28/06/2013
Por: Isadora Marinho/ Instituto Oswaldo Cruz
Desde 1994 dedicados à análise das mutações que causam a fibrose cística, doença congênita que atinge um a cada sete mil brasileiros, pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) identificaram uma nova alteração no gene conhecido como Cystic fibrosis transmembrane conductance regulator (CFTR), que regula o transporte de água e de sais minerais para tecidos das vias respiratórias e digestivas. Até o momento, eram conhecidas 1.938 mutações relacionadas ao gene.
A mutação, que ainda não foi nomeada, foi identificada em uma paciente no Rio de Janeiro. O gene CFTR está presente no cromossomo 7 e sua alteração é responsável por bloquear o transporte de água e sais minerais, levando a deficiências na absorção de nutrientes, inflamações nos dutos biliares e acúmulo de muco nos pulmões. Estes problemas podem ocasionar bronquite crônica e pneumonias de repetição potencialmente fatais.
Líder do estudo, a pesquisadora Giselda Cabello, do Laboratório de Genética Humana do IOC, explica que as mutações variam de população para população e que a identificação das alterações genéticas ocorridas em pacientes brasileiros é fundamental para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas específicas e de métodos de diagnóstico mais eficazes. “Cerca de 70% dos pacientes fibrocísticos caucasianos na Europa e nos Estados Unidos apresentam a mutação DeltaF508. No Brasil, mais especificamente na Região Sul, a frequência cai para 48%. No Rio de Janeiro, ela é menor ainda: 30%. Nosso povo é muito miscigenado, temos uma mistura das etnias branca, indígena, negra e oriental”, afirma.
Kits diagnósticos
Por esse motivo, os kits de diagnóstico molecular para a fibrose cística utilizados na Europa e nos Estados Unidos não são plenamente adequados à realidade brasileira, uma vez que possuem taxa de detecção baixa. Estudos realizados pelo Laboratório de Genética Humana do IOC entre pacientes que moram no Estado do Rio mostram que existem 23 mutações circulantes em território fluminense, referentes aos 50% dos cromossomos estudados até então. “Daí a necessidade de se utilizar técnicas moleculares de última geração para o rastreamento de mutações próprias da nossa população. Com elas, seremos capazes de atingir uma taxa de detecção superior aos 50% obtidos até agora”, explica.
A fibrose cística também pode ser diagnosticada de forma clínica, a partir da análise de sintomas e do suor. No entanto, a pesquisadora pontua que, em países com etnias diversas da caucasiana, esta alternativa não é 100% confiável e contribui para o subdiagnóstico. “Em se tratando desta doença, o diagnóstico precoce é fundamental para a sobrevida do paciente”, analisa.
Novas mutações, novas possibilidades
O mapeamento das mutações próprias da nossa população também permite aos pesquisadores investigarem terapias personalizadas, uma vez que já existe a possibilidade da correção da proteína afetada pela mutação com novas drogas em fase de desenvolvimento na Europa e nos Estados Unidos. “Não é uma cura, mas pode proporcionar qualidade de vida ao paciente”, reforça. A mutação descoberta pela equipe do IOC foi identificada em uma paciente de 20 anos, com ancestrais de origem africana e nascida no Rio de Janeiro. De acordo com a pesquisadora, ainda não é possível precisar a gravidade desta alteração, mas ela tem origem provável na África.
O próximo passo de Giselda e da equipe envolvida no estudo, composta pelo chefe do Laboratório, Pedro Cabello, e as estudantes Raisa Martins e Ana Carolina da Fonseca, é desenvolver um artigo científico sobre os achados, a ser publicado em revista especializada.
Para que um indivíduo desenvolva a fibrose cística, é preciso ter ambos os cromossomos 7 com o gene CFTR mutado. “Isso significa que ele precisa herdar o cromossomo 7 mutado da mãe e do pai. No Estado do Rio de Janeiro, calculamos que uma pessoa a cada 93 carreguem um gene alterado”, explica.
No Brasil, a inclusão da fibrose cística no teste do pezinho, que deve ser realizado logo após o nascimento da criança, é um importante instrumento de diagnóstico precoce. No Rio de Janeiro, a doença acaba de ser incluída na fase III do teste. “No entanto, ele ainda não é realizado em todos os Estados conforme determina a lei”, aponta a pesquisadora.
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