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Livros raros: coleções dos séculos 19 e 20 estão abertas para consulta em Manguinhos

Mulher com roupa especial e máscara retira livro de estante

27/11/2014

Por Keila Maia/ Jornal Linha Direta

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Qual o primeiro livro da área médica a tratar exclusivamente sobre o Brasil? Quando surgiu, quem escreveu e que tipo de informações constaria nessa publicação? Se essas perguntas despertaram sua curiosidade, você vai gostar de saber que esta obra se encontra bem ali, no terceiro andar do Castelo. Historia Naturalis Brasiliae, de Willem Piso e Georg Marggraf, de 1648, o primeiro trabalho a descrever a fauna e a flora do país e a listar as principais enfermidades brasileiras daquele período, é uma das preciosidades da Seção de Obras Raras da Biblioteca de Manguinhos.

É também ali onde estão coleções especiais, como a dos pesquisadores Fernandes Figueira, Leônidas Deane e Sebastião Oliveira, ou ainda a Coleção Periódico Brasil Médico, que traz uma série de artigos científicos publicados entre 1887 e 1971 por pesquisadores das melhores escolas da área de saúde e que ajudou a formar muitos profissionais.

“Sem dúvida, é um acervo muito rico, constituído por livros, teses, folhetos, periódicos científicos dos séculos 19 e 20, obras de referências, além de materiais especiais, como, por exemplo, estojos de lâminas microscópicas, contendo partes de organismos de animais, datados de 1901 e que ainda estão em prefeito funcionamento”, afirma Maria Claudia Santiago, coordenadora da Seção de Obras Raras.

Fazem parte do acervo da Seção publicações que tenham sido impressas até 1930. É tanto material, que um dos trabalhos da equipe da Seção é mapear o conteúdo, tornando mais fácil a tarefa de encontrar cada obra. “Fazemos esse mapeamento e, depois, colocamos as devidas identificações em um sistema de gerenciamento eletrônico. Com frequência, nos deparamos com materiais surpreendentes, que não nos deixam esquecer que aqui está guardada boa parte da história da Fiocruz e da ciência em geral”, conta Maria Claudia.

Cuidado

A consciência da importância de todo esse acervo não é de hoje. Basta entrar na sala de guarda para comprovar que a conservação das obras foi pensada desde a concepção da biblioteca. O cuidado pode ser visto em detalhes, como no piso feito em vidro, para clarear o espaço sem acender as luzes, e no sistema de iluminação setorizado, para minimizar os danos provocados pelas lâmpadas acesas. Um zelo que, em 1943, chamava a atenção do pesquisador Arthur Neiva, que, ao prefaciar o livro Bibliofilos versus Bibliofagos, de Monsenhor Joaquim Nabuco, fez questão de registrar suas impressões.

“Naquele Instituto, tem-se comprovado durante mais de 20 anos, que os livros são poupados pelos insetos bibliófagos. Pelo que pude verificar isso é mais devido à ação elevada da média temperatura do que a qualquer outro fator. (...) A temperatura do piso é mais baixa pelo arejamento que experimenta; alguns palmos acima o calor se mantém por mais tempo e este fator impede que a evolução dos insetos se faça”, dizia.

Desde a publicação desse prefácio, já se foram mais de 70 anos. O tempo passou, o entendimento em relação à ação dos insetos mudou, mas a preocupação com a preservação das publicações permaneceu. É por isso que a Seção de Obras Raras conta com um polo do Laboratório de Conservação Preventiva de Documentos (Lacopd) destinado especificamente a esse acervo, que realiza não apenas reparos, mas principalmente um trabalho de prevenção, visando impedir a ação dos chamados agentes de degradação.

Foto: Peter Illiciev/ Fiocruz

Diariamente, é realizado um monitoramento para controlar a umidade e a temperatura da Seção, uma vez que tais fatores podem acelerar os processos de degradação, além de proporcionar o surgimento de fungos e bactérias. “Tentamos nos antecipar aos riscos para que os acervos não sejam afetados e, dessa forma, não necessitem de tratamentos de restauração. É um trabalho sistemático de estudo e análise de dados”, explica Marcelo Silva, responsável pelo Laboratório.

Entretanto, por ser um produto orgânico, o papel sofre um processo natural de degradação e, por isso, as obras recebem algumas intervenções, sempre que necessário. Não importa qual seja o reparo, se encadernação ou reconstituição de folhas rasgadas: tudo é realizado manualmente, com materiais apropriados para a conservação. Além disso, os livros são higienizados continuamente.

Atendimento

Todo esse cuidado não faria sentido se as obras não estivessem disponíveis para o público. O acesso é aberto à comunidade técnico-científica acadêmicos de graduação e pós-graduação.  A consulta é realizada no Salão de Leitura, no mesmo lugar onde Oswaldo Cruz se reunia com pesquisadores, todas as quartas-feiras, para distribuir artigos e trocar informações sobre os trabalhos que estavam sendo realizados.

“O espaço em si já é inspirador. As pessoas que vêm aqui também contam com o apoio dos bibliotecários, que conhecem bem o acervo e podem ajudar o usuário a encontrar o que precisa”, afirma Maria Claudia. O atendimento acontece de segunda a sexta, de 8h30 às 16h30. O ideal é que o interessado entre em contato antes, por e-mail ou telefone, porque, caso seja possível e necessário, o material a ser consultado será higienizado ou até digitalizado.

Se o usuário precisar, também é permitida a reprodução de obras que estejam em domínio público ou daquelas que tenham sido autorizadas por seus autores. Ticiana Santa Rita, pesquisadora do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológico, usa o serviço desde que começou a frequentar a biblioteca. “Tenho consultado periódicos científicos publicados no fim do século 19 e início do século 20. Consigo fazer cópias dos documentos sem custo e com a disponibilidade de tempo necessária para minha pesquisa”, comenta.

Para quem está longe e não pode comparecer pessoalmente, a Seção de Obras Raras oferece atendimento remoto. Para isso, dispõe de um escâner especial, que possibilita dar acesso ao acervo até mesmo para pessoas de outros países. “Se for um usuário externo, é só se cadastrar nas plataformas específicas; e se for de alguma das unidades da Fiocruz, é ainda mais simples: basta entrar em contato com a gente”, orienta Maria Claudia.

É possível que, daqui a alguns anos, o escâner seja desnecessário para o acesso remoto. Trabalhando com publicações de vários séculos atrás, a Seção de Obras Raras utiliza a evolução tecnológica para tornar o acervo cada vez mais acessível. Para isso, foi criado pela seção de Multimeios do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict), o Laboratório Digital, com o intuito de disponibilizar on-line boa parte do material. Por se tratar de uma iniciativa recente, ainda há poucos volumes no ar – são 113 digitalizados e, em breve, estarão disponíveis.

O interessado em consultar publicações da Seção de Obras Raras deve entrar em contato com antecedência pelo e-mail obrasraras@icict.fiocruz.br ou pelo telefone (21) 2598-4460. O setor atende de segunda a sexta-feira, de 8h30 às 16h30.

"É um acervo muito rico, constituído por livros, teses, folhetos, periódicos científicos dos séculos 19 e 20, obras de referências, além de materiais especiais, como estojos de lâminas microscópicas" Maria Claudia Santiago

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