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INCQS promove atividade com temática de Mulheres e Meninas na Ciência


11/03/2020

Por: João Boueri

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O Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) realizou ontem, terça-feira, dia 10 de março, atividades em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres, celebrado no último dia 8 de março. Sediada no Auditório Sérgio Arouca, a iniciativa teve por objetivo discutir a participação feminina e a maternidade na Ciência, além de debater sobre questões atuais da luta feminista na sociedade. Neste ano, foram convidadas as doutoras Mariana Bottino e Eugênia Zandonà, e a delegada e deputada estadual Martha Rocha, primeira mulher na história a chefiar a Polícia Civil do Rio de Janeiro

Diretor do INCQS, Drº Antônio Eugênio Castro Cardoso de Almeida, e a Vice-Diretora de Ensino e Pesquisa,  Drª Silvana do Couto Jacob, no evento

Foto: João Boueri 

Na abertura da atividade, o Diretor do instituto, Drº Antônio Eugênio Castro Cardoso de Almeida, e a Vice-Diretora de Ensino e Pesquisa,  Drª Silvana do Couto Jacob, discursaram sobre a importância do evento. ''Que esse dia sirva para que a gente possa refletir sobre a luta pelos direitos da mulher, que se tornou uma discussão bastante intensa nos últimos tempos. Quero expressar meu total apoio à causa e espero que a gente possa, em um futuro próximo, viver em um mundo onde possamos observar essa luta vitoriosa para que essa dívida histórica que a humanidade possui com as mulheres seja devidamente superada'', apontou Eduardo Almeida.

''Neste momento não poderia deixar de citar a filósofa Simone de Beauvoir: 'ninguém nasce mulher, torna-se mulher. Não é a cor da roupa, corte de cabelo, imposições e tradições que nos tornam quem somos. É a nossa liberdade. É o nosso próprio desejo'. Temos que fazer com que os homens lutem a cada instante pelo nosso direito de ser mulher'', destacou Silvana Jacob.

A Ciência, por muito tempo considerada masculina, reflete a falta de oportunidades para mulheres e meninas construírem sua carreira científica. Atualmente, segundo dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), as mulheres são maioria na concessão de bolsas para Iniciação Científica (55%), Mestrado (52%), Doutorado (50%) e no Pós-Doutorado (53%). Entretanto, as bolsas de Produtividade em Pesquisa para mulheres correspondem a apenas 36% do total. Nota-se, portanto, que a presença feminina diminui nas posições mais altas. Este fato é chamado de ''teto de vidro'' - a barreira invisível que dificulta mais mulheres de alcançar cargos altos.

A convidada Mariana Bottino em sua palestra

Foto: João Boueri

Mariana Bottino, doutora em Biologia Molecular e CEO do Cientista Empreendedor, debateu sobre a questão do preconceito na Ciência. ''Durante os meus 6 anos de vida acadêmica - Mestrado e Doutorado - enfrentei preconceitos. Não teve um momento dentro do laboratório que eu não passasse nenhum tipo de preconceito vindo, também, de mulheres. Quando você não tem um propósito na sua carreira, o pensamento em desistir é normal. Mas eu acreditava no que eu queria fazer'', afirmou Mariana. ''Começamos com uma expectativa muito grande em fazer Ciência, mas ao ser bolsista de pesquisa, você escuta pergunta do tipo 'Você não vai trabalhar não? Vai ficar estudando até quando? Quando você vai parar pra trabalhar, Mariana? Quando você vai virar gente?'. Mas ai você ignora essas perguntas e segue em frente'', completou a especialista em inovação.

Antônia Zandonà debate sobre a ''Maternidade e mulheres na Ciência''

Foto: João Boueri

Para desenvolver seus trabalhos, pesquisadores buscam recursos de agências de fomento, que por sua vez exigem alta produtividade do cientista. Entretanto, as mulheres encontram dificuldades quando conciliam a maternidade com os projetos, dado que estas instituições de assistência à pesquisa, em sua maioria, não levam em conta o nascimento dos filhos no cálculo do prazo de submissão dos editais, por exemplo. Em 2017, com o objetivo de levantar a discussão sobre a maternidade e paternidade dentro do universo da ciência, é criado o Parent In Science por cientistas mães. A doutora e membro do projeto, Eugênia Zandonà, esteve presente na atividade promovida pelo INCQS. ''Em geral, a participação de mulheres em conferências nacionais e internacionais é o equivalente a 1/3 dos homens convidados. Dados da US National Institutes of Health (NIH), uma das maiores agências de fomento norte-americana, mostram que em 2002 as mulheres representavam 24% dos projetos financiados e em 2012 o número some um pouco ao chegar em 30%. Uma das barreiras que impede às mulheres de conquistarem maior número de projetos é, sem dúvidas, a maternidade. Esta afeta negativamente a persistência das mulheres na academia, enquanto a paternidade não'', apontou a pesquisadora.

''Colocar a maternidade no Currículo Lattes é uma das iniciativas do Parent in Science. Temos avanço quanto a consideração da maternidade em editais de Fomento, como no 'Programa Jovem Cientista do Nosso Estado', lançado pela FAPERJ, em 2019, que acresceu em um ano a contagem do tempo de defesa para pesquisadoras que se tornaram mães nos cinco anos anteriores ao projeto. Na Iniciação Científica também já são lançados editais com inclusão da maternidade, reconhecendo o direito das mães'', concluiu.

Delegada Martha Rocha em sua palestra sobre o ''Feminismo na Atualidade''

Foto: João Boueri

A última palestra da atividade foi conduzida pela Delegada e Deputada Estadual Martha Rocha, primeira mulher na história a chefiar a Polícia Civil do Rio de Janeiro, até então predominantemente masculina. Esta abordou temas como assédio, feminicídio, feminismo, mulheres na política, mulheres em reclusão de liberdade e mulheres trans.

 

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