26/08/2024
Eduardo Muller- Cogepe
O segundo dia do Encontro de Inovação na Gestão começou com a mesa O papel dos laboratórios de inovação nas instituições públicas. A atividade foi conduzida pelo secretário de Gestão e Inovação do MGI, Roberto Pojo. Ele dividiu o palco com Pedro Marcante, coordenador-geral de Inovação da Enap (GNova-Lab), e Bruno Portela, coordenador do Laboratório de Inovação da AGU (Labori).
Pojo falou da necessidade de que a gestão incorpore o conceito de inovação de forma explícita. “Na perspectiva de que precisamos pensar caminhos diferentes, soluções distintas. O que fizemos, e que nos levou até este momento, não será suficiente para que consigamos avançar”. O secretário contextualizou a inovação na administração pública ao longo das décadas. Nos anos 80, segundo Pojo, a inovação era uma ferramenta para redefinir a burocracia, que assumia um papel simbólico negativo. “Isso é um desvirtuamento do seu conceito, mas muito presente no subconsciente de todo mundo. Eu sempre digo que o Estado brasileiro precisa de mais burocracia porque ela dá previsibilidade na relação entre Estado e cidadão”.
Incômodo como motor
Roberto Pojo falou da necessidade de se criar condições para que seja possível inovar.
Foto:Júlio Kummer
Nos anos 2000, de acordo com o secretário, a inovação passou a ser entendida como uma forma de resolver problemas complexos. Pojo falou da necessidade de se criar condições de romper processos para que seja possível inovar. “Inovação é fazer diferente do que se faz no dia a dia. O incômodo é o motor. Não se deixar vencer pela normalidade”, disse. O secretário afirmou que é comum repetir os processos como um instrumento de sobrevivência. “Não é da nossa natureza inovar. Tem uma resistência natural”.
Pojo citou dois desafios para equipes que buscam a inovação. O primeiro, classificado por ele como “um processo penoso”, é pensar no que pode deixar de ser feito. “É o paradigma da rotina, da previsibilidade e do conforto. Você está preso a isso. Pode até ser ruim, mas você está acostumado a fazer”. O segundo desafio, mais complexo do que o primeiro, é o incômodo, classificado por Pojo como a principal mola propulsora do processo de inovação. “É aquela coisa que você olha e percebe que poderia ser feito diferente. É o início do pensar em que aquilo merece ser refeito. O incômodo precisa ser alimentado”, concluiu.
Desmistificando a inovação
Pedro Marcante: "Talvez o maior objetivo de um laboratório é chegar a não ser mais necessário. É uma marca de sucesso".
Foto: Júlio Kummer
Pedro Marcante focou sua apresentação na experiência do GNova-Lab, um dos primeiros laboratórios de inovação do governo e que assumiu a missão de ser gerador de outros laboratórios. “Eu sempre brinco com minha equipe que nosso principal objetivo é criar o próximo GNova-Lab. Geralmente, os laboratórios de inovação têm um tempo de vida curto. Nascem de um incômodo de se fazer as coisas do mesmo jeito, cria-se um espaço institucional no qual o erro é permitido, e a partir daí se criam formas de pensar que acabam se alastrando pela organização. Assim, o laboratório perde sua razão de ser em um sentido bem positivo. Talvez o maior objetivo de um laboratório é chegar a não ser mais necessário. É uma marca de sucesso”, esclareceu Marcante.
Marcante falou que a partir da experiência do GNova-Lab, a equipe foi entendendo a necessidade de não somente olhar para dentro, mas, também, para fora. “O GNova-Lab tem essa característica diferente. Geralmente, os laboratórios olham para dentro das suas organizações. Nós olhamos para fora, apoiando os órgãos públicos federais. Começamos fazendo experimentos pequenos e percebemos que havia muita necessidade dos órgãos em fazer inovação aberta, procurando o setor privado e o mercado para fazer. A inovação aberta veio para responder essa necessidade”.
Para Pedro Marcante é fundamental desmistificar a inovação. “Toda a vez que iniciamos uma parceria tem um trabalho prévio de desmistificar a inovação. A inovação é método que pode ser ensinado e aprendido. Todo mundo pode ser inovador. A inovação não significa criar um super software. Ela pode ser uma redução de sete para dois formulários”. O coordenador do GNova explicou que é importante desenvolver comportamentos para a inovação: “Não é só criar, tem que mudar a cabeça das pessoas, os processos e a interação com a sociedade”.
Políticas públicas viáveis
Bruno Portela, coordenador do Laboratório de Inovação da AGU (Labori), afirmou que o Brasil ocupa a segunda posição no ranking mundial de governos digitais com mais de 4.000 serviços digitalizados, e é o terceiro país que mais rapidamente está se digitalizando. “Hoje temos uma pauta de digitalização muito forte e uma busca por inovação neste contexto. No Brasil, 75% da inovação é incremental. Temos 205 milhões de pessoas e 250 milhões de smartphones. Alguém tem dúvida que a nossa política pública deve sempre olhar para a digitalização? Assim chegaremos ao Brasil real. Dentro deste contexto é que trabalhamos na AGU com nossa única agenda de segurança jurídica. Temos que inovar com novos produtos e processos para viabilizar as políticas públicas”, disse.
Portela elencou princípios que regem o trabalho da AGU, como, por exemplo diversidade, equidade, inclusão, empatia, adaptabilidade e flexibilidade. “Precisamos trazer esses princípios para a nossa atuação. De que forma? Colaborativa, envolvendo todo mundo. Temos um olhar muito conservador, precisamos de uma equipe multidisciplinar para cada um trazer o seu olhar para dentro da instituição”. Portela falou que dentro da estrutura do Labori foram estabelecidos seis eixos prioritários, sendo cinco voltados para dentro. São eles: inovação da gestão do conhecimento, soluções jurídicas inovadoras para políticas públicas, sustentabilidade socioeconômica ambiental, governança pública, transformação digital e método adequado de soluções de conflitos.
Bruno Portela: "Hoje temos uma pauta de digitalização muito forte e uma busca por inovação neste contexto".
Foto: Júlio Kummer