01/11/2022
VPAAPS/Fiocruz
Ao longo de 35 anos, o Projeto Saúde e Alegria (PSA) - iniciativa civil sem fins lucrativos e idealizada pelo médico Eugênio Scannavino, em Santarém/Pará - oferece ações de atendimento à saúde para as comunidades tradicionais e apoio e promoção de processos participativos de desenvolvimento comunitário integrado e sustentável que contribuem no aprimoramento das políticas públicas, na qualidade de vida e no exercício da cidadania.
Foi com o apoio e a colaboração do ex-presidente da Fiocruz, Sérgio Arouca, e Cesare Della Rocca (Unicef), que as atividades do PSA tiveram início (1987), e de outras instituições com o BNDES e a Universidade Federal do Pará (UFPA).
O PSA, hoje coordenado por Caetano Scannavino, atua em quatro grandes frentes: Desenvolvimento Territorial, Saúde Comunitária, Economia da Floresta e Educação, Cultura e Comunicação.
Com o intuito de conhecer o trabalho do PSA, integrantes da Coordenação de Ambiente da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção à Saúde (VPAAPS) e do Canal Saúde da Fiocruz acompanharam o dia a dia das atividades realizadas no Tapajós/Pará, no período de 5 a 12 de junho de 2022.
Durante nove dias o grupo participou de atividades em Santarém e Alter do Chão, visitou o escritório do Saúde e Alegria, conheceu o projeto de telemedicina, acompanhou o atendimento do barco hospital Abaré I e a inauguração do Abaré II, além dos projetos do Circo Mocorongo e da Rede Mocoronga de Comunicação.
Guilherme Franco Netto explica que a ideia de criação do PSA vai ao encontro do pensamento da reforma sanitária. “Foi durante o processo da reforma sanitária, na elaboração do projeto do SUS, que emergiu o pensamento de como o “SUS do futuro” iria atuar nos territórios. A ideia que emergiu foi a estruturação de distritos sanitários - espaços territoriais tanto locais, quanto regionais que organizariam os sistemas de saúde”, ressalta o coordenador que há anos teve a oportunidade de conhecer o projeto no Pará.
Segundo Guilherme, várias iniciativas surgiram nessa época (anos 80) e o Projeto Saúde e Alegria surgiu enquanto um dos projetos eleitos para serem desenvolvidos e que, inclusive, teve apoio e incentivo do Sérgio Arouca. Desde então, a Fiocruz tem acompanhado de várias formas as iniciativas do PSA que tem um aspecto importante de desenvolvimento sustentável local.
“A partir da visita da equipe da VPAAPS resgatamos a história de quase 40 anos do PSA e agora temos a oportunidade de celebrar um termo de cooperação entre o projeto e a Fiocruz para que possamos dar mais sustentação e ampliar mais ainda o que vem sendo feito por eles em temos de promoção de saúde, atenção integral e articulação com diversas políticas públicas que são a favor da vida”, diz Guilherme.
Para Andrea Vasconcellos do Programa Institucional Territórios Sustentáveis e Saudáveis (PITSS/Fiocruz), que participou da visita com outros integrantes da VPAAPS, os projetos do Saúde e Alegria dialogam com os processos que o PITSS vem induzindo e apoiando nos territórios de atuação da Fiocruz e dos seus parceiros. “As pessoas das comunidades ribeirinhas envolvidas nos projetos do PSA são protagonistas nos processos que participam, os líderes são eleitos por suas comunidades e todo o processo de desenvolvimento de um projeto é explicado e discutido com todos. A ideia não é atuar para a comunidade e sim com a comunidade”.
Além da cooperação técnica prevista, o Canal Saúde, em parceria com a VPAAPS, está preparando um documentário sobre o projeto e pretende mostrar como as ações acontecem na prática. Para isso, foram registradas imagens e depoimentos de pessoas das comunidades atendidas pelo projeto. O lançamento do documentário ainda não tem data.
Saiba mais sobre as atividades que o grupo da Fiocruz teve oportunidade de conhecer:
Rede Mocoronga – A iniciativa capacita jovens, em mais de 30 comunidades, para atuarem como comunicadores na floresta. Eles produzem programas de rádio, jornais, vídeos, blogs e outros. O PSA dá o suporte na implantação das sucursais, com infraestrutura, equipamentos, cursos e oficinas para aprimorar o material a ser produzido. Durante a visita à aldeia Solimões, a enfermeira e integrante da Coordenação de Ambiente, Maria Inês Cárcamo, concedeu entrevista à rádio comunitária Sapukaia e falou sobre a Fiocruz e cuidados com a saúde. A rádio Sapukaia é uma das iniciativas de educomunicação da Rede Mocoronga que capacita ribeirinhos, caboclos e indígenas.
Barco Hospital Abaré I e II – O projeto nasceu inspirado na ideia da Reforma Sanitária Brasileira e do pensamento da Saúde Coletiva, que foram as bases centrais do Sistema Único de Saúde (SUS). Implantado em 2006, o Abaré I foi integrado ao SUS e credenciado como a primeira Unidade Básica de Saúde Fluvial (UBSF) do Brasil. Já o Abaré II foi reinaugurado recentemente, no dia 7 de junho, quando iniciou uma expedição para 38 comunidades do alto e médio Arapiuns.
Circo Mocorongo – Por meio de oficinas, agentes da comunidade são capacitados para realizar as próprias atividades lúdicas que visam promover a educação em saúde, meio ambiente e cidadania comunitária, entre outros temas. A pesquisadora Andrea Vasconcellos participou de uma atividade do circo e atuou como a palhaça Flor. “Foi muito gratificante poder levar alegria e um pouco do meu conhecimento de pesquisadora da Fiocruz de forma leve para a comunidade”.
Telemedicina – A iniciativa que está em fase de teste, permite a moradores de comunidades ribeirinhas distantes da área urbana de Santarém, no Oeste do Pará, consultas médicas por meio de videoconferências. Para viabilizar os atendimentos, foram instaladas placas de energia solar e sistemas de internet por satélite nas UBS.
Centro Experimental Floresta Ativa – O espaço foi inaugurado em 2016, na Comunidade do Carão, na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns, e tem por objetivo a geração de renda e desenvolvimento sustentável dos moradores, visando o aproveitamento econômico dos produtos extrativistas. É um espaço que integra unidades demonstrativas de permacultura e agroecologia e oferecer à comunidade cursos e capacitações.
Na reunião realizada 17 de agosto de 2002 pela Câmara Técnica de Saúde e Ambiente da VPAAPS, o projeto foi apresentado e o fundador Eugênio Scannavino foi homenageado. Na ocasião, Eugênio afirmou que "nunca a comunidade deve ser considerada como beneficiária, mas sim como parceiro".