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Caminhada da Paz reúne centenas de pessoas em Manguinhos

Pessoas caminhando pelas ruas de Manguinhos

24/08/2017

Por: Luiza Gomes (Cooperação Social da Fiocruz)

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Centenas de pessoas participaram da Caminhada da Paz com Garantia de Direitos, no último domingo (20/8), na Rua Leopoldo Bulhões, em Manguinhos, no Rio de Janeiro. Conhecida como “Faixa de Gaza”, a região acumula registros de confronto entre polícia e traficantes, e margeia grande parte das 15 comunidades do Complexo de Manguinhos. O evento, que desde a primeira edição, em 2005, conta com apoio da Fiocruz, sofreu diversas modificações na programação, correndo o risco de cancelamento, em função das operações policiais que vinham ocorrendo na região. Parlamentares, imprensa nacional e internacional e coletivos de mídia independente acompanharam a manifestação.

De acordo com Patrícia Evangelista, articuladora da Gestão Participativa e Mobilização Social do projeto Teias-Escola Manguinhos (Ensp/Fiocruz) e membro da comissão organizadora, a Caminhada da Paz, concebida para ter forte expressão artística, converteu-se em um espaço de protesto para amplificar as vozes das lideranças sociais e moradores. Segundo a mobilizadora, o contexto é de reiteradas violações de direitos – de ir e vir, de direito à vida e à saúde, à educação, ao lazer, aos serviços públicos de forma geral, vinculados diretamente ou não à violência armada.

“O evento estava sendo programado há quatro meses e foi praticamente impedido de acontecer por conta de um quadro de violência armada muito grave em Manguinhos e Jacarezinho. [Essa violência ficou] mais acirrada desde o dia 10 de agosto, com seis mortos e dez feridos, após o assassinato de um agente da Core [Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil] na semana passada”, lembrou Patrícia.

Cortejo, contestação e gritos de ordem

Cerca de 200 pessoas participaram do cortejo pelas ruas das comunidades Samora Machel e Nelson Mandela, convidando moradores a se juntarem ao ato na Leopoldo Bulhões. Com megafones e bateria, os manifestantes convocavam a população para protestar contra a violência armada, a precariedade dos serviços públicos e o desrespeito de seus direitos.

Parte das pessoas que integravam a caminhada seguiu para a Av. Dom Hélder Câmara, que tangencia a favela do Jacarezinho, em solidariedade aos moradores do local, que sofriam com tiroteios há mais de uma semana. Na noite de sábado (19), em mais uma situação de confronto armado, quatro pessoas se feriram e duas morreram – uma delas, Georgina Maria Ferreira, de 60 anos, tia de dois professores da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz).

Em junho, a Cooperação Social da Presidência da Fiocruz promoveu o seminário Impacto da violência armada na saúde dos moradores de periferias, em parceria com outras unidades da Fundação. O setor também desenvolve pesquisas sobre a percepção social do adoecimento nas comunidades de Manguinhos, em razão do quadro de insegurança pública, além de publicações e outras atividades.

Premiações

Pela Fundação Oswaldo Cruz, estiveram presentes a Presidência da Fiocruz, a Cooperação Social da Presidência, a Coordenação Geral de Gestão de Pessoas (Cogepe), a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), o Centro de Saúde Escola Germano Sinval Farias (CSEGSF/Ensp), a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e o Museu da Vida (COC/Fiocruz).

Após a fala da diretora social do Ballet Manguinhos e a apresentação de três bailarinas do projeto social, o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc-SN) realizou a entrega da Medalha Jorge Careli de Direitos Humanos ao time de futebol feminino Estrelas do Mandela Futebol Clube e à Comissão dos Agentes Comunitários de Saúde de Manguinhos (Comacs). O Prêmio Sérgio Arouca de Saúde e Cidadania também foi concedido ao Fórum Basta de Violência - Maré e à militante Jane da Silva Carneiro, integrante da Organização Mulheres de Atitude (OMA) e de diversos outros espaços coletivos de Manguinhos.

A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, enviou uma mensagem lida pelo chefe de Gabinete, Valcler Rangel, endereçada à população de Manguinhos. Na nota, Nísia lamentou não poder estar presente por motivos de saúde, mas considerou “fundamental” a mobilização em um momento que qualificou como sendo de “intensificação de uma política de (in) segurança pública e afronta aos direitos de cidadania, sobretudo nas favelas e periferias do Rio de Janeiro”.  

No ano em que se lembra o centésimo aniversário de morte de Oswaldo Cruz, Nísia destacou a pertinência do momento da entrega da medalha Jorge Careli, que homenageia um trabalhador da Fundação vítima fatal da violência armada. A presidente se solidarizou com Rejany Ferreira, da Cooperação Social da Presidência da Fiocruz e professora do EJA (EPSJV/Fiocruz), e Rony Sérgio Ferreira Martins, também professor do EJA – ambos sobrinhos de uma das vítimas fatais do tiroteio no Jacarezinho.

A presidente da Fiocruz também ratificou a posição da instituição em relação aos direitos sociais e à política de segurança. “Temos que defender uma política de proteção às pessoas e enfrentar as causas que hoje levam à infame estatística de 20% de aumento da taxa anual de homicídios em nosso país”, dizia a nota.

Ao microfone, também discursaram, além dos organizadores do evento, as coordenações do Projeto Marias – Como posso ajudar meu filho especial?, do Estrelas do Mandela Futebol Clube, do Jornal Fala Manguinhos!, do Espaço Casa Viva – Rede CCAP, do Fórum Basta de Violência – Maré, da Comissão em Defesa do Abrigo Cristo Redentor, do Comacs; lideranças do morro da Indiana, presidentes de associações de moradores do Amorim, Mandela, Samora Machel, Embratel, Chapéu Mangueira, Arará, Faz Quem Quer, Chapadão, Maré e Jacarezinho.

Estiveram presentes membros do Conselho Gestor Intersetorial (CGI/Teias), da Associação de Pós-Graduandos da Fiocruz, do Colégio Estadual Clóvis Monteiro, do Instituto Raízes em Movimento, da Federação de Favelas do Rio de Janeiro (FAF-RJ), assim como líderes religiosos, Socorristas Comunitários, a Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (Faferj), a Organização Mulheres de Atitude (OMA), a Agência de Comunicação Comunitária de Manguinhos, o  Conselho Comunitário de Segurança do 22º BPM, o Projeto Recriando Manguinhos, o Revolucine, e o Projeto Criança Pequena em Foco (Cecip).

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