22/07/2024
Nathalia Mendonça (Cooperação Social da Fiocruz)
Em seu décimo episódio, o podcast Radar Saúde Favela recebe Eni Carajá Filho, indígena em contexto urbano, vivendo em Belo Horizonte e ativista de movimentos populares periféricos e sindicais. Em seu depoimento, o convidado trata de temas como políticas de ações afirmativas e processos de autoafirmação indígena, as presenças e mobilizações indígenas na cidade e dinâmicas migratórias indígenas. O podcast Radar Saúde Favela é um projeto da Coordenação de Cooperação Social da Fiocruz voltado a vigilância popular em saúde nas favelas e periferias dos centros urbanos. Acesse aqui o novo episódio.
“Nem todos os indígenas vão chegar numa banca de heteroidentificação. Até mesmo porque a universidade, o ensino superior está bem distante da maioria absoluta dos indígenas que vivem em contextos de territórios ou não-territórios, todo o tipo de indígena. A gente percebe que a universidade foi feita para poucos. Poucos empobrecidos, poucas pessoas de classes sociais menos favorecidas, em risco social e vulnerabilidade, e poucas pessoas que estejam na linha do fortalecimento do processo de políticas afirmativas, como os negros, as pessoas com deficiência e indígenas”, aborda Eni Carajá Filho que também é Cacique dos indígenas Carajás de Minas, uma comunidade indígena com cerca de 150 pessoas, dentre elas crianças, jovens, adultos e idosos.
A entrevista aborda também a questão da territorialidade dos povos indígenas que muitas das vezes são questionados quando se encontram nos centros urbanos. Segundo o censo do IBGE do ano de 2022, cerca de 63% da população indígena vive fora das áreas oficialmente demarcadas, ou seja, a maioria dos indígenas não está nas aldeias.
“Existe um romantismo muito grande de que o indígena é aquele que está na aldeia. Isso tem afetados bastante a concepção e a prática em relação aos indígenas. Primeiro porque o indígena é indígena onde ele estiver, seja na cidade, seja em cima de uma árvore, dentro de uma gruta. Nós estamos trabalhando com essa ideia de direitos que sejam localizados e que o Estado implante políticas públicas porque é um absurdo haver negatividade, negacionismo, não aceitação e exclusão de indígenas”, explicou Eni Carajá Filho.
O novo episódio também contextualiza o processo que deu origem a criação da Rede Nacional de Articulação dos Indígenas em Contextos Urbanos e Migrantes (Reniu) que estrutura o diálogo em rede que aborda os diversos cenários vivenciados pela população indígena em contexto urbano como a precarização de acesso a bens e políticas sociais. Além disso a Rede tem um histórico de mobilização e luta contra o racismo, contra a violação de direitos e a falta de acesso à saúde e serviços públicos.
Sobre o projeto
O Radar Saúde Favela, projeto da Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz, tem foco em produzir e difundir informações sobre a situação de saúde e da sua determinação social em favelas e periferias de centros urbanos, lançando luz sobre as diversas dimensões de precariedade que afetam de forma diferenciada as populações que habitam em territórios socioambientalmente vulnerabilizados. Artigos de opinião, podcast, vídeos e a própria edição da revista (desde agosto de 2020) são alguns dos formatos publicados pelo projeto. Lideranças e comunicadores populares podem enviar sugestões de pauta, matérias e crônicas sobre a saúde em seus territórios a qualquer momento para o e-mail: radarsaudefavela@fiocruz.br.
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