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Cerrados na centralidade da mudança do clima e da saúde da população


04/07/2024

Suzane Durães - Coordenação de Saúde e Ambiente/VPAAPS

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Fotos: Juliana Vieira e Suzane Durães

Bioma mais desmatado do Brasil em 2023, os Cerrados sofrem com os efeitos das mudanças climáticas e já enfrenta a pior seca dos últimos sete séculos. Considerado a “caixa d'água do Brasil”, os Cerrados compreendem uma rica biodiversidade composta por diversas bacias hidrográficas e de grandes aquíferos, como o Guarani. 

Para debater a situação do bioma e seus efeitos na saúde e no ambiente, a Fiocruz e a Universidade Federal de Goiás (UFG), realizaram entre os dias 27 e 28 de junho, em Goiânia, o simpósio "Mudança do Clima e Saúde nos Cerrados". 
Organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPG/Ciamb/UFG) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por meio da iniciativa Prospecção Fiocruz Cerrados, o evento reuniu estudantes, docentes, pesquisadores e representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário, da Secretaria de Saúde de Goiás e outros convidados. 

Para o coordenador de Saúde e Ambiente da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS, Fiocruz), Guilherme Franco Netto, o cuidado com os Cerrados é um elemento central para o Brasil e para o planeta. 
“Nos últimos meses temos trabalhado intensamente e participado de diversas iniciativas que tem interface essencial com instituições existentes nos Cerrados. Numa oportunidade tivemos uma aproximação com o Programa de pós-graduação em Ciências Ambientais da Universidade Federal de Goiás e que culminou neste debate”, disse Guilherme. 

Atualmente, o desmatamento dos Cerrado ultrapassa o da Amazônia e a redução da cobertura vegetal do bioma dificulta a capacidade dos solos e da vegetação de captar e armazenar água. De acordo com o MapBiomas, o aumento da área desmatada no bioma foi de 67,7%, de 2022 para 2023.

Segundo a professora Rosane Collevatti, do Instituto de Ciências Biológicas/UFG, um dos grandes causadores das mudanças climáticas é a expansão agrícola. “A partir dos anos 60 iniciou uma política para expandir a agricultura no Centro-Oeste e essa é a imagem que temos hoje do Cerrado e que causou modificação em cerca de 50% na ecorregião do bioma que foi alterada pela agricultura e urbanização”, destacou.

Quanto à modificação da paisagem, Rosane alerta para a escassez de alimentos e a extinção de espécies de aves. “Aves que tem bico maior, por exemplo, buscam sementes maiores e uma maior quantidade delas. No futuro a modificação da paisagem vai favorecer aves maiores, mas com frutos menores. Elas não encontrarão alimentos e provavelmente serão extintas”, pontuou.

A professora Raquel Santiago, da Faculdade de Nutrição/UFG, destacou a estreita relação entre as mudanças do clima e a saúde, e segundo ela, a perda de biodiversidade significa menos alimentos e mudança de paisagem. “A má alimentação, a exposição às ondas de calor, as deficiências nutricionais, entre outras, impactam no Sistema Único de Saúde (SUS)”, ressaltou. 

Paulo de Marco, professor do Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Evolução e Biodiversidade da UFG, apresentou modelos de distribuição de espécies aplicados à conservação da biodiversidade dos Cerrados. No ano passado, junto com outros pesquisadores, Paulo publicou artigo sobre tema na revista Science.

Oficina e Grupos de Trabalho – A oficina realizada no segundo dia do simpósio contou com cinco grupos de trabalho e teve por objetivo identificar áreas de excelência e as principais lacunas na produção científica sobre mudança do clima e saúde no bioma além de propor estratégias para o avanço nesse conhecimento. Também foi discutida uma proposta de prospecção sobre mudanças climáticas e saúde nos Cerrados.

Dentre os principais apontamentos da oficina estão: inserção da temática ambiental nos currículos da saúde; fortalecimento da comunicação e informação; conservação da biodiversidade dos Cerrados; criação de um instituto em defesa do bioma; necessidade de aproximação com o Legislativo; e estímulo de editais de projetos interinstitucionais para o desenvolvimento de pesquisas na área. 

Os participantes ainda apontaram a ausência de estudos sobre o impacto psicológico das mudanças climáticas, a necessidade de políticas eficazes para proteger a biodiversidade socioeconômica e questões de toxicologia ambiental e epidemiologia ambiental pouco exploradas. Uma das estratégias propostas foi a implementação de currículos educacionais mais integrados, a pesquisa multidisciplinar, políticas públicas robustas e o fortalecimento de redes e consórcios para colaboração efetiva.

No sentido de promover a convergência entre instituições foi sugerida a criação de redes e consórcios de pesquisa e políticas públicas, o fortalecimento de conselhos e o compartilhamento de dados de forma acessível e compartilhada. 
Durante o encerramento do evento, Jorge Machado, pesquisador do Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho (PSAT) da Fiocruz Brasília, ressaltou a importância das políticas públicas e citou a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas (PNSIPCFA). “Essa é uma política intersetorial e aborda esse nosso debate sobre saúde e ambiente como uma área que se conecta com todos”. Também destacou a questão dos territórios, onde a vida saudável é viabilizada por meio de ações comunitárias e de políticas públicas.

A coordenadora do PPG/Ciamb/UFG, Daniela de Melo e Silva, adiantou que a síntese dos grupos de trabalho será encaminhada para outras áreas da UFG que também poderão discutir ações referentes aos Cerrados. Ela ainda anunciou que a partir desse ano a PPG/Ciamb/UFG irá propor uma nova linha de pesquisa “Saúde, Ambiente e Tecnologias”. 

A Fiocruz e a UFG seguem a parceria para apoiar o debate e iniciativas que visam a preservação do bioma e dos seus povos na medida da convivência com os cerrados e na perspectiva em que os territórios saudáveis e sustentáveis promovem saúde.
 

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