03/09/2014
Por: Carolina Landi/INI
Frente à epidemia do vírus ebola em países africanos e a indicação do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) como como Hospital de Referência para casos suspeitos no Estado do Rio de Janeiro, a Coordenação de Residência Médica (COREME) do Instituto dedicou uma sessão clínica especial ao tema. Com o título “Aspectos multiprofissionais dos cuidados em saúde frente à emergência do ebola”, a conversa, realizada no dia 28 de agosto, abordou desde manejos clínicos aos impactos emocionais na equipe de saúde e do paciente.
“Do que temos medo?”, apontou, como principal questionamento, o Vice-Diretor de Serviços Clínicos, José Cerbino Neto, para o público que lotava o auditório do prédio da Vice-Direção do Ensino, na maioria profissionais das áreas de Enfermagem, Medicina (incluindo os médicos residentes da instituição) e Serviço Social. O infectologista explicou que o que diferencia essa epidemia das anteriores é o maior número de casos e a expansão para áreas densamente povoadas.
Em seguida, ele apresentou as estratégias para atuação na possibilidade de internação de pacientes suspeitos na unidade. Com o intuito de reduzir riscos, será disponibilizada uma equipe mínima, composta por um médico, um profissional de Enfermagem e um profissional responsável pela limpeza. Apenas os profissionais dessas três áreas que estiverem previamente treinados poderão atender o paciente, realizar procedimentos terapêuticos/diagnósticos, e fornecer alimentos e medicações. Nenhum outro profissional terá acesso a este setor enquanto o paciente estiver internado no leito de isolamento.
“Vamos usar o critério de caso suspeito estabelecido pelo MS, que no momento é qualquer indivíduo procedente, nos últimos 21 dias, de país com transmissão atual de Ebola (Libéria, Guiné, Serra Leoa e Nigéria – OMS) que apresente febre de início súbito, podendo ou não ser acompanhada de sinais de hemorragia”, esclareceu Cerbino.
A conduta clínica terá como preceito “ser o menos invasivo possível”, visando a segurança do paciente e dos profissionais. Entre as ações, estão coleta de material para exames e diagnóstico, hidratação (oral e venosa), nutrição, analgesia e tratamento empírico para malária. “Utilizamos como base artigos que abordam o manejo clínico em pacientes infectados por filovírus (NOTA: todos os vírus da família do vírus Ebola), manuais da OMS, Centers for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos (CDC) e Médicos Sem Fronteiras.
A conversa também teve a participação da infectologista Juliana Matos, da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), e da psiquiatra Celina Mannarino, que ressaltou a importância de definir as condutas clínicas em equipe. Ela também explicou o perfil de profissional que deverá estar preparado para atender a esse tipo de demanda.
“É necessário ter experiência e lidar bem com os aspectos emocionais da equipe, no sentido de partilhar as responsabilidades e decisões. Isso diminui o sentimento de isolamento do profissional. Afinal, a mesma sensação de desamparo que o paciente vai sentir, ele também poderá ter”. Ambas as médicas debateram estratégias de minimização deste isolamento, como tecnologias de comunicação do paciente e do profissional no interior do recinto com pessoas no exterior.
Durante o debate, ainda foram abordadas mais questões relacionadas à segurança e monitoramento do paciente, e aspectos éticos e legais que envolvem as decisões sobre procedimentos e manobras clínicas. As equipes estão sendo treinadas todos os dias, inclusive nos finais de semana.
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