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Fiocruz participa da campanha 21 Dias de Ativismo contra o Racismo


27/03/2024

Carín Nuru (Cedipa/Fiocruz)

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Durante os primeiros 21 dias do mês março, diversas atividades foram realizadas em diferentes espaços para enfrentar as desigualdades e violências raciais, conscientizar a população sobre o racismo e defender a importância de políticas públicas antirracistas. Neste contexto, setores da Fiocruz se engajaram ativamente na campanha 21 Dias de Ativismo Contra o Racismo, uma frente de luta autogestionada e criada por ativistas do movimento negro em 2017. Uma das ações organizadas pela Fiocruz foi a roda de conversa Mulheres negras por uma sociedade antirracista, em 19 de março, pela Coordenação de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas (Cedipa/Fiocruz). 

Em entrevista, a coordenadora do eixo de Relações Étnico-Raciais da Cedipa/Fiocruz, Roseli Rocha, explica a importância da campanha e destaca a participação da Fiocruz e perspectivas de desdobramentos institucionais. 

Cedipa/Fiocruz: O que é a campanha 21 Dias de Ativismo contra o Racismo e como essa iniciativa contribui para a luta antirracista? 

Roseli Rocha: A campanha faz referência ao dia 21 de março - Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em memória ao massacre ocorrido em Shaperville, em Joanesburgo, África Sul, em 1960, quando dezenas de pessoas foram mortas e mais de 100 ficaram feridas por estarem lutando contra as medidas de restrição de liberdade aplicadas pelo regime do Apartheid. A campanha está em sua 8ª edição e contribui fortemente para a visibilidade das pautas antirracistas, ampliando os canais de reflexão e debates sobre o racismo e suas múltiplas expressões na vida da população negra no país. Oferece espaços diversos para essa discussão, tanto nas áreas de educação, através de atividades em escolas, como na cultura e no âmbito da política de saúde. 

Cedipa/Fiocruz: De que maneira as discussões e ações promovidas pela campanha podem impactar positivamente não apenas a Fiocruz, mas também a sociedade em geral? 

Roseli Rocha: Sob a liderança de uma mulher negra e ativista antirracista, Luciene Lacerda, a campanha já existe desde 2017 e vem, a cada ano, ampliando o número de atividades e de participantes, com o objetivo de denunciar as violências raciais e violações de direitos contra a população negra, desnaturalizar as desigualdades raciais, mostrando que elas são decorrentes do racismo estrutural e devem ser enfrentadas por políticas públicas em todas as esferas de governo e áreas de atuação do Estado. Sem dúvida, a campanha 21 Dias de Ativismo contra o Racismo, que aconteceu de 1° a 21 de março, tem sido uma ação política potente, tanto no sentido mais amplo de luta pela eliminação do racismo, quanto para a construção de práticas antirracistas nas relações pessoais e institucionais. E a Fiocruz vem propondo anualmente atividades para integrar a programação da campanha, seja a partir das unidades, seja a partir do Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça e do Coletivo Negro Fiocruz e, agora, também pela Cedipa/Fiocruz. O que vai ao encontro do movimento por mudanças no dia a dia da nossa instituição e da nossa Política de Equidade Étnico-Racial e de Gênero da Fiocruz, diante do racismo que também se evidencia no nosso cotidiano.  

Cedipa/Fiocruz: Como as ações da Fiocruz podem estar alinhadas com a campanha 21 Dias de Ativismo contra o Racismo? 

Roseli Rocha: O fortalecimento das pautas do movimento negro e de mulheres negras contribui para o avanço de políticas efetivas de enfrentamento ao racismo estrutural em suas múltiplas dimensões: interpessoal, institucional, recreativo, religioso, ambiental. Desta forma, ações empreendidas pela Fiocruz, na educação e pesquisa, comunicação e informação, assim como nos serviços, gestão e trabalho, precisam estar em constante diálogo com os movimentos sociais e com as organizações da sociedade civil que atuam em espaços e territórios socialmente vulnerabilizados. Aquela expressão hoje bastante conhecida “nada sobre nós, sem nós”, precisa, de fato, ser realidade de nossas relações, condutas, procedimentos e atitudes no cotidiano institucional, além dele, em nossos círculos sociais, de afeto e familiares. 

Cedipa/Fiocruz: Qual é a importância do eixo de Relações Étnico-Raciais na atuação da Cedipa/Fiocruz e como pode contribuir para a promoção da equidade e diversidade na instituição? 

Roseli Rocha: Enfrentar as desigualdades em suas múltiplas dimensões nos impele a atuar no campo das políticas públicas numa perspectiva plural, buscando alcançar os diversos segmentos historicamente discriminados, seja através de ações diretas, como a implementação de políticas de ação afirmativa em espaços acadêmicos e concursos públicos, seja a partir da formação permanente sobre as implicações do racismo, da misoginia, da LGBTIfobia e do capacitismo na produção dessas desigualdades. O nosso compromisso ético-político tem como horizonte esse olhar interseccional, que rompe com discursos e ações fragmentadas, que não reconhecem as pessoas em sua totalidade e diversidade. É sempre bom sublinhar que a defesa da diversidade tem que ser na perspectiva da equidade, para evitarmos a ideia de que apenas tendo uma representação simbólica nos espaços institucionais, já teríamos assim garantida a diversidade. Essas e outras reflexões temos buscado fazer através do eixo étnico-racial da Cedipa, visando o fortalecimento de iniciativas pela equidade no SUS e, especialmente, no âmbito de nossa atuação na Fiocruz.  

Cedipa/Fiocruz: Como a Cedipa busca engajar a comunidade Fiocruz na conscientização e na construção de práticas antirracistas, e qual é o papel da Cedipa nesse processo? 

Roseli Rocha: A criação da Cedipa expressa o compromisso da Fiocruz em defender a equidade preconizada pelo SUS e ratificada pelos dois últimos Congressos Internos (o VIII e o IX). Creio que estejamos no caminho certo em defesa de uma nova cultura institucional de valorização da diversidade e de fortalecimento de iniciativas antirracistas. Contudo, não podemos deixar de ressaltar que o racismo é estrutural em nosso país e têm impacto violento sobre a vida das populações negras e indígenas. A Fiocruz, como parte desta sociedade, não está isenta de produzir e reproduzir esse modus operandi da sociedade e Estado brasileiro. Acredito que a Cedipa exerce um papel importante e estratégico para a construção e consolidação de políticas antirracistas e já vem atuando nessa direção em conjunto com o Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz, trabalhadores e trabalhadoras, gestores, movimentos sociais e coletivos negros, provocando debates, promovendo oficinas e curso de formação antirracista, participando de iniciativas de valorização da diversidade pela equidade em todos os campos de atuação institucional. E, para isto, tem convocado toda a Fundação a se empenhar na implementação da Política de Equidade Étnico-Racial e de Gênero da Fiocruz.  

A participação ativa da Fiocruz na campanha 21 Dias reflete esse compromisso contínuo da instituição com a luta antirracista e a promoção da equidade. As discussões e ações promovidas durante esse período não apenas fortalecem a conscientização interna da Fundação, mas também contribuem para uma transformação mais ampla na sociedade, incentivando o reconhecimento e a valorização da diversidade étnico-racial. Com um olhar voltado para o futuro, a Fiocruz reafirma seu papel como agente de mudança e defensora de uma sociedade mais inclusiva e igualitária para todas as pessoas. 

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