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Fiocruz, Inca e Caring Cross firmam parceria em terapias avançadas


27/03/2024

Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)

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Em solenidade no Rio de Janeiro, e com a presença da ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, foi apresentada nesta terça-feira (26/3) a Estratégia Fiocruz para Terapias Avançadas. O acordo de transferência de tecnologia com a organização americana Caring Cross permitirá a produção no Brasil, com exclusividade na América Latina, de células CAR-T e vetores lentivirais. A parceria, que contará com a participação do Instituto Nacional de Câncer (Inca), dará ao país condições de baratear custos e ampliar a oferta à população brasileira de tratamentos para os cânceres hematológicos, as doenças infecciosas e genéticas. Nísia disse que a iniciativa “é um marco na saúde brasileira que multiplicará por dez o acesso da população às novas tecnologias, com imenso impacto no [Sistema Único de Saúde] SUS. Vale a pena ser ministra para fazer coisas assim”, comemorou.


Nísia lembrou que as novas terapias beneficiarão não apenas o Brasil, mas também chegarão a outros países da América Latina (foto: Peter Ilicciev)

A ministra lembrou que essas agendas de inovação tecnológica precisam ser amplamente abraçadas pela sociedade. Segundo ela, as novas terapias beneficiarão não apenas o Brasil, mas também chegarão a outros países da América Latina. “O Brasil, dentro do conceito do governo do presidente Lula de contribuir para diminuir as assimetrias entre os países, e de cooperação com o Sul Global, tem grande interesse em uma aliança mundial que facilite e barateie o acesso a tratamentos e medicamentos”.

O presidente da Fiocruz, Mario Moreira, destacou que a presença da ministra da Saúde na cerimônia é uma demonstração da importância e da prioridade que o Ministério atribui à iniciativa. “O país retoma uma política de centralidade da ciência e tecnologia em favor do SUS. E os recursos que recebemos para apoiar essa parceria tem origem no PAC, o que é uma comprovação de que a vida e a saúde assumem, de fato, relevância nas ações do governo federal”.


Presidente da Fiocruz, Mario Moreira destacou que a presença da ministra na cerimônia é uma demonstração da importância e da prioridade que o Ministério atribui à iniciativa (foto: Peter Ilicciev)

“O que passa a ocorrer hoje, por meio dessa parceria, é muito mais do que atuarmos na cura de doenças ou de um conjunto de doenças. Essa associação é também uma inovação por si, já que permite que um produto de alto valor tecnológico seja acessível à população brasileira, seja na área dos cânceres, seja na área das doenças infecciosas. Isso também fortalece nossas ações de ensino, de pesquisa clínica, de controle de qualidade e de inovação”, frisou Moreira.

A tecnologia celular CAR-T é um tipo de imunoterapia que utiliza os linfócitos T, células do sistema imunológico responsáveis por combater agentes patogênicos e células infectadas. O tratamento consiste em retirar e isolar os linfócitos T do paciente, ativá-los, programá-los para identificar e combater o câncer e, depois, inseri-los de volta no organismo do indivíduo. Ou seja, a tecnologia utiliza as próprias células imunológicas do corpo para atingir e destruir as células infectadas. Nos Estados Unidos, produtos de células CAR-T aprovados para uso comercial têm custo médio de US$ 350 mil a US$ 400 mil cada dose. A partir da produção na Fiocruz, o custo poderá ser reduzido para cerca de 10% do valor verificado nos EUA.

Vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger afirmou que a capacitação tecnológica deixada pela pandemia de Covid-19 introduziu grandes avanços no setor, acelerando estudos e tornando-os realidade. “A competência industrial e tecnológica da Fiocruz nos deu a fortaleza necessária para o passo que agora damos. Doenças que não tinham cura agora poderão ser enfrentadas e vencidas”, afirmou. Krieger acrescentou que a Fiocruz será um centro de produção global de vetores virais para a Caring Cross.

Krieger comentou que a Fundação encomendou um estudo sobre o impacto orçamentário no SUS das terapias avançadas direcionadas a doenças raras, num horizonte que cobre os próximos cinco anos. Segundo ele, a estimativa desse impacto, tendo em vista os 15 produtos que estão registrados em agências regulatórias, variou entre R$ 4 bilhões/ano a R$ 14,5 bilhões/ano em um cenário de incorporação das novas tecnologias, o que comprometeria significativamente o orçamento anual do sistema de saúde. “Para se ter uma ideia, todo o orçamento da atenção especializada do Ministério da Saúde, por ano, está em torno de R$ 7 bilhões”.


Acordo de transferência de tecnologia com a organização americana Caring Cross permitirá a produção no Brasil, com exclusividade na América Latina, de células CAR-T e vetores lentivirais (foto: Peter Ilicciev)

Ele destacou que a Fiocruz lançou recentemente um edital interno para o desenvolvimento de terapias avançadas. No momento, 48 propostas foram homologadas. “Esses projetos envolvem câncer, leishmaniose, produção de soros, doenças infecciosas e outros, dando maior musculatura científica”, destacou. Krieger contou que “a tecnologia que tem sido usada na produção de vacinas é muito semelhante às que estão sendo utilizadas em produtos derivados de terapias avançadas, gerando convergência. Há mais de mil ensaios clínicos no mundo sobre as terapias avançadas, o que é um verdadeiro tsunami”.

O vice-presidente observou que a parceria com a Caring Cross e o Inca se baseará em um modelo descentralizado, com a instalação de contêineres, que permitirá a capilarização rápida em outros centros pelo país. “Isso vai possibilitar uma rápida ampliação, com a democratização do uso dessa tecnologia em serviços públicos e privados, tudo com controle de garantia de qualidade por parte da Fiocruz”.

Segundo Krieger, a nova geração de produtos para cânceres hematológicos permite maior chance de cura com menor possibilidade de recidiva. Ele destacou que os estudos clínicos serão efetuados de forma paralela no Brasil, pela Fiocruz e pelo Inca, e nos Estados Unidos. “É bom lembrar que não estamos falando apenas de um produto, mas de uma nova plataforma de produtos. Já existe o uso dessa inovação para aplicações fora do câncer, como no caso de doenças infecciosas e genéticas, como a anemia falciforme”, salientou o vice-presidente.

Presente ao evento, o diretor-executivo da Caring Cross, Boro Dropulić, disse estar muito feliz com a parceria e com os efeitos transformadores, na saúde brasileira, que prevê que se tornarão realidade em breve. “Nossa intenção é apresentar produtos inovadores e eficazes, a preços sustentáveis e com grandes resultados”. O diretor-geral do Inca, Roberto Gil, afirmou que a parceria é um avanço significativo, tendo em vista os crescentes números de casos de câncer. “A parceria em favor de terapêuticas disruptivas tornará o SUS mais potente e as suas instituições, entre elas Inca e Fiocruz, mais sinérgicas”.

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