01/02/2018
Fonte: Fiocruz Minas
Um estudo da Fiocruz Minas mostrou que os roedores, como os ratos silvestres, estão entre os principais hospedeiros da Leishmania braziliensis, parasito responsável por causar a maior parte dos casos de leishmaniose cutânea no Brasil. A pesquisa, publicada recentemente na revista Plos One, demonstra a importância de incluir esses animais como participantes da epidemiologia dessa doença, que acomete cerca de 26 mil pessoas, todos os anos, no Brasil. O estudo é fruto da dissertação de mestrado de Gabriel Tonelli, aluno do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Fiocruz Minas, orientado pelo pesquisador José Dilermando Andrade Filho e coorientado pelo pesquisador Gustavo Paz.
Para fazer a investigação, os pesquisadores instalaram armadilhas na Reserva Particular do Patrimônio Natural Santuário do Caraça, importante ponto de ecoturismo localizado entre as cidades de Santa Bárbara e Catas Altas, em Minas Gerais, com o intuito de capturar pequenos mamíferos, suspeitos de serem reservatórios do parasito. No decorrer de um ano -entre julho de 2013 e julho de 2014-, eles capturaram 55 animais.
“Desses, cinco estavam infectados, o que representa 9% do total coletado. Nesta pesquisa, conseguimos isolar o parasito do hospedeiro, algo inédito em Minas Gerais, uma vez que, até então, só havia sido possível detectar o DNA do parasito nos roedores em tecidos parasitados”, explica Gabriel Tonelli. Segundo ele, os resultados foram obtidos por meio de uma série de análises, que incluiu testes moleculares e diagnóstico parasitológico por isolamento do parasito em meio de cultura.
A pesquisa apontou que os roedores apresentaram infecção não somente na pele, mas também no baço e no fígado. Entretanto, nenhum dos animais capturados apresentou sinal clínico da doença. “ Isso significa que eles carregam o parasito, mesmo não tendo nenhum sinal clínico, constatação que reforça a hipótese de que esses pequenos mamíferos podem ser reservatórios adequados para a L. braziliensis”, afirma José Dilermando.
O resultado da pesquisa aponta ainda para a possibilidade de que a região onde os roedores foram capturados seja uma área de transmissão silvestre do parasito, uma vez que estudos anteriores já comprovaram a existência, nesse ambiente, do vetor da doença.
“Dessa forma, alguns cuidados preventivos, como o uso de repelentes e vestuário adequado, devem ser adotados pelas pessoas que visitam o local. Vale ressaltar que o próprio Santuário já adota ações importantes, como o uso de armadilhas que impedem a circulação desses pequenos mamíferos nas áreas de hospedagem”, comenta Dilermando.
Mesmo com essas ações, estudos contínuos na região são importantes para monitorar a situação das possíveis infecções e transmissões, já que, além de ser ponto turístico, o Santuário é cercado por centros urbanos.
A pesquisa que mostra a importância dos roedores na epidemiologia da leishmaniose cutânea originou o artigo intitulado Leishmania (Viannia) braziliensis infection in wild small mammals in ecotourism area of Brazil [Leishmania (Viannia) braziliensis: infecção em pequenos mamíferos selvagens na área de ecoturismo no Brasil], que está disponível no site da revista científica Plos One.
A doença
A leishmaniose cutânea se caracteriza pelo aparecimento de lesões na pele ou nas mucosas do paciente. A doença é causada por protozoários, sendo transmitidos ao homem pelas fêmeas do flebotomíneo, popularmente conhecidos como mosquito palha, cangalhinha e birigui.
O principal sintoma é o aparecimento de lesões na pele, de forma arredondada, profunda, avermelhada e cresce progressivamente com o passar dos dias. Quando o parasito abriga a mucosa do indivíduo contaminado, as feridas aparecem no nariz, na boca ou, em casos mais graves, na garganta e no sistema da laringe do organismo.
A leishmaniose cutânea vem apresentando diferentes padrões de transmissão, relacionados, muitas vezes, à penetração do homem em focos silvestres.
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