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Radar Saúde Favela lança edição sobre Conferência Livre de Saúde nas Favelas


20/12/2023

Luiza Toschi (Cooperação Social da Fiocruz)

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A 25ª edição do Radar Saúde Favela, produzido pela Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz, apresenta um registro da Conferência Livre de Saúde das Favelas e Periferias, ocorrida em junho de 2023, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A conferência teve como tema “Favelas e periferias pelo Direito à Vida e em Defesa do SUS” e abordou as articulações em torno do direito humano à saúde e à vida, a partir da perspectiva da favela e das periferias. A revista traz as falas e intervenções ocorridas durante a conferência, além de um registro fotográfico do evento. Veja aqui a publicação.

As Conferências livres são parte do processo que materializa o controle social do SUS, com proposição de teses e representantes que debatem temas caros aos serviços de saúde. “Uma das coisas que muitos militantes e organizações apontam é a dificuldade para parar e escrever, registrar e sistematizar processos de trabalho e de lutas. Essa edição especial tem a importância de ser um registro e uma memória das ricas discussões e debates que ocorreram no evento”, diz Fábio Araújo, sociólogo, pesquisador da Cooperação Social e coordenador do projeto. 

O Radar Saúde Favela (originalmente, Radar Covid-19 Favela) foi concebido no âmbito do Observatório Fiocruz Covid-19 e, atualmente, está alocado na Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz. O site Radar Saúde Favela foi lançado em fevereiro de 2023 e reúne as narrativas sobre saúde de moradores, lideranças populares e movimentos sociais. Artigos de opinião, podcast, vídeos e a própria edição da revista (desde agosto de 2020) são alguns dos formatos publicados pelo projeto. Os temas a serem abordados nas edições consideram sugestões de pauta, matérias e crônicas sobre saúde enviados por lideranças e comunicadores populares. 

“O Radar tem sido um espaço de escuta e reverberação das vozes das favelas e periferias e de suas reflexões e análises sobre a determinação socioambiental da saúde a partir das condições de vida de seus moradores e de suas organizações coletivas”, reconhece Fabio. Para ele, o eixo do protagonismo das favelas contribui para visibilizar as lutas sociais dos sujeitos periféricos em linguagens como a escrita e a produção de podcasts e ensaios fotográficos. 

Podcast como ferramenta para amplificar vozes pouco ouvidas 

Com seis episódios no ar, sendo dois recentes, o podcast Radar Saúde Favela tem sido reconhecido pelos parceiros dos coletivos populares como um instrumento importante de comunicação e legitimação das demandas das favelas por direitos. Os dois últimos episódios revelam a diversidade dos assuntos abordados em torno do eixo periferia e promoção da saúde: um deles trata da questão imigrante no Brasil; o outro traz a visão de uma agente comunitária de saúde sobre racismo, o SUS e outras tecnologias de cuidado. 

Euza Borges, nascida e criada no Morro dos Macacos, bairro localizado em Vila Isabel, Zona Norte do Rio de Janeiro, é agente comunitária de saúde e integrante da escola de samba Vila Isabel. Em seu depoimento ela fala sobre suas origens familiares e o aprendizado de outras tecnologias de cura e cuidado. A partir de sua experiência como mulher negra que circula pelo território e conhece por dentro a realidade local, Euza também fala sobre negritude, racismo e antirracismo nos espaços de saúde e o acesso dos moradores à clínica da família. Ouça o episódio clicando aqui.

Hortense Mbuyi é advogada, intelectual e militante. A imigrante congolesa reside no Brasil há quase 10 anos, quando deixou o Congo após sofrer perseguição política. Em seu depoimento para o podcast Radar Saúde Favela, ela reflete criticamente sobre a situação dos imigrantes em solo brasileiro, denunciando que o país tem uma política de receber, mas não tem políticas públicas de acolhimento e integração social de imigrantes. Ela revela desafios de acesso aos serviços públicos de educação, saúde, moradia e trabalho e o racismo. Hortense declara que foi no Brasil que viveu sua primeira experiência racista. Episódio disponível neste link.

Fotografia de luta 

Para além dos espaços de denúncia e reflexão, o projeto atua também na perspectiva da arte e da cultura como promotoras de saúde e de autonomia de sujeitos periféricos. Neste sentido, o ensaio fotográfico tem sido apropriado como linguagem capaz de revelar identidades, registrar alegrias e valorizar a experiência das e dos moradores de periferias. Apenas no mês de novembro dois tipos de ensaios, com propostas diferentes entre si, foram disponibilizados no site.

Pipaterapia: instrumento e fundamento para a cultura suburbana”, de autoria de Carolina Fernandes, indígena urbana, historiadora, fotógrafa e artista independente foi lançado no dia 14.  Os registros fazem parte da série “Lazer e subúrbio carioca” e foram produzidos em Bento Ribeiro em 2022 e em 2023. As imagens narram a importância da pipa como instrumento, tanto na infância, quanto na vida adulta.  

Para a artista, os costumes de um local proporcionam vínculos sociais e reforça o pertencimento em relação ao território. “Muitas vezes o lazer, além de uma categoria de saúde em si, ainda funciona de maneira mais profunda porque entretenimento gera emprego, gera vínculo, gera engajamento e gera pertencimento”, afirma Carolina. 

Já “Sobre o processo de composição de Imagem-Ritual” de Leah Cunha, mulher trans, negra, candomblecista, favelada e diretora artística do Laboratório de Composição de Imagem-Ritual foi publicado no dia 22. O ensaio reúne fotografias, videografias e performances criadas a partir da oficina ministrada por Leah, que toma como referência as tradições culturais negras. 

(fotografia de Leandro Cunha)

“Levando em conta o invisível como parte fundante do visível, a oficina propõe a experimentação do sentido da visão apenas como parte do processo de composição da arte visual. O olfato, o paladar, os movimentos, a escuta e o tato são campos importantes para vivenciar as visualidades”, explica Leah. 

Além das fotos, a aba “Ensaios” do portal recebe artigos, crônicas, contos de diferentes gêneros literários. É um espaço que privilegia “as escritas de todos aqueles e aquelas que, direta ou indiretamente, vivem as periferias”. Acesse para acompanhar a produção artística e reflexiva de lideranças e parceiros do projeto.  

Sobre o projeto 

O Radar Saúde Favela tem foco em produzir e difundir informa­ções sobre a situação de saúde e da sua de­terminação social em favelas e periferias de centros urbanos, lançando luz sobre as diversas dimensões de precariedade que afetam de forma diferenciada as popula­ções que habitam em territórios socioam­bientalmente vulnerabilizados. 

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