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Povos indígenas se reúnem em Brasília para discutir agroecologia indígena e estratégias contra a crise climática


02/12/2024

Suzane Durães (Coordenação de Ambiente - VPAAPS/Fiocruz)

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Em Brasília, o 1º Encontro Nacional de Agroecologia Indígena (Enai) reuniu cerca de 200 indígenas de 40 povos diferentes, além de representantes do governo federal e instituições parceiras como a Fiocruz, que discutiram a agroecologia indígena como estratégia e ferramenta de enfrentamento da insegurança alimentar e das crises sociais, ambientais e econômicas.

Foto Ismael Kaiowa

Durante o encontro, realizado de 26 a 29 de novembro, foram abordados temas centrais, como os princípios da agroecologia indígena, autonomia dos povos indígenas, o respeito à natureza, a produção de alimentos nos territórios indígenas e o enfrentamento às mudanças do clima. 

Renomados pensadores indígenas também debateram alternativas para que a agroecologia seja uma diretriz institucional do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e da Secretaria de Saúde Indígena do Ministério da Saúde (Sesai/MS), bem como de outros órgãos e instituições responsáveis pela execução das políticas indigenistas, em todas as instâncias governamentais.

Foto Suzane Durães

Cerca de 90% do público do encontro foi composto de indígenas e em sua maioria jovens. Um dos organizadores e integrante do Grupo de Trabalho da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Neiriel Terena, 23 anos, que sempre estudou em escolas indígenas, falou de suas experiências e dificuldades como graduando da Universidade Estadual de Grande Dourados. “Nossos territórios são a fonte do conhecimento. Nossos conhecimentos indígenas são a base para a ciência”, afirmou. 

Foto Diego Xukuru

Durante os quatro dias de encontro, foram relatados vários e complexos desafios a serem vencidos pelos indígenas. Em tempos de antropoceno, preservar e fortalecer os saberes tradicionais, dar visibilidade às ações realizadas nas comunidades, militar por direitos, plantar e colher, ocupar espaços acadêmicos, políticos e de gestão, e ainda manter um equilíbrio de tudo isso sem se distanciar de sua cultura, território e ancestralidade, tem se tornado cada vez mais difícil.

Agroecologia –  Um dos palestrantes, o agrônomo Iran Xukuru de Ororuba, explicou sobre a agricultura do sagrado, que promove a agricultura do encantamento, pautada numa visão de mundo, ou cosmologia, profunda. 

“Compreendemos a agroecologia como um movimento social e político que traz uma rede de aliança dos povos com a terra e com os seus elementos sagrados. A agricultura do encantamento traz a ciência orgânica da mata e tem uma base epistemiológica dos invisíveis. Ela traz a ciência do sentir bem do passarinho, a memória da pedra, os ancestrais presentes (...)”, enfatizou.

Foto Cris Truká

Na visão da professora e antropóloga, Elisa Pankararu, essa agroecologia não é apenas um modo de plantar e de colher, pois ela traz a ancestralidade, a espiritualidade, o ensinamento dos nossos para os nossos. "Não é apenas colher alimento saudável apenas para o corpo, nem para o bolso, mas para a mente, para a alma, para a espiritualidade. Não há marco temporal nessa agroecologia. Ela é desde sempre e para sempre”, ressaltou.

Foto Cris Truká

Outros participantes também advertiram sobre os interesses do agronegócio nos territórios indígenas, colocando em risco a preservação do ambiente, a saúde e a vida dessas populações, além de protestarem contra a instituição do marco temporal.

Saúde - A saúde indígena e a agroecologia foi um dos temas de uma roda de conversa que reuniu representantes da Fiocruz, Sesai, Funai e indígenas de várias regiões do país. 

Foto Suzane Durães

Na roda de conversa sobre Saúde Indígena e Agroecologia, a assessora de Ambiente da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz), Sandra Fraga, coordenou a dinâmica que apontou propostas de ações relacionadas às políticas públicas de saúde e a agroecologia, como a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Pnapo), a Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (Pngati), e a  Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (Pnaspi). 

Ao salientar o conceito ampliado de saúde, ela mencionou que “se não tiver água, saneamento, alimento saudável, respeito as culturas, modos de vida e a floresta em pé, não há saúde”. Sandra também ressaltou que as medicinas indígenas, não são integrativas e complementares, mas sim um conjunto diverso de saberes, modos e práticas de cuidados milenares que devem ser considerados tecnologias e ciências ancestrais. 

Os participantes também destacaram os principais desafios enfrentados nos territórios e os caminhos buscados para solucionar os problemas nos biomas brasileiros. Confira:

Cerrado - escassez de água, contaminação dos recursos hídricos devido o uso de agrotóxicos pelo agronegócio, insegurança alimentar, usinas hidrelétricas, efeitos das mudanças climáticas.

Fotos Alexandre Pankararu

Caatinga - demarcação territorial, escassez de água, desertificação do bioma, instalação de grandes empreendimentos.


Mata Atlântica - mineração, especulação imobiliária, barragens, demarcação insuficiente, contaminação da água e do solo por agrotóxicos, rodovias que afetam os territórios, burocracia dos editais,  combate à mosca branca e necessidade de seguro das lavouras para o caso de perda.


Pantanal - 
crise ambiental, comida industrializada nos territórios.

O evento foi finalizado com a apresentação da Carta do Enai. O próximo encontro deverá acontecer em um território indígena e data ainda não foi consolidada.


 

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