos principais casos de tecnologia da informação para o usuário leigo estarão presentes: Jimmy Walles, presidente da Wikimedia, criador da Wikipédia, a primeira enciclopédia escrita de forma colaborativa pelos internautas, e Anurag Acharya, responsável pelo Google Scholar, a ferramenta de busca que conseguiu fazer parte do cotidiano de 90% dos internautas e serve de comparação para outros buscadores.