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Em conferência, diretor da OMS defende nova definição de vigilância


30/07/2024

Ana Paula Blower  e Cristina Azevedo (Agência Fiocruz de Notícias) 

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Uma vigilância robusta para prevenir futuras pandemias passa por um trabalho colaborativo, e colaborar não é uma tarefa fácil, destacou o diretor-geral assistente da Organização Mundial de Saúde (OMS), Chikwe Ihekweazu. “Se fingirmos que colaboração é algo fácil, vamos fracassar”, disse ele nesta segunda-feira (29/7), durante a segunda edição da Cúpula Global de Preparação para Pandemias 2024 (GPPS 2024, na sigla em inglês), organizada pelo Ministério da Saúde, Fiocruz e Coalizão para Promoção de Inovações em prol da Preparação para Epidemias (Cepi), no Rio de Janeiro.


Para o diretor-geral assistente da OMS, Chikwe Ihekweazu, “uma nova definição de vigilância é o mais importante que devemos ter” (Foto: Peter Ilicciev)

Chikwe Ihekweazu está à frente do Centro para Inteligência sobre Pandemias e Epidemias, também conhecido como o Hub de Vigilância da OMS, em Berlim. Ao falar no painel Estado de vigilância: progresso, lacunas e oportunidades, ele destacou que “uma nova definição de vigilância é o mais importante que devemos ter”. Para o epidemiologista nigeriano, é preciso pensar, por exemplo, no uso da inteligência artificial para monitorar o movimento populacional, e integrar informações para que as instituições trabalhem juntas. “(O trabalho) sempre terá que ser feito por diversas instituições, não é papel de apenas uma. É importante que os países se desenvolvam, mas sempre haverá trabalho para fazermos juntos”. 

Nesse aspecto, ele citou o trabalho do Hub, do qual a Fiocruz faz parte, como um exemplo de compartilhamento de informações eficaz. “Estamos (na OMS) colaborando entre nós. O desafio é que o resto do mundo trabalhe conosco e com cada um para atingirmos nossos objetivos”.

Diretor de Sistemas de Inteligência sobre Pandemias e Epidemias do Hub, Oliver Morgan voltou ao tema mais tarde na sessão Conversas breves, ao abordar Vigilância colaborativa: uma nova visão para entender ameaças pandêmicas. Morgan apresentou os desafios e a complexidade das informações necessárias, com a apresentação epidemiológica clássica de dados de vigilância muitas vezes não captando elementos extremamente importantes para prevenção. Diversos fatores, como os econômicos e ambientais, além da própria dimensão da saúde pública, precisam ser levados em conta. “A realidade é muito, muito mais complexa, e essa complexidade é bastante difícil de captar. É essa interação complexa que tentamos entender e que é importante quando tentamos considerar o risco de uma pandemia”. 

Tudo isso gera um imenso volume de dados. E, quanto mais aumenta a capacidade de detecção, mais aumenta o trabalho a ser feito. Segundo Morgan, por mês são processados cerca de 9 milhões de dados globais, que passam por processos de filtragem até chegarem a 43 mil sinais. Destes, 4,5 mil são investigados mais a fundo, resultando em cerca de 30 realmente preocupantes do ponto de vista epidêmico – ou seja, um por dia. “Os números crescem à medida que aumenta a nossa capacidade de detectar. Estamos aumentando a detecção e aumentando a resposta. Existem duas grandes forças que impulsionam a inovação na vigilância em saúde pública e que nos ajudam a gerenciar tanto esta complexidade como o volume: as inovações e revoluções que acontecem na ciência laboratorial e o rápido aumento das tecnologias e ferramentas de ciência de dados que temos à nossa disposição”.


O diretor de Sistemas de Inteligência sobre Pandemias e Epidemias do Hub da OMS, Oliver Morgan, disse que por mês são processados cerca de 9 milhões de dados globais (Foto: Peter Ilicciev)

A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, por sua vez, destacou na mesma sessão a força do Sistema Único de Saúde (SUS), ao mencionar que o Brasil é o único país com mais de 200 milhões de habitantes com um sistema conectado em todos os municípios. Mas ressaltou que há ainda muitos desafios, como capacitar pessoal em todas as cidades e fazer com que os diversos sistemas existentes conversem entre si. Ao falar sobre Tecnologias e melhores práticas dos sistemas de vigilância sanitária brasileiros em alerta precoce para detecção de potenciais emergências de saúde pública, Ethel Maciel destacou a importância da prevenção e da parceria com a Fiocruz, que produz os boletins InfoGripe e InfoDengue


Secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel destacou a importância da prevenção e da parceria com a Fiocruz (Foto: Peter Ilicciev)  

“O InfoDengue foi extremamente importante quando, em setembro do ano passado, previu que possivelmente chegaríamos a 4 milhões de casos, o que era impensável na época. A partir desse alerta, encomendamos os testes diagnósticos à Fiocruz. Se não houvesse o alerta, teríamos chegado à maior epidemia de dengue que o país enfrentou sem testes, sem ferramentas importantes”, disse. Ela mencionou ainda o trabalho conjunto com o Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), na “prevenção antes que os eventos se estabeleçam”.

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