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Alunas do Ensino Médio do Rio de Janeiro conhecem o universo científico de pesquisadoras do IOC


17/02/2020

Por: Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz

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Reportagem: Kadu Cayres
Edição: Vinícius Ferreira

Quinze alunas do Ensino Médio da rede pública do Estado do Rio de Janeiro tiveram a oportunidade de acompanhar de perto o fazer científico de 29 pesquisadoras do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). O objetivo foi mostrar que lugar de mulher também é na ciência.

Intitulada ‘Mais Meninas na Ciência’, a iniciativa, promovida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foi realizada na última segunda-feira (10/02). As estudantes tiveram contato direto com atividades de pesquisa realizadas em diferentes áreas do conhecimento ligadas à saúde pública, como HIV, leishmaniose, doença de Chagas e bioinformática. O projeto aconteceu em alusão ao Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado ontem (11).

Estudante do Colégio Pedro II – Unidade Realengo, Juliana Rocha passou o dia no Laboratório de Aids e Imunologia, juntamente à pesquisadora Monick Lindenmeyer. “Aprendi bastante sobre HIV, Aids e o conjunto dos mecanismos de defesa do organismo contra o vírus”, disse a aluna.

A cientista explicou que a visita foi realizada em duas partes. “Primeiramente, nos divertimos com o jogo ‘Sim ou não: como se infecta pelo HIV?’. Dessa forma, foi possível observar o nível de conhecimento da estudante em relação ao HIV. Em seguida, apresentamos os subtipos do vírus e a estimativa de pessoas vivendo com HIV no mundo. Em um segundo momento, fomos além da biologia molecular e mostramos um pouco das atividades de citometria do Laboratório”, explicou a chefe do Laboratório. “Quando cheguei aqui não esperava encontrar tantas mulheres. Isso me deixou motivada”, comentou Juliana.

A estudante Juliana Rocha durante atividade prática no Laboratório de Aids e Imunologia

Foto: Gutemberg Brito (IOC/Fiocruz)

Na visita ao Laboratório de Pesquisa em Leishmaniose, Maria Eduarda Bento, do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), acompanhou a rotina da pesquisadora Elisa Cupolillo. Para a jovem, foi a oportunidade que faltava para reafirmação do desejo de ser cientista. “Agora, depois de participar do projeto, de conhecer o dia a dia dessas cientistas, vejo que o trajeto não é fácil, mas que também não é impossível”, disse.

Segundo Cupolillo, assim que soube do projeto, aceitou fazer parte – tanto por fortalecer o reconhecimento do Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, quanto pelo fato de o contexto da data ir ao encontro de sua trajetória pessoal e profissional. “Sou mulher, mãe de dois filhos e pesquisadora. Conheci de perto as dificuldades que é se manter firme em um ambiente majoritariamente masculino. Mas isso está mudando, e eu sou, como chefe de laboratório, exemplo disso. Para essas meninas, digo: não desistam. Não será fácil, mas se fizerem o que gostam e se dedicarem, encontrarão seus lugares na ciência”, comentou.

No Laboratório de Pesquisa em Leishmaniose, o grupo organizou uma roda de conversa, com o intuito de apresentar um pouco da trajetória de cada mulher da equipe

Foto: Gutemberg Brito (IOC/Fiocruz)

Já para Amanda Ferreira, do CIEP 358 – Alberto Pasqualini, visitar o Laboratório de Genômica Funcional e Bioinformática aumentou ainda mais seu interesse pela biologia molecular. “Quando soube do projeto, logo de cara me interessei. Conheci a área de biologia molecular no 9º ano do ensino fundamental e foi paixão à primeira vista. Chegar aqui e perceber que a Fiocruz tem muitas mulheres fazendo ciência, me deu a certeza de que eu também posso. Vou me esforçar para que isso aconteça”, declarou.

