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Juntas na Pandemia reúne relatos de mulheres que participaram da pesquisa Pandemia de Covid-19 e Práticas de Mulheres no Brasil


09/12/2021

Nanda Isele (IFF)

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“Durante a pandemia desenvolvi ainda mais medo de engravidar!”, desabafa Ludmila*. Para Ághata*, a pandemia foi avassaladora, não conseguia levantar da cama e ouviu de seu ex-marido: “se vira, levanta e cuide dos seus filhos”, momento em que descobriu que seus filhos e sua saúde mental “não importavam” para o pai deles. Com medo de colocar sua vida e a de outros em risco, Catarina* está desde o início da pandemia sem se envolver com ninguém, mas comprou seu primeiro vibrador “para não esquecer desse lado da vida”. Dacris* foi uma das pessoas que continuou trabalhando presencialmente no período e foi muito afetada pelo medo generalizado entre seus colegas de trabalho, “muitos com a dor de ter perdido alguém e sentirem-se culpados, pois acabaram levando para casa a doença que os deixou órfão, viúvos e até mesmo matou seus filhos”. “Lidar com toda essa dor me fez sentir a dor do outro de perto e a empatia em mim nunca foi tão aflorada”, revela.

Os relatos estão no blog Juntas na Pandemia, um desdobramento da pesquisa Pandemia de Covid-19 e práticas reprodutivas de mulheres no Brasil, desenvolvida por pesquisadoras do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), o Instituto Rene Rachou (Fiocruz Minas), o Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) e a Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ). 

O blog reúne histórias compartilhadas por mulheres que participaram da primeira fase da pesquisa - um questionário que circulou entre julho e outubro e contou com mais de 8 mil respostas. Elas foram então convidadas a escrever sobre suas experiências e cuidados com a saúde sexual e reprodutiva no período da pandemia. “Os relatos, no entanto, vão muito além disso. Falam sobre angústias, dores e desafios; retratam a exaustão e a sobrecarga de muitas mulheres em relação às práticas de cuidado e ao trabalho doméstico no período; mas também são registros sobre as estratégias desenvolvidas para resistir e lidar com todo o peso do período”, explica uma das coordenadoras da pesquisa, a professora Ana Paula dos Reis (ISC/UFBA).

A partir do lançamento do blog, a possibilidade de compartilhar relatos será estendida a todas as mulheres que desejarem contar suas experiências e registrar suas memórias. “Em um tempo onde a verdade, a história e a memória – inclusive sobre a catástrofe sócio-sanitária da pandemia de Covid-19 - estão sob ameaça, nos pareceu um dever ético-político contribuir para que essas experiências não sejam esquecidas ou ocultadas”, afirma a professora do IFF/Fiocruz, Claudia Bonan, que coordena a pesquisa ao lado de Ana Paula.

Desejo de Compartilhar experiências e Registrar Memórias

Dois fenômenos envolvendo a primeira fase da pesquisa chamaram a atenção das pesquisadoras. Em primeiro lugar, foi grande o volume de relatos da única questão de campo aberto do questionário. Em segundo, mais de três mil mulheres manifestaram interesse em seguir participando da pesquisa na fase de entrevistas. “Interpretamos isso como a expressão de um desejo generalizado de compartilhar essas experiências e memórias”, conta Claudia. Assim nasceu a ideia de convidar aquelas que deixaram seus contatos a escrever para o blog, para que suas histórias pudessem alcançar outras mulheres, além das pesquisadoras que as liam. O blog pode ser acessado no endereço juntasnapandemia.org.

A pesquisa Pandemia de Covid-19 e práticas de mulheres no Brasil segue em desenvolvimento e integra os projetos Gender & Covid-19Observatório Covid-19 Fiocruz e Nascer no Brasil 2.

*Os nomes das autoras dos relatos são inventados para proteção da privacidade das participantes.

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