26/08/2024
Leonardo Azevedo (CCS)
Transformação digital: inovação alinhada às políticas públicas foi o tema abordado pela secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, Ana Estela Haddad, e pela coordenadora-geral de Inovação e Informática em Saúde do DataSUS, Paula Xavier. As apresentações foram realizadas em atividade do Encontro de Inovação na Gestão, no dia 22 de agosto. O painel teve a moderação da vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado.
Ana Estela Haddad falou sobre o processo e estratégias de transformação digital da saúde no Brasil, para atender aos princípios e às diretrizes do SUS. Para ela, a inovação é o “motor” fundamental desse processo. “Eu acho que a inovação está na nossa atitude. É quando a gente não faz as coisas de forma repetitiva e é como a gente vem fazendo sempre. Então, essa atitude e essa orientação mental para questionar e, de repente, mudar o jeito de fazer as coisas, deixar a cabeça fluir e pensar de uma outra forma aquilo que a gente já faz, é inovação. E, às vezes, pode ser uma coisa disruptiva, completamente nova”, afirmou Ana Estela.
A secretária apresentou o Programa SUS Digital e explicou as diferentes estratégias disponíveis no país, como o aplicativo Meu SUS Digital; a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), que conta com mais de 1,8 bilhão de registros disponíveis; o Laboratório de Inovação em Saúde Digital; e o SUS Digital para profissionais, entre outros. “Nós também estamos trabalhando numa grande iniciativa e a Fiocruz é fundamental nessa iniciativa, que é um programa de formação e educação permanente para a saúde digital em larga escala”, disse.
Outra estratégia debatida na apresentação foi a Telessaúde, sistema de prestação de serviços de saúde a distância no SUS, criada com o objetivo de melhorar e expandir a rede de serviços de saúde e reduzir o tempo de espera para atendimentos e diagnósticos especializados, evitando deslocamentos desnecessários de pacientes e profissionais. Segundo Ana Estela, já são mais de 1,6 milhão de atendimentos realizados desde 2023 no país.
Ela falou ainda da expansão da telessaúde em comunidades quilombolas, indígenas e em favelas, como da Maré, no Rio de Janeiro, e a criação de novos núcleos, viabilizando os atendimentos em municípios de difícil acesso. “A gente pensa transformação digital no processo assistencial, mas ela pode e deve ter reflexos também na vigilância, na pesquisa e inovação, na formação e educação permanente e no processo de gestão”, ressaltou.
Ana Estela retratou ainda a questão da conectividade significativa no país, com as desigualdades no acesso entre os estados, os desafios e o trabalho realizado com outros ministérios e órgãos do Governo Federal nesta área. O conceito de conectividade significativa se refere à capacidade do cidadão de utilizar a internet para participar plenamente da sociedade.
De acordo com estudo realizado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, apenas 22% dos brasileiros com mais de dez anos têm condições satisfatórias de conectividade. As regiões Norte e Nordeste têm as piores condições de conectividade significativa, enquanto as regiões Sul e Sudeste têm os melhores índices de usuários.
“A transformação digital não é só telessaúde, não é só sistema de informação, e ela tem várias camadas. E todas as camadas precisam ser trabalhadas e atingidas de maneira integrada e coordenada para que você tenha as melhores práticas e realmente consiga fazer elas se tornarem realidade”, apontou Ana Estela.
RNDS e plataformas SUS Digital
A importância, os desafios e as iniciativas governamentais no campo da informação em saúde foram destacados na apresentação de Paula Xavier, servidora da Fiocruz, atuando como diretora do Departamento de Informação e Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS). Ela ressaltou que “o Brasil, de fato, se coloca globalmente como um dos países que tem uma das melhores infraestruturas de informação qualificada. Então, eu acho que nessa área de sistemas de informação, se a gente for destacar o maior desafio, sem dúvida alguma é superar essa fragmentação que a informação tem hoje no país”.
Segundo Paula, a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) permite a transição e a continuidade do cuidado. “Não importa em que nível de atenção o usuário foi atendido e não importa também que tipo de procedimento, se foi num hospital, se foi numa UBS, se foi a realização de um exame num laboratório. Todos esses dados vão estar integrados na RNDS”.
Experiência exitosas, como o Meu SUS Digital, foram citadas pela coordenadora. Desde 2023, o aplicativo conta com mais de 30 funcionalidades, possibilitando que o cidadão tenha acesso a diferentes serviços oferecidos gratuitamente pelo SUS, como a Carteira nacional de vacinação; localização da rede de saúde; e a autorização para retirada gratuita de absorventes pelo programa Dignidade Menstrual. “E, também, uma funcionalidade recém-lançada, agora em 2024, que é a autodeclaração, tanto de cor ou raça, quanto do nome social, podendo fomentar ainda mais as políticas de equidade no país”, enfatizou Paula.
Paula Xavier encerrou a sua participação no painel afirmando que “não tratamos uma tecnologia, uma nova funcionalidade, somente pelo seu aparato técnico, mas tudo começa com um processo de escuta, com um processo de cocriação, por uma série de metodologias que são aplicadas em oficinas, onde a gente senta, ouve as necessidades e organiza”.
* Fotos: Júlio Kummer