Visita de Amanda Ferreira (à esq), do CIEP 358 – Alberto Pasqualini, ao Laboratório de Genômica Funcional e Bioinformática

Foto: Gutemberg Brito (IOC/Fiocruz)

Para a passagem da estudante pelo Laboratório foi planejada a atividade de extração do DNA de um morango e a apresentação de tópicos relacionados à bioinformática, visto o fato de a aluna ter manifestado interesse pelo assunto durante a visita. “Assim como a Amanda, decidi seguir carreira na área aos 16 anos, quando, pela primeira vez, vi uma molécula de DNA”, pontuou Leila de Mendonça Lima, pesquisadora do Laboratório de Genômica Funcional e Bioinformática.

Atividades práticas marcaram também a visita de Camily Evangelista, da Escola Estadual Brasil-Turquia, em Duque de Caxias, ao Laboratório de Biologia das Interações. Preparo de PCR, acompanhado da apresentação prévia dos objetivos, etapas e da reação do procedimento, assim como noções de microscopia e cultivo celular, fizeram parte da programação. “De todo o universo científico que pude conhecer melhor, o que mais me chamou atenção durante a visita foi a paixão com que cada profissional falou sobre o que faz. Ficou nítido que aqui todos são apaixonados por ciência”, ressaltou a aluna.

Atividades práticas, como preparo de PCR, marcaram também a visita de Camily Evangelista, da Escola Estadual Brasil-Turquia, ao Laboratório de Biologia das Interações

Foto: Gutemberg Brito (IOC/Fiocruz)

Joseli Lannes, chefe do Laboratório, destacou que iniciativas como essa encorajam jovens meninas a lutar pelos seus sonhos. “Fui a primeira mulher pós-doc no Instituto Max-Planck de Neurobiologia (Alemanha), em uma época que existiam poucas cientistas na área de bioquímica e neurociência. Neste período, observei que a atuação feminina no laboratório em que eu estava era condicionada sempre a cargos de técnica, secretária, nunca de pesquisadora, chefe. Os quatro anos que passei lá, vi esse cenário mudar. Por isso, digo a essas meninas que não desistam de seus sonhos’”, frisou.

Universo feminino no IOC

Os números mostram a marca da presença feminina no Instituto. Entre servidores, terceirizados, bolsistas, colaboradores voluntários e profissionais sob cargo em comissão – o que totaliza um universo de mais de mil pessoas – 625 são mulheres. Nos Programas de Pós-graduação Stricto sensu e Lato sensu, tal presença se revela ainda maior: dos 750 estudantes matriculados, 464 são meninas. Ou seja, mais de 50% do quadro discente do IOC é composto por mulheres, fato que possibilita vislumbrar uma atuação ainda maior das mulheres na ciência em um futuro próximo.

Mas para que este futuro com igualdade de gêneros seja verossímil, o papel de algumas cientistas no passado foi determinante. A exemplo disso está a pesquisadora Maria José Von Paumgartten Deane, importante protozoologista brasileira, tendo mais de 150 trabalhos publicados em periódicos nacionais e estrangeiros.

Junto ao marido Leônidas de Melo Deane, também parasitologista, a cientista se dedicou às pesquisas de campo e de laboratório, no combate a males endêmicos como malária, filariose, leishmaniose visceral, verminose e leptospirose. Juntos, eles também ajudaram a fundar o Instituto Evandro Chagas, o Serviço de Malária do Nordeste e o Serviço Especial de Saúde Pública. De volta ao Brasil após o exílio, em 1980, Maria Deane chefiou o departamento de Protozoologia do IOC (hoje Fiocruz), onde também foi vice-diretora.

Em consequência de todo esse pioneirismo, o primeiro artigo assinado por uma mulher na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) foi de Maria Deane. Publicado em 1938, o trabalho sobre Leishmaniose Visceral Americana aborda desde dados sobre a moléstia, a classificação de uma nova espécie de parasita e o perfil epidemiológico, ao mecanismo de transmissão.

Sobre o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência

Celebrado anualmente em 11 de fevereiro, o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência é liderado pela UNESCO e pela ONU Mulheres em colaboração com instituições e parceiros da sociedade civil que promovem o acesso e a participação de mulheres e meninas na ciência. A data foi aprovada pela Assembleia das Nações Unidas em 22 de dezembro de 2015, por meio da Resolução A/RES/70/212, para promover o acesso integral e igualitário da participação de mulheres e meninas na ciência.

 

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