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Abertura do ano letivo da Fiocruz debate mulheres nas prisões


05/03/2018

Por: Leonardo Azevedo (CCS/Fiocruz)

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Olhares femininos no cárcere é o tema de abertura do ano letivo da Fiocruz, que será realizada no dia 8 de março, às 9h, no Museu da Vida, no campus da Fundação em Manguinhos, no Rio de Janeiro (Avenida Brasil, 4.365). A pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Maria do Carmo Leal, uma das coordenadoras do estudo Nascer nas prisões, e a fotógrafa Nana Moraes, autora da exposição Ausência, estarão à mesa de debates. O evento contará ainda com a presença da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, e do vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação, Manoel Barral Netto. 

No Dia Internacional da Mulher, a discussão traz à tona os dados estatísticos relacionados às condições de vida e de saúde da população feminina encarcerada – e os sentimentos de quem vive e de quem conheceu essa realidade – e apresenta uma trilogia autoral sobre a vida de mulheres estigmatizadas e as relações dessas mulheres com seus filhos e familiares por meio de fotografias e cartas.

Durante o evento será apresentado um vídeo com imagens da exposição Ausência e duas atrizes farão uma leitura dramatizada de três cartas que fazem parte da mostra e de dados da pesquisa Nascer nas prisões. Haverá ainda um momento de fala aberta para os participantes do evento. 

Nascer nas prisões

O estudo Nascer nas prisões, coordenado pelas pesquisadoras Maria do Carmo Leal e Alexandra Roma Sánchez, ambas da Ensp/Fiocruz, descreve pela primeira vez, em nível nacional, o perfil da população feminina encarcerada que vive com seus filhos em unidades prisionais femininas das capitais e regiões do Brasil, assim como as características e práticas relacionadas à atenção, gestação e parto durante o encarceramento. 

A pesquisa revela, por exemplo, que mais de um terço das mulheres presas grávidas relataram o uso de algemas na internação para o parto, 83% têm pelo menos um filho, 55% tiveram menos consultas de pré-natal que o recomendado, 32% não foram testadas para sífilis e 4,6% das crianças nasceram com sífilis congênita. A análise foi feita com base em uma série de casos provenientes de um censo nacional, realizado entre agosto de 2012 e janeiro de 2014. Foram ouvidas 241 mães e 200 grávidas: 45% com menos de 25 anos, 57% de cor parda, 53% com menos de oito anos de estudo e 83% com mais de um filho. 

O trabalho ajudou a embasar a decisão inédita tomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 20 de fevereiro de 2018, de conceder habeas corpus coletivo para mães e gestantes que se encontram em prisão preventiva. Salvo casos de crimes cometidos com violência, essas mulheres passam agora a cumprir prisão domiciliar. A decisão levou em conta a condição degradante das prisões no Brasil e a consequência disso para a saúde e a vida dessas mulheres e crianças. A pesquisadora Maria do Carmo Leal comenta o estudo e a decisão do STF em vídeo:

Ausência

Já a mostra Ausência, de autoria da fotógrafa Nana Moraes, retrata a realidade de mulheres presas e suas relações com filhos e familiares, construída por meio de fotografias, troca de cartas e tecidos costurados e bordados em forma de colchas, mantas e toalhas. A exposição faz parte da trilogia DesAmadas, onde Nana desvela a vida de mulheres estigmatizadas. O primeiro volume foi lançado em 2007 com o livro Andorinhas, que investiga a vida de prostitutas de estrada. 

O trabalho Ausência começou em 2011 com muita pesquisa e a persistência da autora para conseguir as autorizações necessárias para adentrar as prisões. Dezoito mulheres do presídio Nelson Hungria, do Complexo de Gericinó em Bangu, no Rio de Janeiro, foram escolhidas pela Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap). Elas tiveram a oportunidade de se conectarem novamente com seus filhos que não viam ou nem sabiam como estavam por muitos anos, por meio de fotografias e cartas, meios de comunicação favoritos de Nana.

Palestrantes

Pesquisadora da Ensp/Fiocruz e coordenadora da pesquisa Nascer nas Prisões, Maria do Carmo Leal foi vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz e diretora da Ensp/Fiocruz. Tem experiência em docência e investigação na área da Saúde Pública, com ênfase em Epidemiologia, atuando principalmente nos seguintes temas: iniquidades em saúde da mulher, criança e adolescente, mortalidade infantil, neonatal e perinatal, parto e nascimento, cuidados básicos de saúde e avaliação de programas. Orientou mais de 50 teses de Doutorado e dissertações de Mestrado. Publicou mais de 150 artigos científicos, livros e capítulos de livros. Por três vezes foi Cientista do nosso Estado - Rio de Janeiro. Foi diretora da Editora Fiocruz, participa do comitê editorial da Revista Materno Infantil de Pernambuco e é editora associada da Revista Brasileira de Epidemiologia (RBE/Abrasco). Confira o currículo lattes.

A fotógrafa Nana Moraes é formada em jornalismo pela PUC de São Paulo e há 28 anos colabora para os mercados editorial, cultural e publicitário. Foi seis vezes vencedora do Prêmio Abril de Jornalismo e premiada pela Associação Brasileira de Propaganda como Destaque Profissional/Fotografia, em 2007 e 2011. Participou de várias exposições coletivas, destacando-se A Imagem do Som da MPB e A Imagem do Som do Samba, no Paço Imperial, no Rio de Janeiro; e Eternal Feminine Plural, na International Labor Organization, em Genebra, na Suíça. Em 2011, publicou o livro Andorinhas.

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