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Editora Fiocruz reedita clássico da sociologia


22/09/2015

Alessandra Eckstein - Editora Fiocruz (alessandra.eckstein@fiocruz.br)

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Em meio às comemorações pelos 450 anos de fundação da cidade do Rio de Janeiro, a Editora Fiocruz traz ao público a segunda edição de um livro que é referência no estudo de habitações populares e favelas no Brasil e na América Latina. A Sociologia do Brasil Urbano, do antropólogo Anthony Leeds e da cientista política Elizabeth Leeds. O original, fruto de uma década de pesquisas, havia sido originalmente publicado em 1978 por iniciativa do antropólogo Gilberto Velho.

A nova edição, organizada por Elizabeth Leeds e pela socióloga Nísia Trindade Lima, vem reparar uma ausência: a obra encontrava-se esgotada e, portanto, inacessível às novas gerações de pesquisadores. A importância do livro é tal que passados 37 anos da primeira edição, a obra continua sendo a única em língua portuguesa a reunir textos de Anthony Leeds na América Latina, em particular no que se refere às favelas cariocas.

A obra

A Sociologia do Brasil Urbano apresenta análises sobre a estrutura de poder e de classes à luz da história das favelas e dos assentamentos não controlados na América Latina. As favelas do Rio de Janeiro, objeto privilegiado pelo estudo, foram analisadas pelo modo como foram tratadas pelo Estado e como eram desenvolvidas as políticas de habitação.

No livro, foram investigadas as políticas de remoção implementadas por órgãos como o Banco Nacional de Habitação (BNH) e a Coordenação de Habitação de Interesse Social da Área Metropolitana do Grande Rio (Chisam), como também a defesa da urbanização pela Companhia de Desenvolvimento de Comunidades (Codesco).

Os autores tratam da questão do mito da ruralidade e da marginalidade da população residente nas favelas, defendida por alguns pesquisadores da época, segundo os quais ela teria uma organização social e valores rurais sem familiaridade com os modos de vida urbanos. Anthony e Elizabeth Leeds, em A Sociologia do Brasil Urbano, no entanto, apresentam a experiência urbana dos moradores daquelas comunidades, destacando os locais de socialização, a história ocupacional deles e o que os levou a morar nas favelas.

Outro assunto que mereceu uma atenção especial em A Sociologia do Brasil Urbano é a economia das favelas. Os autores destacam o volume de capital circulante, a iniciativa empreendedora de seus moradores e, sobretudo, a integração da economia das favelas com a da cidade.

Pode-se dizer que o livro contribui para a compreensão de um momento importante nas ciências sociais, em que especialistas se aprofundaram na questão do mito da ruralidade e da marginalidade em pesquisas de campo, fortaleceram a visão da favela como solução e não necessariamente como problema e contribuíram para o estudo das políticas públicas.

Novidades da segunda edição

Além de ter a ortografia revista e atualizada, esta segunda edição de A Sociologia do Brasil Urbano traz outras duas importantes contribuições. A primeira é um texto inédito do professor Luiz Antonio Machado da Silva, que conviveu com os Leeds e participou do grupo de trabalho deles. Machado da Silva esmiúça a importância das contribuições teóricas dos estudos liderados por Anthony Leeds sobre a questão urbana e destaca o próprio aprendizado como pesquisador ao desfrutar da proximidade com o mestre.

A segunda novidade é uma verdadeira preciosidade: um caderno de fotografias inéditas, parte destas de autoria de Anthony Leeds, selecionadas dentre a coleção de 770 imagens do acervo do antropólogo que estão sob a guarda da Casa de Oswaldo Cruz. Pelas fotos, é possível conhecer outra face de Anthony Leeds, além do olhar do pesquisador: uma inegável sensibilidade artística no registro de lugares, pessoas e diversas práticas sociais nas favelas do Rio de Janeiro e moradias populares de cidades da Latino-América. 

Rio 450 anos 

O lançamento da segunda edição de A Sociologia do Brasil Urbano integra o projeto 'A favela e a imagem do Rio de Janeiro: a contribuição da pesquisa de Anthony e Elizabeth Leeds nos anos 60 do século XX', apresentado à Comissão Oficial dos 450 anos do Rio e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro - Faperj.

Aprovado e apoiado, o projeto – que inclui, além do lançamento do livro, a realização de um seminário e de uma exposição – insere na agenda política e social da cidade uma crítica importante num momento 'festivo'. "O uso do termo - favela - se confunde com o da história social, econômica e política do Rio de Janeiro, o que torna mais desafiador e relevante incluir sua história, seus personagens e uma das mais importantes pesquisas antropológicas realizadas sobre essa forma de moradia nas comemorações dos 450 anos da fundação da cidade", afirmam as organizadoras no texto de apresentação à segunda edição do livro.

Sobre os autores / as organizadoras:

Anthony Leeds (1925-1989): Antropólogo formado pela Universidade de Columbia, onde concluiu seu doutorado em 1957. Sua tese, Economic Cycles in Brazil: the persistence of a total cultural pattern – cacao and other cases, foi um dos estudos de comunidade do Programa de Pesquisas Sociais do Estado da Bahia-Columbia University. Foi chefe de estudos urbanos do Departamento de Assuntos Sociais da Organização dos Estados Americanos (OEA) e professor e pesquisador do City College de Nova York e das universidades de Hofstra, Texas e Boston. Atuou como consultor das agências internacionais Peace Corps Volunteers e Acción International. Foi professor visitante do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional em 1969, lecionando o primeiro curso de antropologia urbana no Brasil.

Elizabeth Leeds (autora e organizadora): Formada em ciência política pela Universidade de Boston, foi voluntária do Peace Corps Volunteers e colaboradora de Anthony Leeds em suas pesquisas sobre favelas, iniciadas em 1965. Sua dissertação de mestrado foi defendida na Universidade do Texas e sua tese de doutorado, no Massachussets Institute of Technology. Além das favelas, pesquisou a imigração em Portugal, direitos humanos e, atualmente, pesquisa políticas de segurança pública no Brasil. É fundadora e presidente de honra do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Elizabeth também trabalhou na organização desta segunda edição.

Nísia Trindade Lima (organizadora): Coordenadora do projeto da exposição e do seminário “O Rio que se queria negar: as favelas do Rio de Janeiro no acervo de Anthony Leeds”, Nísia é socióloga, mestre em ciência política e doutora em sociologia pelo Instituto Universitário do Rio de Janeiro (Iuperj), é pesquisadora titular da Casa de Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo Cruz (COC/ Fiocruz), onde é professora de pós-graduação do Programa de História das Ciências e da Saúde; vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz.

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