08/10/2024
O Centro de Inovação em Pesquisa Oncológica Translacional (Cipot), uma parceria entre a Fiocruz e a Oncoclínicas&Co, inicia neste mês de outubro um projeto para sequenciamento de mil tumores de pacientes brasileiros, com foco nos cânceres de maior incidência e mortalidade no país: pulmão, mama e próstata. A criação desse banco de dados genômicos é considerada um avanço importante para o Brasil.
Atualmente, os principais progressos em oncologia, como terapias-alvo e painéis moleculares, são baseados em dados de pacientes de países com maior desenvolvimento tecnológico, que têm a capacidade de sequenciar o genoma em larga escala. No entanto, essa disparidade deixa pacientes brasileiros em desvantagem, especialmente considerando sua ancestralidade e diversidade racial, fatores essenciais para o tratamento eficaz do câncer.
O Brasil está avançando significativamente no combate ao câncer com a criação de bancos de dados genômicos detalhados, conhecidos como ômicos, que incluem informações como exoma, transcriptoma, proteoma e microRNAs de pacientes oncológicos. “A ideia é desenvolver um banco com os dados ômicos desses pacientes, com acesso livre, incluindo as informações clínicas e patológicas. O objetivo desse projeto é avançar na criação de painéis moleculares para fins de diagnóstico e que tenham relação com prognóstico e manejo clínico desses pacientes, com ênfase na população brasileira”, ressalta a pesquisadora e coordenadora da Plataforma de Oncologia Translacional na Fiocruz, Tatiana Tilli.
O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger, complementa. “O campo da oncologia tem sido e continuará a ser o campo da aplicação médica mais próximo a incorporar os avanços do conhecimento científico. A parceria entre instituições com importante atuação na pesquisa, desenvolvimento tecnológico, produção e atenção à saúde deve potencializar esta interação e aumentar a efetividade da entrega do conhecimento gerado em toda esta cadeia à sociedade brasileira”.
Enfoque na diversidade genética brasileira
O Brasil, com suas dimensões continentais e seu perfil único de miscigenação, oferece um cenário de diversidade genética ainda pouco explorado no contexto global da oncologia. "Estamos criando uma base sólida para a oncologia translacional e clínica no país, com o objetivo de reduzir as desigualdades de acesso ao tratamento, especialmente no SUS, melhorando a jornada do paciente oncológico e ampliando o alcance de descobertas científicas com impacto global", afirma Tilli.
O compromisso do Cipot vai além de gerar novos conhecimentos, segundo a pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) Mariana Waghabi. “Ele visa trazer mais equidade no acesso à saúde e tratamentos mais eficazes para a população brasileira, atendendo às particularidades genéticas que influenciam diretamente na evolução do câncer”, destaca.
Centro Integrado de Pesquisa em Oncologia Translacional
O Centro Integrado de Pesquisa em Oncologia Translacional (Cipot) foi criado em junho de 2023, a partir de uma parceria público-privada entre a Fiocruz e o Grupo Oncoclínicas na área de estudos sobre o câncer. Como primeira parceria público-privada do país para desenvolvimento de inovação em oncologia, a parceria foi mencionada no Guia de orientação: alianças estratégicas para constituir ambientes temáticos catalisadores de inovação nos termos do marco legal da ciência, tecnologia e inovação, produzido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Segundo o diretor da Oncoclínicas e presidente do Instituto Oncoclínicas, Carlos Gil, o objetivo é unir a expertise da empresa em tratamentos oncológicos com a estrutura de pesquisa da Fiocruz, reconhecida mundialmente. “E será um benefício para a população brasileira. Nós temos muita tradição no tratamento de câncer e um corpo médico muito qualificado na oncologia. A Fiocruz é uma das maiores instituições de pesquisa do país, então, a ideia é crescermos juntos, mas não partindo do zero, pois unimos aquilo que nos complementa”, comenta Gil.
A vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Maria de Lourdes Oliveira, também aponta que, globalmente, o câncer constitui um dos maiores desafios contemporâneos em saúde pública, com altíssima morbimortalidade. “Contudo, o acesso às mais novas tecnologias para tratamento ainda é inviável para a maior parte da nossa população, frente ao alto custo. Dessa forma e para além da geração de conhecimento científico - pilar central para a sua translação em desenvolvimento tecnológico, inovação e adequação de políticas públicas -, a presente parceria e a consolidação do Cipot contribuirão para o fortalecimento do SUS, assim como para a promoção da equidade no campo da atenção à saúde em oncologia”.