A primeira edição de 2018 da revista Ciência e Saúde Coletiva [1] (vol.23 n.1) está disponível on-line e aborda como tema a situação atual da investigação qualitativa. Os pesquisadores portugueses Catarina Brandão, Jaime Ribeiro e António Pedro Costa, que assinam o editorial, consideram que a comunidade científica reconhece cada vez mais a importância de integrar a perspectiva qualitativa nos processos de investigação, de modo a produzir conhecimento holístico e útil sobre a complexidade da experiência humana. “A investigação qualitativa tem preocupações sociais e dá destaque aos interesses de atores sociais. Dá voz às pessoas, à sociedade, muitas vezes a grupos minoritários, explicitando como processos são vividos e os significados que lhes são atribuídos. Esta premissa central é, cada vez mais, entendida enquanto uma mais-valia, avançando-se assim para além da hegemonia do paradigma quantitativo na investigação”, observam.
Essa edição da revista conta com seis artigos apresentados no 5° Congresso Ibero-Americano em Investigação Qualitativa [2], sujeitos a reformulação e a avaliação por pares. A seleção procurou a diversidade metodológica e dar voz a vários grupos de profissionais e futuros profissionais no campo da saúde coletiva, com a discussão internacional dos objetos de estudo, procurando contribuir para o equilíbrio entre um mundo que é globalizado e a necessidade de privilegiar o que é único e particular. Foram selecionados artigos que apresentam diversas abordagens fenomenológicas e metodológicas e que focam atores sociais do campo da saúde.
Em um dos artigos da revista, Avaliação de percepções sobre gestão da clínica em cursos orientados por competência [3], os pesquisadores Romeu Gomes, do Hospital Sírio-Libanês (São Paulo); Roberto de Queiroz Padilha e Valéria Vernaschi Lima, da Universidade Federal de São Carlos; e Cosme Marcelo Furtado Passos da Silva, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) avaliam percepções de domínio de capacidades em gestão da clínica de participantes de cursos orientados por competência e baseados em metodologias ativas de ensino-aprendizagem, antes e após o processo de formação oferecido. Três marcos conceituais foram utilizados: gestão da clínica, expectativa de autoeficácia e concepção holística de competência. O conjunto dos sujeitos que participaram simultaneamente nos dois momentos foi composto de 825 especializandos.
Na análise, foram utilizados média, mediana, desvio-padrão e o teste de Wilcoxon. Em termos de resultados, em geral, a percepção de domínio de capacidades em gestão da clínica aumentou após os cursos, evidenciando a contribuição positiva do processo na formação dos especializandos. Conclui-se, dentre outros aspectos, que as iniciativas educacionais estudadas, orientadas por competência e baseadas em metodologias ativas de ensino e aprendizagem, podem obter, dentre os seus resultados, o aumento da percepção de seus participantes acerca do domínio de capacidades presentes no perfil de competência, confirmando a hipótese do estudo.