A Fiocruz e o World Mosquito Program (WMP) anunciaram nesta quinta-feira (30/3), em Brasília, nova parceria que expandirá o acesso no Brasil aos mosquitos com Wolbachia, um método que reduz a incidência de dengue, chikungunya e zika. O evento contou com a presença da secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA/MS), Ethel Maciel, do presidente interino da Fiocruz, Mário Moreira, do CEO da WMP Global, Scott O’Neil, do pesquisador líder do WMP no Brasil, Luciano Moreira, e do diretor-presidente do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), Pedro Barbosa.
O WMP está presente em 12 países na Ásia, Oceania e Américas. No Brasil, o Método Wolbachia tem financiamento do Ministério da Saúde, é conduzido pela Fiocruz e está presente no Rio de Janeiro (RJ), Niterói (RJ), Campo Grande (MS), Belo Horizonte (MG) e Petrolina (PE). O método já teve eficácia comprovada na redução da incidência de arboviroses. “A parceria entre WMP e Fiocruz nos permitirá construir uma grande biofábrica que possa produzir até 100 milhões de mosquitos com Wolbachia por semana, para que a gente possa ampliar nossa atuação no Brasil e proteger muito mais pessoas nos próximos anos.”, conta o pesquisador da Fiocruz e líder do WMP Brasil Luciano Moreira.
O investimento para a construção e operação da biofábrica será de R$ 100 milhões, com recursos do WMP e do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP). Além da construção do empreendimento, está previsto um aporte adicional de R$ 80 milhões para ampliação imediata de implementação do método em estados e municípios, sendo R$ 50 milhões do WMP e R$ 30 milhões da Fiocruz/SVSA. O recurso inicial do WMP também funcionará como um fundo de contrapartida com o objetivo de incentivar empresas brasileiras, instituições de caridade e indivíduos de alto patrimônio líquido a investir em novas tecnologias, para ampliar e acelerar a implementação do Método Wolbachia em cidades ou estados específicos, como a liberação aérea dos mosquitos.
“O local de construção da biofábrica ainda está sendo definido em alinhamento com o Ministério da Saúde, mas a previsão é de que possa entrar em operação até o início de 2024. A ideia, no entanto, é que já possamos expandir, de forma imediata, a produção atual e o fornecimento de ovos de mosquitos para o Ministério da Saúde, governos estaduais e municipais para auxiliar no controle de arboviroses de municípios considerados mais críticos e com transmissão elevada de dengue, zika e chikungunya”, explica o presidente da Fiocruz, Mario Moreira.
“O IBMP ao participar dessa iniciativa, assume mais um compromisso em prol da saúde pública brasileira. Ao lado da Fiocruz e do WMP, temos segurança na capacidade de expandir progressivamente essa tecnologia, extremamente segura e efetiva no controle das arboviroses”, declara Pedro Barbosa, seu Diretor-Presidente.
Segundo o pesquisador Luciano Moreira, trata-se de uma estratégia de médio prazo, uma vez que o resultado após a soltura dos mosquitos com Wolbachia não é imediato. “A velocidade de implantação do método varia de acordo com as características de cada município, mas, em geral, conseguimos ter um impacto real na redução dos casos de dengue em alguns anos após finalizada a implantação”, explica Moreira.
“Durante décadas, o Brasil tem sido um líder global no pioneirismo em soluções inovadoras e de alto impacto para doenças infecciosas. Estamos animados em trabalhar com a Fiocruz, o Ministério da Saúde e outros parceiros governamentais, para provar que a Wolbachia pode ser implementada em larga escala como uma forma acessível de combater a dengue, chikungunya e aika - três vírus implacáveis até agora.”, ressalta o CEO do WMP Global, Scott O'Neill.
O professor O'Neill acrescentou ainda que a liderança do Brasil em escalonar o método Wolbachia pode fornecer um modelo para os outros 129 países afetados pela dengue no mundo, ajudando a expandir o acesso à tecnologia à aproximadamente quatro bilhões de pessoas em todo o mundo que vivem em risco de dengue e outros vírus transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti. Também estiverem presentes no evento representantes do Conselho Nacional de Saúde, do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde e da embaixada da Austrália (sede do WMP).
Método Wolbachia
Descoberta por cientistas da Monash University em Melbourne, na Austrália, e pelo coordenador do Programa no Brasil, Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz, a tecnologia Wolbachia já foi introduzida em 12 países, alcançando quase 11 milhões de pessoas até o momento. A tecnologia consiste em introduzir nos mosquitos uma bactéria – chamada Wolbachia – que os impede de transmitir a dengue e outros vírus transmitidos pelo Aedes aegypti. A Wolbachia é encontrada naturalmente em cerca de 50% de todas as diferentes espécies de insetos. O segredo do sucesso da Wolbachia consiste em como ela manipula a reprodução dos insetos em que está presente. Ao longo de algumas gerações, o número de mosquitos com Wolbachia aumenta rapidamente, até que a maioria dos insetos de uma população tenha a bactéria. Uma vez que os mosquitos já têm a Wolbachia, eles naturalmente a transmitem para seus descendentes.
WMP no Brasil
As primeiras liberações de Wolbitos no Brasil, começaram em setembro de 2014, no Rio de Janeiro. Três anos depois, durante a emergência do vírus Zika, houve uma expansão em larga escala, no Rio de Janeiro e em Niterói. O Método Wolbachia já protege mais de 3 milhões de pessoas. No ano passado o WMP Brasil comemorou um marco importante: o engajamento de mais de um milhão de pessoas em todo o país. Pessoas que atuam no combate às arboviroses em território nacional. Os mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia não são modificados geneticamente.
O Método Wolbachia tem eficácia comprovada. Um Estudo Clínico Controlado Randomizado (RCT, sigla em inglês), realizado em Yogyakarta, Indonésia, aponta uma redução de 77% na incidência de dengue em áreas tratadas com Wolbachia, em comparação com áreas não tratadas. O impacto positivo da Wolbachia na redução das taxas de transmissão de arbovírus tem sido observado em várias cidades do mundo, inclusive em Niterói, onde o número de casos de dengue foi reduzido em 70%, chikungunya em 56% e Zika em 37%. Em cenários mais complexos, como o Rio de Janeiro, a redução da transmissão da dengue variou de 10% a 76%, dependendo do estabelecimento da Wolbachia.
*Foto: Divulgação / MS