Trajetórias Negras na Fiocruz destacam superação e valorização profissional

Na última terça-feira (26/11), o Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça realizou mais uma edição do Trajetórias Negras, momento para a valorização dos profissionais negros da Fiocruz. O evento, realizado no auditório da Coordenação-Geral de Infraestrutura dos Campi (Cogic), no Campus Manguinhos, busca dar visibilidade às vivências, desafios e conquistas de trabalhadores negros da instituição. A edição teve a participação especial de Jorge Carlos, da Cogic, com atuação no Instituto Oswaldo Cruz (IOC); e Meony Silva dos Santos, do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos). 

O encontro foi conduzido pela chefe do Laboratório de Medicamentos, Cosméticos e Saneantes do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), Mychelle Alves Monteiro, uma das coordenadoras do comitê. Mychelle ressaltou que o evento também tem dado destaque aos trabalhadores terceirizados da instituição, “que são de extrema importância e fazem ela ter o valor que tem.” 

Mychelle Alves (direita) e Meony Silva (esquerda) durante o encontro. Foto: Peter Ilicciev (CCS)

Filha de dona Antônia, como destacou ao subir ao palco, Meony Silva dos Santos foi a primeira a ser chamada. Funcionária de Bio-Manguinhos há dez anos, Meony cresceu na zona oeste do Rio de Janeiro durante as décadas de 1980 e 1990. Ela comparou sua trajetória profissional a uma trilha: marcada por momentos de leveza, trechos íngremes e desafios a serem superados. Relatou, ainda, as dificuldades enfrentadas como mulher negra, mencionando preconceitos que enfrentou e como isso afetou sua jornada.  

“Tem muita gente que olha e pensa: ‘ela não deveria estar nesse lugar’ ou ‘ela deveria parecer mais humilde’. No Brasil a gente tem essa coisa da humildade, né? Então se a gente não performa aquela mulher humildade, aquela pessoa simples, se a gente tem aquele olhar, que até uma amiga de trabalho uma vez me disse, 'você parece um pouco altiva’. Eu não sou altiva, eu sou satisfeita com a vida. Por que eu tenho que olhar de baixo, né?”, afirmou Meony.

“Em cada experiência se aprende uma lição” é a frase que Meony escolheu para encerrar sua participação, da música Conselho, do compositor Almir Guineto. “As experiências da Meo, trabalhando, eu aprendo lições. As experiências da Meo, viajando, eu aprendo lições. As experiências da Meo, com seus amigos, eu aprendo lições.” 

Jorge Carlos Pessoa trouxe sua família à apresentação. Foto: Peter Ilicciev (CCS)

Em seguida foi a vez de Jorge Carlos Pessoa subir ao palco. Pessoa ingressou na Fiocruz em 1988, onde começou atuando na limpeza por três meses. Depois, tornou-se auxiliar de jardinagem, função que desempenhou nos dois anos seguintes, antes de fazer um curso de aperfeiçoamento em jardinagem pago pela Dirac, atual Cogic. Nesse período, estagiou um ano no Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro – ao qual diz que todos têm que visitar algum dia –, onde lidou diretamente com plantas pela primeira vez.  

Com a esposa e os dois filhos na plateia, Jorge arrancou risos ao afirmar que, apesar de seu apreço por plantas, sua verdadeira paixão é por sua mulher. Ao relembrar sua trajetória pessoal e profissional, ele destacou sua relação com a natureza: “O casamento tem que ter flor. O aniversário tem que ter flor. Quando a gente parte, não tem que ter flor? Então vamos cuidar, porque se a gente não cuidar, o que vai acontecer com nosso planeta?” 

O encontro contou com o apoio da Coordenação de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas (Cedipa), da Coordenação-Geral de Gestão de Pessoas (Cogepe), do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc-SN) e do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict). A gravação está disponível no  canal da VídeoSaúde no YouTube.