Fiocruz

Fundación Oswaldo Cruz una institución al servicio de la vida

Início do conteúdo

Formação da Fiocruz busca incentivar agriculturas sustentáveis e saudáveis


28/02/2023

Angélica Almeida (Agenda de Agroecologia/VPAAPS)

Compartilhar:

Conhecer o funcionamento, as estruturas e estratégias de gestão de agroecossistemas para apoiar a transição para agriculturas sustentáveis e saudáveis em Petrópolis. Foi com este objetivo que o Fórum Itaboraí: Política, Ciência e Cultura na Saúde (Fiocruz Petrópolis) e a Agenda de Saúde e Agroecologia da Fiocruz -  sob coordenação da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS) - realizaram uma formação sobre o Método LUME, em parceria com AS-PTA - Agricultura Familiar e Agroecologia, nos últimos 7 a 10 de fevereiro.

A iniciativa compõe as ações do Projeto Ará e foi realizada no Bonfim, comunidade de atuação do projeto com significativa área agrícola de cultivo de alimentos e plantas ornamentais, localizada no entorno do Parque Nacional da Serra dos Órgãos,  importante reserva de flora e fauna do Rio de Janeiro.


Foto: Valdirene Militão/FMA

Participaram da formação agricultoras e agricultores locais, bem como representantes de diferentes organizações parceiras: Fiocruz Mata Atlântica (FMA/VPAAPS), Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis (OTSS/VPAAPS), Fórum de Comunidades Tradicionais de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba (FCT), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Rede Bonfim Mais Verde, Associação de Agricultores Biológicos do Estado Rio Janeiro (ABIO), Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) do Sistema Único de Saúde (SUS) de Petrópolis, Núcleo Ecologias, Epistemologias e Promoção Emancipatória da Saúde (Neepes/ENSP/Fiocruz), Parque Nacional da Serra dos Órgãos (Parnaso/ICMBio) e Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro (ITERJ).

Marcelle Felippe, articuladora territorial da Agenda de Saúde e Agroecologia, explica que o método foi escolhido por ser um caminho cuidadoso de chegar às comunidades e ampliar o entendimento sobre aspectos importantes, por meio de “olhares complexos e plurais sobre os agroecossistemas e as diferentes agriculturas praticadas”, além de favorecer a apropriação do instrumento pelas próprias famílias produtoras, a fim de que elas se reconheçam ao longo da execução da proposta.

Durante a atividade, o coordenador executivo da AS-PTA e um dos idealizadores do método, Paulo Petersen, expôs os fundamentos da análise econômico-ecológica de agroecossistemas, refletindo sobre os espaços socioprodutivos. Petersen chamou atenção para aspectos invisibilizados pela economia convencional, destacando que a riqueza e a renda dos quintais e das agriculturas praticadas nas comunidades quilombolas, caiçaras e dos povos originários - baseadas em valores sociais como reciprocidade, solidariedade e troca -, não necessariamente se convertem em renda monetária, mas são essenciais para uma boa dinâmica de fluxo e autonomia das famílias. 


Foto: Valdirene Militão/FMA

Contextualizando a realidade da região serrana fluminense, foram apresentadas e discutidas as teses de doutorado de André Corrêa e Juliano Palm, que aprofundam as dinâmicas de sistemas agroalimentares no acesso às políticas públicas, na comercialização,  na prática da agricultura com uso de agroquímicos sintéticos e na regularização fundiária.

O diálogo foi enriquecido pela partilha da experiência concreta de dois agricultores que vivem em áreas rurais distintas de Petrópolis: Fabiano Azevedo, do Bonfim, e Fabrício Melo, do Brejal. Tais contribuições teóricas e empíricas reforçaram a necessidade de se trabalhar não só a transição agroecológica no território, mas de fortalecer a atuação da rede serrana de agroecologia e o combate à fome na região, por meio do acesso a mercados diversos que permitam a geração de renda e a autonomia das famílias - todos estes eixos do projeto “Caminhos para fortalecimento da Transição Agroecológica na Promoção da Saúde em Petrópolis”. 

