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Unesco certifica arquivo da Fundação Rockefeller na Fiocruz


11/09/2023

COC/Fiocruz

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A Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) recebeu (4/9) em cerimônia na Biblioteca Nacional, no Centro do Rio de Janeiro, o certificado que oficializa a incorporação do Arquivo Fotográfico das Atividades da Fundação Rockefeller no Brasil (1930-1940) no Programa Memória do Mundo para a América Latina e o Caribe (MoWLAC). A decisão do organismo internacional de reconhecer o acervo composto por 4.209 fotografias e 633 negativos de vidro como patrimônio documental foi anunciada em novembro do ano passado, em Aruba. 

Iniciativa internacional promovida e coordenada pela Unesco desde 1992, o Programa Memória do Mundo tem como intuito garantir a preservação e o acesso ao patrimônio documental e digital de maior relevância para os povos do mundo, como o arquivo da Fundação Rockefeller no Brasil, que integra o acervo da Casa de Oswaldo Cruz.  

Diretor da Casa de Oswaldo Cruz, Marcos José de Araújo Pinheiro recebeu o certificado de Peter Scholing, presidente do Comitê Regional do Programa Memória do Mundo para a América Latina e o Caribe (MoWLAC), e de Rosa M. González, assessora regional de Comunicação e Informação da Unesco para a América Latina e o Caribe.  

“Esse reconhecimento internacional não se restringe exclusivamente ao valor desse acervo, mas, sobretudo, ao trabalho que a Casa desenvolve de identificação, incorporação, tratamento, conservação e disponibilização à consulta de relevantes documentos relacionados à história das ciências e da saúde. É também o reconhecimento de uma bem-sucedida estratégia da Casa de valorização de nossos acervos por meio do Programa Memória do Mundo, já que somamos ao todo quatro fundos sob nossa tutela com a chancela desse programa da Unesco”, declarou Marcos José, referindo-se aos Fundos Oswaldo Cruz e Carlos Chagas e aos negativos de vidro do Fundo Instituto Oswaldo Cruz.  


Peter, Aline, Marcos José e Rosa, em cerimônia da Unesco na Biblioteca Nacional (foto: COC/Fiocruz)

Responsável pela submissão da candidatura do conjunto documental da Fundação Rockefeller à Unesco, Aline Lopes de Lacerda, historiadora e pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz, também presente ao evento, falou sobre o significado do certificado. “Além de ser um reconhecimento à Casa de Oswaldo Cruz e ao próprio arquivo, chama a atenção para o arquivo, tornando mais evidente que ele precisa ser preservado. Essa chancela possibilita ainda a busca por apoios financeiros que possam garantir essa preservação e a ampliação do acesso, por meio, por exemplo, da digitalização, da inserção em uma base on-line e de melhores descrições do arquivo”. 

O arquivo nominado pela Unesco abrange as ações no Brasil, com ênfase no Rio de Janeiro, Bahia e Ceará, e mostra os esforços empreendidos pelo governo brasileiro e a instituição sediada nos Estados Unidos na eliminação do mosquito Aedes aegypti, vetor da febre amarela, e do mosquito Anopheles gambiae, vetor da malária. As fotografias também registram os estudos e o processo de produção da primeira vacina eficaz contra a febre amarela, produzida em Manguinhos e, até hoje, fornecida pela Fiocruz. 

Workshop para os países africanos e da América Latina e Caribe 

A entrega do certificado se deu ao fim do primeiro dia de atividades do workshop de capacitação destinado a Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e da América Latina e o Caribe (ALC), com o objetivo de preparar candidaturas mais eficazes para o Registro Internacional e/ou Regional do programa da Unesco Memória do Mundo (MoW). A atividade é organizada pela Unesco, com apoio do Comitê Regional MoWLAC e do Governo do Brasil, por meio da Biblioteca Nacional e do Instituto Guimarães Rosa. Segundo a Unesco, apesar da riqueza e da diversidade do patrimônio documental nesses países, eles estão sub-representados nas inscrições no Registro Internacional Memória do Mundo.  

Séries documentais 

O arquivo nominado pela MoWLAC está dividido em três séries documentais. A primeira, chamada Serviço de Febre Amarela, contém registros sobre a campanha de erradicação do mosquito Aedes aegypti nos estados brasileiros e em países da América do Sul, além de fotografias dos estudos e pesquisas sobre a forma silvestre da febre amarela e sobre o processo de produção da vacina contra a doença. Já a série Serviço de Malária do Nordeste abrange os esforços pela erradicação do mosquito Anopheles gambiae, vetor da malária, durante uma epidemia da doença ocorrida no nordeste do país, em 1939. Por último, a série Exposições do Serviço de Febre Amarela e do Serviço de Malária do Nordeste apresenta os registros da exibição dos trabalhos realizados no Brasil nos anos de 1930 e 1940 na 9ª Conferência Sanitária Pan-Americana, na Exposição de Chicago e na Exposição do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). 

Histórico do arquivo  

A Fundação Rockefeller foi criada em 1913, no contexto da remodelação dos códigos sanitários internacionais. Instituição filantrópica e de cunho científico, atuou principalmente em educação, medicina e sanitarismo. Associada a um grande grupo industrial e comercial dos Estados Unidos liderado pelo milionário John D. Rockefeller, a Fundação priorizou o campo da saúde pública e atuou inicialmente no sul daquele país. Com o sucesso em território estadunidense, o trabalho também foi desenvolvido em outros países com necessidade de controle de enfermidades como ancilostomíase, febre amarela e malária. 

Por meio da recém-criada Junta Internacional de Saúde e com base em convênios de cooperação com instâncias governamentais federal e estadual em diversos países, a Fundação Rockefeller atuou em grande parte da América Latina e chegou ao Brasil em 1916. O convênio com o governo brasileiro foi feito em 1923, o que garantiu a cooperação médico-sanitária e educacional para programas de erradicação das endemias. 

A Fundação intensificou e institucionalizou suas atividades a partir de 1930, atuando lado a lado com organismos governamentais, notadamente no combate à febre amarela. Além das campanhas de erradicação do mosquito vetor e em pesquisas epidemiológicas, a instituição desenvolveu atividades em laboratório, em busca de um imunizante contra a doença. A partir de 1940, com laboratório já montado e fabricando a vacina antiamarílica, a Fundação Rockefeller paulatinamente transfere o controle de suas atividades para o já estruturado Serviço Nacional de Febre Amarela. Só em 1950 se retirou formalmente do controle dessas atividades, passando a direção do laboratório de pesquisas e de produção da vacina para o Instituto Oswaldo Cruz (IOC). 

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