23/06/2016
Por: Lucas Rocha e Max Gomes (IOC/Fiocruz)
Velha conhecida da população, a gripe é causada pela ação dos vírus influenza no organismo. O que muita gente talvez não saiba é que existem três tipos de vírus influenza: A, B e C — os dois primeiros são responsáveis por epidemias sazonais em várias regiões do mundo, com circulação predominantemente no inverno, e o último é causador de infecções mais brandas. O tipo A é classificado em subtipos, como o A (H1N1) e o A (H3N2), que circulam atualmente em humanos. Já o tipo B é dividido em duas linhagens: Victoria e Yamagata. Mesmo com suas particularidades genéticas, todos podem provocar os mesmos sintomas, como febre alta, tosse, garganta inflamada, dores de cabeça, no corpo e nas articulações, calafrios e fadigas.
Em 2016, a influenza vem ganhando uma maior repercussão no Brasil devido ao aumento no número de casos em comparação aos anos anteriores. De acordo com o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde (MS), divulgado no dia 22 de junho, foram registrados 5.214 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) de influenza, situação que requer a hospitalização do paciente. Desse total, mais de 80% foi causado pelo subtipo A(H1N1)pdm09, que ganhou esta nomenclatura para diferenciá-lo do H1N1 antigo sazonal que circulou até 2008. Também foram confirmados 1.003 óbitos, sendo mais de 90% dos registros relacionados a este subtipo.
No entanto, por mais que os números surpreendam, uma das maiores especialistas em vírus respiratórios do país tem cautela na avaliação dos dados. “Não há motivo para pânico. Temos que ter em mente que, este ano, o vírus começou a circular um pouco mais cedo, o que pode ter antecipado a epidemia. No entanto, o número de casos e a taxa de mortalidade estão dentro do esperado”, pondera Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratório e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que integra o Sistema Global de Vigilância e Resposta à Influenza da Organização Mundial da Saúde (OMS), e atua como referência nacional junto ao Ministério da Saúde.
Fernando Motta, pesquisador do mesmo laboratório, explica que os dados sobre influenza no Brasil são destinados a orientar profissionais da saúde sobre o comportamento do vírus no país. “O aumento no número de notificações pode estar relacionado a uma ampliação dos esforços do Ministério da Saúde para expandir a Rede de Vigilância para Influenza, no sentido de gerar dados mais fidedignos sobre a circulação viral”, explica. O pesquisador lembra que o subtipo A (H1N1) pdm09 circulou de forma expressiva pela última vez em 2013, quando foram registrados 3.733 casos graves e 768 mortes no país. “É comum que os tipos e subtipos de influenza possuam uma dinâmica de alternância. O subtipo A (H1N1) pdm09 teve uma baixa circulação nos últimos dois anos e isto pode ser mais uma das hipóteses para o aumento de casos, pois nossa ‘memória imunológica’ já não possui uma resposta tão eficiente para enfrentá-lo”, comenta.
Monitoramento do vírus
Por contribuir para o monitoramento e vigilância de influenza no país, o Laboratório de Vírus Respiratório e do Sarampo do IOC recebe amostras de diversas unidades sentinelas vinculadas ao Ministério da Saúde para análises complementares, como por exemplo as análises filogenéticas, quando se avalia a relação evolutiva entre distintos grupos de influenza. Marilda, Fernando e sua equipe se dedicam a identificar cepas variantes dos vírus que circulam durante as epidemias sazonais. “Até o momento, os resultados não apontam mutações significativas na estrutura dos vírus em circulação no Brasil – são semelhantes a amostras descritas na Europa no final de 2015 e início deste ano”, ressalta Motta. “Permanecemos sempre alertas, verificando as semelhanças genéticas entre os vírus circulantes e as cepas utilizadas na produção de vacinas. Além disso, monitoramos possíveis traços de resistência aos antivirais usados no combate à infecção”, completa a pesquisadora.
Cuidados
Apesar de o vírus influenza ser altamente transmissível, ele não é muito resistente e permanece poucas horas no ar ou em superfícies como mesas e corrimões, por exemplo. Além disso, perde sua capacidade infecciosa facilmente. “O uso de desinfetante para higienizar superfícies onde pode haver contaminação por secreção respiratória e o hábito de lavar bem as mãos com água e sabão, ou usar álcool em gel, são formas eficazes de inativar o vírus e evitar sua propagação”, pontua Motta. De igual modo, cobrir a boca e o nariz usando um lenço ou a manga da camisa ao tossir ou espirar também é um hábito simples e eficiente para reduzir a transmissão viral. “Com a chegada do inverno (período de maior circulação viral) e dos Jogos Olímpicos, em que haverá um significativo aumento na circulação de pessoas de todo o mundo, não podemos nos esquecer desses cuidados, que, apesar de simples, podem salvar vidas”, finaliza Marilda.
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