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Ciclo Fio-Saúde Única: primeira palestra discute as pressões sobre a saúde, a crise ecológica e as políticas neoliberais


18/07/2024

Bruno Moraes (Rede Genômica)

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A urgência para se implementar mudanças profundas na forma como a comunidade científica e a sociedade em geral se inserem no diálogo sobre saúde, ambiente e sociedade foram os eixos da primeira palestra do Ciclo Fio-Saúde Única que aconteceu nessa terça (16/7). O palestrante convidado, Alexandre Pessoa, pesquisador do Laboratório de Educação Profissional em Vigilância em Saúde da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, falou sobre a Determinação Social da Saúde e a Emergência Climática. A atividade, organizada pelo Programa de Pesquisa Translacional da Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas, foi mediada pelo coordenador executivo da Fiocruz Mata Atlântica e coordenador geral da rede Fio-Saúde Única, Ricardo Moratelli.

 

O evento, em formato on-line, foi transmitido pelo canal YouTube da Fiocruz.

 

Pessoa destacou o fato de que o conceito de determinação social da saúde está relacionado com a história da Fiocruz e de outras instituições voltadas para a promoção de políticas públicas de saúde, como a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). A determinação social da saúde, definida como “um conceito que explicita a relação do social e do histórico com o biológico para discutir o processo saúde-doença”. Por esta perspectiva, Pessoa fez uma retrospectiva histórica do quanto os problemas atuais de conservação da biodiversidade do Brasil, assim como suas consequências para a saúde da população, têm origem em processos históricos e pressões internacionais que remontam ao período do Brasil colônia.

Trazendo referências como o livro Capitalismo e Colapso Ambiental, do sociólogo e historiador Luiz Marques, O Mito do Desenvolvimento Econômico, do economista Celso Furtado, além de uma série de relatórios técnicos, ele convidou os presentes a pensar se há possibilidade de se tratar a área de saúde hoje dissociada de ciências sociais, da história, da ecologia e da teoria econômica. Pessoa destacou o quanto o isolacionismo de parte da comunidade científica, assim como a pretensão de uma neutralidade objetiva acabam tornando a classe científica politicamente omissa, oferecendo recomendações sobre metas de carbono ou Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, mas não se debruçando sobre os aspectos socioeconômicos e interesses políticos que atravessam tanto a aderência a estas metas quanto as pressões de países de alto poder econômico sobre economias emergentes.

A palestra serviu ainda para discutir o impacto de políticas neoliberais, com o enxugamento do orçamento público e a flexibilização de leis protetivas ao longo de décadas no Brasil, e seus efeitos nocivos para a biodiversidade e a saúde. O professor traçou então um paralelo entre o discurso desenvolvimentista na década de 1970 em torno da inauguração da Transamazônica, que trouxe muito menos benefício social do que malefício socioambiental, e questões como exploração mineral em áreas naturais e terras indígenas, na mudança de uso do solo em biomas como o Cerrado e a Mata Atlântica, e as consequências destas políticas, como a catástrofe de 2024 no Rio Grande do Sul, os sucessivos incêndios em áreas de Amazônia, Cerrado e Pantanal, e as contaminações de corpos d’água.

“Precisamos de uma crítica ecológica à economia política”, comenta Pessoa. “Estamos no momento de produzir as desnecessidades do capital. E, consequentemente, as necessidades dos despossuídos, dos subalternizados, dos precarizados. Temos de ampliar para os indígenas, para toda um conjunto de populações: nas cidades, nas periferias urbanas, no campo, nas florestas e nas águas.”
 

 

Edição | Elisandra Galvão (VPPCB/Fiocruz)

 

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