24/07/2013
Fonte: Casa de Oswaldo Cruz
A apropriação de fenômenos religiosos, culturais ou sobrenaturais pela ciência ao longo do século 19, entre os quais o transe e a possessão espiritual, é o tema do artigo que abre a nova edição da revista História, Ciências, Saúde: Manguinhos (HCSM). A publicação traz ao todo 16 artigos, que discutem do uso da folha de coca por comunidades tradicionais às relações entre a sociedade tecnocrata atual e os aspectos técnicos e biológicos da ficção científica Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, publicada em 1932.
O primeiro artigo – Uma nosologia para os fenômenos sobrenaturais e a construção do cérebro ‘possuído’ no século XIX –, de Valéria Portugal Gonçalves e Francisco Ortega, analisa as pesquisas que buscavam estabelecer a localização cerebral de processos mentais. O texto parte dos estudos de Franz Anton Mesmer e seus discípulos, que desenvolveram o conceito de magnetismo, e passa pela criação da teoria da hipnose por James Braide, até chegar ao trabalho de Jean Martin Charcot, que marcou a inclusão da histeria entre as doenças.
No artigo Aproximaciones científicas al mestizo mexicano, os pesquisadores Carlos López-Beltrán e Vivette García Deister fazem uma análise das abordagens científicas do mestiço no país norte-americano, desde a época colonial até o período atual, marcado pelos estudos genéticos. Eles apontam duas trajetórias que confluem na ciência recente: a ideológica, que fez do mestiço o núcleo da identidade nacional mexicana, e a tecnocientífica, que o converteu em recurso de pesquisa privilegiado nas indagações de genética populacional humana.
A publicação contém ainda artigos sobre diversos outros temas, entre os quais: iniciativas internacionais de controle de epidemias na América do Sul; mortalidade por tuberculose na Argentina; desdobramentos em torno da morte em um mosteiro no Rio de Janeiro setecentista; ensino da medicina na Universidade de Coimbra no século XVI; políticas de saúde mental em Santa Catarina; o uso das plantas pelos povos do Norte dos Camarões; análise da produção científica em história da enfermagem no Brasil; a posição filosófica de professores perante o ensino de conceitos científicos; contribuição de Silva Coutinho às coleções geológicas do Museu Nacional.
Na seção Fontes, esta edição traz um artigo sobre a contribuição do Museu de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para o estudo da história da genética no País e da genética de populações humanas em particular. O texto discute o contexto de criação da instituição, aberta ao público em 2011, detalha as exposições organizadas e traz fotos do acervo. O artigo é assinado por Vanderlei Sebastião de Souza, Rodrigo Ciconet Dornelles, Carlos E. A. Coimbra Júnior e Ricardo Ventura Santos.
Em sua carta, o editor científico de HCSM, Jaime Benchimol, apresenta aos leitores os novos espaços virtuais da revista: a página no Facebook, o perfil no Twitter e o blog, que, em breve, ganharão versão em inglês. “Além de fortalecer a presença de HCSM em outras regiões do País e em outros países, tais braços online estimularão o acesso a artigos e aumentarão seu impacto nos indexadores internacionais”, afirmou Benchimol em sua carta.