18/02/2025
Luisa Picanço (VPEIC/Fiocruz)
Se o estereótipo do cientista como um homem excêntrico ainda é comum, para tornar a ciência mais acessível, inclusive às mulheres, é necessário desconstruí-lo. Um estudo com dados do CNPq (2021), intitulado “Desigualdades de Gênero por Área de Conhecimento na Ciência Brasileira: Panorama das Bolsistas PQ/CNPq”, revelou algumas das principais desigualdades de gênero na ciência: mulheres ainda são minoria na produção científica global, enfrentam barreiras no avanço da carreira e têm pouca representatividade em cargos de liderança.
Segundo a Unesco, globalmente, os homens ainda são maioria entre os pesquisadores universitários. No Brasil, no entanto, os dados mostram um avanço na presença feminina, com 49% das publicações científicas do país contando com autoras mulheres em 2022, de acordo com um relatório BORI-Elsevier (2024). Apesar do progresso, o estudo destaca que a participação feminina diminui ao longo da trajetória acadêmica, mostrando desafios na progressão da carreira.
Outro dado importante no relatório é a baixa participação de mulheres em inovação. A presença feminina em patentes de invenção no Brasil, por exemplo, é limitada. Pedidos de patentes feitos exclusivamente por mulheres variam entre 3% e 6%, apenas.
Para incentivar a promoção da equidade de gênero na ciência, o Programa Fiocruz Mulheres e Meninas na Ciência realiza eventos como o recente “Imersão no Verão 2025”, realizado entre 10 e 14 de fevereiro. O evento, destinado a estudantes do ensino médio da rede pública do Rio de Janeiro, teve como referência o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência (11 de fevereiro) instituído desde 2015 pelas Nações Unidas com o objetivo de promover atividades que deem mais visibilidade ao trabalho de mulheres em áreas de pesquisa científica e tecnológica.
Pesquisadoras do PROCC e estudantes cariocas na sede do programa. (Luisa Picanço/Fiocruz)
O Programa de Computação Científica da Fiocruz (PROCC), coordenado pela Vice-presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz (VPEIC) participou da iniciativa promovendo uma roda de conversa no dia 13, reunindo quatro cientistas que se destacam em áreas tradicionalmente exercidas por homens. A pesquisadora do PROCC, Alexandra Almeida, foi a organizadora do encontro, formulando questões e respondendo dúvidas. Durante a discussão, as quatro compartilharam suas trajetórias e desafios com as estudantes. São elas:
Momento da roda de conversa, dentro do do PROCC. (Luisa Picanço/Fiocruz)
No encontro, as estudantes expressaram dúvidas como, por exemplo, de que forma as cientistas conciliaram mestrado ou doutorado com o trabalho. As pesquisadoras destacaram a importância das bolsas de pesquisa e do apoio familiar, além de enfatizarem a necessidade de persistência para seguir na ciência, apesar dos desafios na progressão de carreira.
Além das pesquisadoras, o PROCC conta com a colaboração de mulheres na gestão. Ana Lúcia Teixeira, analista de gestão do programa, desempenha um papel essencial no apoio e desenvolvimento das atividades científicas, além de apoiar iniciativas do Hub TGHN Fiocruz e do Hub TGHN LAC na Rede Global de Saúde (do inglês The Global Health Network).
No cenário global, a vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz (VPEIC), Cristiani Machado, lidera o projeto da The Global Health Network América Latina e Caribe (TGHN LAC), com co-liderança dos pesquisadores do PROCC, Ernesto Caffarena e Leonardo Bastos. A equipe brasileira, composta por seis mulheres, conduz iniciativas como treinamentos, webinários e oficinas para ampliar a representatividade feminina na ciência.
Mais do que inspirar meninas, as trajetórias dessas mulheres, tanto na pesquisa quanto na gestão em Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM), são exemplos de superação diante dos desafios de acesso e permanência nessas áreas.
No campo da saúde, suas contribuições demonstram que investir na participação feminina impulsiona a inovação, já que equipes diversas têm maior potencial criativo com capacidade de encontrar soluções eficazes. Além disso, a presença feminina ajuda a evitar vieses em pesquisas conduzidas sob uma perspectiva masculina.
Dar visibilidade a cientistas mulheres fortalece a representatividade e incentiva novas gerações, pois mostra que há espaço além dos estereótipos e motiva meninas e outras mulheres a seguirem carreiras científicas.