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Fiocruz e Ministério da Saúde argentino avaliam parceria estratégica


24/08/2017

André Costa e Ricardo Valverde (CCS)

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Uma comitiva do Ministério da Saúde da Argentina esteve na Fiocruz no último dia 19/07, com o objetivo de discutir um acordo de cooperação estratégica, sobretudo na área de produção de fármacos. Ao longo de varias reuniões, o grupo avaliou possibilidades de parceria em áreas como vacina contra febre amarela, usos coordenados de capacidades para produção de reagentes e kits para diagnósticos, produção de medicamentos e a organização de um simpósio conjunto sobre desenvolvimento tecnocientífico na área de saúde entre os dois países, entre outros.

Pesquisadores brasileiros e argentinos discutiram desafios e interesses comuns aos dois países (Fotos: Peter Ilicciev - CCS/Fiocruz)
 

A missão do país vizinho foi formada pelo diretor da Administração Nacional de Laboratórios e Institutos de Saúde (Anlis), Carlos Ubeira, pelo secretário de Políticas, Regulação e Institutos do Ministério da Saúde argentino, Raúl Alejando Luis Ramos, e pelo presidente da Agência de Laboratórios Públicos de Medicamentos, Adolfo Sanchez de Leon.

A comitiva argentina se reuniu com a presidente da Fundação, Nísia Trindade Lima; o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde, Marcos Krieger; os assessores do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz) José Roberto Ferreira, Felix Rosenberg, Álvaro Matida e Sebastian Tobar; os gestores e representantes do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), Mauricio Zuma e Antonio Barbosa; o diretor do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), Jorge Mendonça; e com a representante do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), Marília Santini.

Referindo-se a desafios e interesses comuns aos dois países, o diretor da Anlis destacou “o tema dos medicamentos, particularmente alguns medicamentos órfãos, que a indústria não produz, e que nós do estado devemos assumir. Este é o caso, por exemplo, da tuberculose: como são de baixo custo, o mercado analisa quem pode pagar, e a tuberculose acaba num vazio, por ser uma doença que atinge pessoas de baixo poder aquisitivo. Este é um exemplo claro de como o estado deve analisar esses vazios, e de estratégia que devemos elaborar entre os ministérios”.

Ubeira afirmou também que os dois países “buscam uma cooperação estratégica, isto é, ter objetivos comuns em termos de política de estado de saúde, não somente comercial ou de transferência tecnológica. A Fiocruz tem muita experiência em alguns casos que não temos. Na Argentina há uma indústria farmacêutica privada significativa, mas não tanto pública”.

Febre amarela e tuberculose são prioridades

Uma parceria com o objetivo de reforçar as capacidades tecnológicas da Anlis na fase final da produção de vacinas foi considerada prioritária. Essas instalação poderiam ser utilizadas tanto para a vacina de febre amarela quanto para outras doenças.

A este respeito, considerou-se que seria de alta relevância uma visita técnica de representantes de Biomanguinhos à Anlis, com o objetivo de analisar as capacidades disponíveis, e uma visita técnica a Biomanguinhos de cientistas da Anlis, para analisar aspectos estratégicos, como escala de produção de vacinas e as possibilidades de produção, entre outros.

Complementando a cooperação em vacinas, sugeriu-se que nesta questão poderia haver possibilidades de coordenar as capacidades de ambos os países para o desenvolvimento tecnológico e a produção conjunta de reagentes e kits para diagnóstico.

Ainda no tema produção, ambas as partes irão identificar medicamentos chave em virtude de necessidades epidemiológicas ou pelo seu caráter estratégico para o sistema de saúde de ambos os países. Será promovido o intercâmbio de linhas de pesquisa e desenvolvimento para a produção de medicamentos específicos em ambos os países. Foram mencionadas como possíveis linhas prioritárias iniciais temas como tuberculose, leishmaniose tegumentar e antibióticos.

Outro tópico relevante em discussão foi a realização de um simpósio entre Argentina e Brasil, para produção de medicamentos e biológicos. O encontro teria o propósito de discutir aspectos fundamentais da disponibilidade e da produção de medicamentos e produtos biológicos, e linhas prioritárias para o desenvolvimento conjunto.

O evento aproveitaria também o centenário da criação do Instituto Malbrán, um dos antecessores da Anlis, e o Ano Oswaldo Cruz, que marca o centenário de morte do patrono da Fundação, para analisar as contribuições de Carlos Malbrán e de Oswaldo Cruz para a consolidação dos respectivos sistemas nacionais de saúde mediante a estratégia do desenvolvimento científico e tecnológico na saúde. O mês de novembro de 2017 foi proposto como data provável para a realização do simpósio.

"Temos origens e problemas em comum", diz Nísia 

O último compromisso do dia da comitiva argentina foi um encontro com a presidente da Fundação, Nísia Trindade Lima. A comitiva foi recebida no Castelo da Fiocruz, onde levaram adiante outros pontos discutidos no resto do dia.

Nísia ressaltou o papel da Fiocruz no complexo econômico e industrial de saúde brasileiro
 

Segundo Nísia, que em breve participará da Conferência Sanitária Pan-Americana, há muitos paralelos entre a Anlis, fundada em 1916, e a Fiocruz, cujo embrião, o Instituto Oswaldo Cruz, surgiu um pouco antes, em 1900. Ambas (Anlis e Fiocruz) são fruto de reorganizações administrativas que reuniram em uma mesma entidade, nas décadas seguintes, instituições da área da saúde. No caso da Anlis, isso se deu no governo de Carlos Menem.

“Há muito o que discutirmos e cooperarmos, em áreas como HIV/Aids, hepatites, arboviroses, doenças negligenciadas, doenças crônicas, complexo econômico e industrial da saúde, estudos clínicos, ensino, atenção básica, vigilância sanitária, saúde nas fronteiras e outros”, disse a presidente da Fiocruz.

Nisia lembrou que o ministro da Saúde, Ricardo Barros, assumiu recentemente o compromisso de exportar mais vacinas para a América Latina. “Anlis e Fiocruz surgiram em um contexto em que ambos os países eram repúblicas oligárquicas e nos quais os estados nacionais começavam a se fortalecer. Temos origens e problemas comuns e, esperamos, um futuro comum”, comentou Nísia.

Segundo Ubeira, o dia passado na Fundação e as reuniões ao longo do dia foram “muito produtivas”. Ele disse que a Anlis quer estreitar ao máximo a colaboração com a Fiocruz e que a visita trouxe avanços significativos. Também não faltaram, por parte dos argentinos, elogios à arquitetura do Castelo, que o diretor da Anlis classificou como “belíssimo”.

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