26/01/2016
Fonte: Centro de Pesquisas René Rachou (Fiocruz Minas)
A casca do caramujo africano (Achatina fulica) pode servir de criadouro para o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, chikungunya e zika. Isso acontece porque, mesmo após a morte do molusco, a concha que ele carrega nas costas demora muito tempo para se degenerar, podendo acumular água de chuva. Para evitar esse problema, é preciso que o bicho seja eliminado e descartado corretamente.
“Uma das maneiras de fazer o descarte é queimar e enterrar as carcaças. O mesmo destino deve ter seus ovos, impedindo, assim, a proliferação dessa espécie. Mas, para fazer isso, é preciso proteger as mãos com um saco plástico ou luvas, evitando qualquer contato com o molusco ”, explica o pesquisador em helmintologia e malacologia médica da Fiocruz Minas, Omar dos Santos Carvalho. Segundo ele, esse cuidado é necessário porque o molusco é hospedeiro de um verme, o Angiostrongylus cantonensis, agente etiológico da meningoencefalite eosinofílica, doença que provoca a inflamação das meninges – membranas que recobrem o cérebro – e pode ser confundida com a meningite por ter sintomas bem parecidos.
No homem, a contaminação pelo A. cantonensis ocorre por meio de larvas contidas no muco produzido pelo caramujo durante sua locomoção. A transmissão também pode ocorrer pela ingestão de hortaliças e frutas, contaminadas pela larva do bicho.
De acordo com o pesquisador, há indícios de que o caramujo africano tenha chegado ao Brasil durante a década de 80. O molusco teria sido trazido ao país para ser comercializado como “escargot”, mas, como não houve aceitação no mercado brasileiro, a espécie pode ter sido solta no meio ambiente. Por não existir um predador natural no país, a proliferação foi bastante rápida.
“Além de não ter um inimigo natural, trata-se de uma espécie extremamente prolífica, que coloca em média 600 ovos por ano. Sobe em tudo quanto é lugar e, por isso, se espalha com muita rapidez, estando presente em quase todos os estados brasileiros”, diz.
Pesquisa – É importante salientar, entretanto, que o caramujo africano não é o único hospedeiro do A. cantonensis. Em 2008, após uma notificação de caso suspeito de contaminação pelo verme no município de Cariacica (ES), a equipe do Laboratório de Helmintologia e Malacologia Médica da Fiocruz Minas realizou um estudo, que identificou a presença do verme em quatro espécies de moluscos, entre elas o caramujo de jardim e a lesma. Na época, suspeitou-se que o parasita havia sido introduzido no país por meio de roedores infectados, vindos em grandes embarcações provenientes da Ásia e África. Diante dessa hipótese, o Ministério da Saúde financiou projeto para pesquisar moluscos contaminados com o verme no entorno dos portos brasileiros. A pesquisa foi realizada em 30 portos, abrangendo 16 estados. Os resultados demonstraram que o verme estava presente em 11 dos 30 portos investigados, ou seja, 36,6% deles.
Tanto o caramujo africano como os demais moluscos que atuam como hospedeiros do A. cantonensis vivem em ambientes sujos e úmidos, especialmente em terrenos com entulhos e fundos de quintal. Assim, a melhor forma de combater esses moluscos é cuidar da limpeza de tais espaços. Ao constatar a presença de grande quantidade deles, o melhor a fazer é entrar em contato com o setor de zoonoses do município para que a retirada dos moluscos seja realizada de maneira adequada.
“Os profissionais deverão realizar a remoção de forma correta, sem correr riscos de se contaminar. Além disso, vão saber identificar de que espécie de molusco se trata, evitando a eliminação de moluscos nativos, semelhantes à A. Fulica”, explica o pesquisador.
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