Finalizada a exposição de conceitos e metodologias do LUME, as cerca de 25 pessoas participantes se dividiram em quatro grupos para fazer a aplicação prática com duas famílias no Bonfim: a de Ana Cristina Pimenta, Laila Pimenta e Silvana Pimenta, e a de Fabiano Azevedo, Manoel Francisco de Azevedo e Vera Regina de Azevedo; e duas famílias no Brejal: a de Levi Gonçalves de Oliveira, Marcela da Silva Oliveira e Edson da Silva Oliveira, e a de Jackeline Rodrigues e Gustavo Rodrigues.

Lucia Helena Almeida, agrônoma do Fórum Itaboraí, avalia que olhar para unidades produtivas tão diversas, sob a lente do LUME, traz elementos para pensar caminhos que diversifiquem a produção sob bases sustentáveis, de modo que os alimentos circulem dentro das próprias comunidades: “Vimos, por exemplo, em um dos agroecossistemas estudados, que a estratégia de venda de alimentos de porta em porta, criada pela família em um contexto de perda de mercado durante a pandemia, fez com que, além de diversificar a produção e gerar renda, fosse usado menos agrotóxicos na unidade, diminuindo o custo de produção, aliado à possibilidade de a família ter mais alimentos disponíveis para autoconsumo, demonstrando a importância da construção de mercados territoriais no processo de transição agroecológica”, afirma.

Como avanços dos trabalhos de campo, cada grupo construiu: uma ficha de registro que aprofunda aspectos relacionados à composição do núcleo familiar, sua capacidade produtiva e da forma como o trabalho se organiza, ao acesso a terra e outros espaços naturais; registros fotográficos e textuais da caminhada pelos diferentes ambientes que compõem a unidade produtiva, buscando compreender a configuração do sistema produtivo, a distribuição espacial das atividades, a infraestrutura presente, as práticas de manejo realizadas, e a divisão sexual do trabalho e dos papéis na tomada de decisão. Também foram feitos uma linha do tempo, buscando reconstituir a trajetória da família e o histórico do agroecossistema; e um mapa (croqui) de identificação visual dos fluxos de funcionamento, que permite entender como atuam as diversas forças de trabalho da família, em especial o trabalho feminino, além de identificar a origem e destino dos insumos e produtos, a fim de distinguir os diversos tipos de mercados existentes, tanto para a compra de insumos como para a venda dos produtos.
As vivências de cada grupo foram partilhadas enriquecendo, de forma coletiva, os olhares para as semelhanças e diferenças entre as realidades visitadas, assim como a compreensão de como são tecidas as relações no interior das famílias e nas comunidades, a partir de marcadores sociais como gênero e geração. "A gente vê o quanto de riqueza, de organização e de possibilidades que essas quatro experiências trouxeram. É muito importante a gente poder ver as experiências, poder ouvir e trazê-las para uma roda de compartilhamento.", destacou o agricultor Fabiano Azevedo.

“Após a atividade, conversamos sobre como outros métodos e instrumentos complementares, a exemplo da caderneta agroecológica e a facilitação gráfica, podem estar associados ao LUME para que as famílias vejam seus espaços representados de forma mais detalhada e artística, construam um lugar de memória e de reflexão sobre os rumos do seu agroecossistema”, conta Marcelle.


Foto: Valdirene Militão/FMA

Além das visitas, a realização do curso em forma de imersão na comunidade, com a participação de diferentes atores, buscou aproximar as pessoas das questões concretas do lugar e, nos momentos de intervalo da programação oficial, avançar em um conjunto de trocas de informações e articulações necessárias para o fortalecimento da atuação em rede. 

Como desdobramentos da formação, foram pactuados os próximos passos de continuidade de aprendizado e aplicação do método. A previsão é que o segundo módulo aconteça em maio e aprofunde a análise qualitativa, por meio da avaliação dos atributos de sustentabilidade. As equipes da Fiocruz Mata Atlântica e do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis, bem como as parcerias locais, seguirão enriquecendo os estudos em Petrópolis e em seus territórios de atuação, o que vai contribuir para a elaboração de Planos de Inovações Agroecológicas para os agroecossistemas envolvidos nos respectivos projetos.

 

Volver arribaVolver