20/03/2014
Ricardo Valverde / Agência Fiocruz de Notícias
A aula inaugural do ano letivo da Fiocruz de 2014, quando se completam 50 anos do golpe que derrubou o presidente João Goulart e instalou a ditadura civil-militar no Brasil, foi tomada pela emoção ao lembrar um tempo sombrio feito de autoritarismo, arbítrio, tortura, perseguições, censura e mortes. A palestrante, a historiadora e cientista política Heloisa Starling, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenadora do Projeto República, apresentou a conferência Arquivos da ditadura, na qual discorreu sobre os grandes silêncios que ainda são obstáculos para a construção da memória do golpe e enumerou alguns casos de horror que tão bem caracterizam os anos de chumbo.
Antes da participação da historiadora houve um painel que enfocou como a Fiocruz passou por aquele período de violação de direitos e a atuação, nos dias de hoje, da Comissão da Verdade da Reforma Sanitária, coordenada pela Abrasco e pelo Cebes. Durante o painel, debatedores que lutaram contra a ditadura ou que tiveram parentes que sofreram as consequências dessa opção também se emocionaram. À tarde, como parte das atividades da aula de abertura, foi inaugurado o museu itinerante Sentimentos da Terra.
Para Heloisa Starling, existem quatro grandes silêncios sobre o golpe de 1964: as relações entre os militares e grandes empresários; a violência do Estado contra populações e comunidades específicas e historicamente marginalizadas, como camponeses e indígenas; os arquivos militares que continuam em poder das Forças Armadas e aos quais não permitem acesso; e a formação do aparato da repressão (tortura). “É fundamental sabermos como a estrutura da repressão se sustentou. Era algo de cunho individual de alguns empresários mais afinados com o ideário dos militares, que ajudavam por si próprios, ou havia uma rede que operava essa conexão? Eu arrisco que talvez tenha existido agências que coordenassem essas atividades e fossem empregadas na repressão”, disse Heloisa.
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