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Pesquisa analisa impacto da circulação de Covid-19 na Maré durante a pandemia


24/02/2025

Lidiane Nóbrega (Agência Fiocruz de Notícias)

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Um novo estudo da Fiocruz mostra que a circulação do SARS-CoV-2 no Complexo de Favelas da Maré, no Rio de Janeiro, contribuiu para a amplificação e diversidade genética do vírus causador da Covid-19, o que resultou na disseminação global da doença entre 2020 a 2022. O trabalho, intitulado “A circulação viral em favelas tem impacto global? A lição aprendida com SARS-CoV-2 no Complexo de favelas da Maré, Rio de Janeiro, Brasil”, foi publicado na revista científica Frontiers in Microbiology e analisou o impacto das múltiplas introduções de cepas virais abrigadas na região durante a pandemia.

A diversidade genética encontrada na Maré sugere, de acordo com a pesquisa, que o local foi uma espécie de reservatório natural para o vírus e facilitou a evolução de novas cepas. O artigo também indica que a maioria das infecções teve origem fora da comunidade, enfatizando a influência da mobilidade dos moradores e da exposição externa na circulação do vírus.

O pesquisador Thiago Moreno L. Souza, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), explica que, como em outros territórios ao redor do mundo, muitas favelas brasileiras estão nas áreas urbanas centrais de cidades cosmopolitas e megacidades, levando à hipótese de que um patógeno disseminado nessas áreas pode alcançar uma disseminação mais ampla.

“Já é bem conhecido que as favelas têm pouco acesso à questão sanitária adequada, pouca ventilação e residências com muitas pessoas morando ao mesmo tempo. Isso favorece a transmissão de agentes respiratórios - como é o caso da tuberculose, influenza e agora o SARS-CoV-2”, comentou um dos principais autores do estudo. “Fatores como baixa condição sanitária e moradias precárias em comunidades ajudam na maior transmissão e dispersão do vírus, o que se torna portanto um foco que pode vir a catalisar a dispersão do vírus não só em um contexto regional”.

Devido às crescentes desigualdades, dados apontam que mais de um terço da população mundial estará morando em favelas até 2050 - no Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 8% da população vive em favelas atualmente. O ambiente dinâmico das favelas, conforme explicam os pesquisadores, dificulta a obtenção de uma imagem abrangente da diversidade viral e a informação de intervenções eficazes de saúde pública.

Em vista disso, os cientistas defendem que o aprimoramento da vigilância em favelas e sua priorização para o recebimento de fundos e esforços de saúde pública podem ser importantes para o futuro preparo de epidemias e pandemias. “Apesar de moradores de favelas serem mais expostos a contrair doenças infecciosas, devido à superlotação e recursos limitados, a população pode ter sido negligenciada no que diz respeito à sustentabilidade da evolução viral durante a pandemia de Covid-19. Por isso, melhorar a infraestrutura e os serviços básicos, como água limpa, saneamento e assistência médica nas favelas, é crucial para melhorar a saúde pública e resiliência em futuras crises”, afirma o estudo.

Entre 2020 e 2021, a taxa de mortalidade na Maré (10-16%) atingiu quase o dobro da observada na cidade do Rio de Janeiro. Foi nesse contexto que os pesquisadores coletaram amostras durante os anos de 2020 (de agosto a outubro), 2021 (de março a outubro) e 2022 (de janeiro a novembro). As ondas da pandemia atingiram seus picos no Brasil nesse período e uma força-tarefa multidisciplinar foi mobilizada para prestar assistência médica no local. No total, 501 testes foram diagnosticados e sequenciados por demanda espontânea.

Com colaboração de diferentes unidades da Fiocruz, como CDTS, Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), a pesquisa foi feita em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF), o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

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