Fiocruz

Fundação Oswaldo Cruz uma instituição a serviço da vida

Início do conteúdo

Fiocruz libera Aedes com Wolbachia no Rio de Janeiro


29/08/2017

Fonte: Projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil e Fundação Oswaldo Cruz

Compartilhar:

Nesta terça-feira (29/8), a Fiocruz deu mais um passo no combate a dengue, zika e chikungunya, com o início da liberação de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia, em larga escala, no município do Rio de Janeiro. A iniciativa faz parte das ações do projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil (EDB), que amplia, gradativamente, a área de liberação destes mosquitos na cidade. 

Dez bairros da Ilha do Governador serão atendidos nessa etapa da expansão: Ribeira, Zumbi, Cacuia, Pitangueiras, Praia da Bandeira, Cocotá, Bancários, Freguesia, Tauá e Moneró. Na sequência, toda a Ilha do Governador será coberta. Após a conclusão do trabalho na região, o projeto EDB se expandirá para outras localidades da cidade do Rio de Janeiro, nas zonas Norte e Sul. A liberação de mosquitos será encerrada até o final de 2018 e, ao término do processo, a expectativa é que as áreas beneficiadas pelo projeto reúnam cerca de 2,5 milhões habitantes.

Nesse processo de expansão do projeto EDB, a Fiocruz colocou em funcionamento o Simulado de Campo, uma estrutura na Expansão do campus destinada à produção em larga escala de Aedes aegypti com Wolbachia. A nova estrutura funcionará ao lado do local atual destinado à criação de mosquitos e contará com mais espaço físico, equipamentos e técnicas específicos para o aumento da produção. A finalidade do Simulado de Campo é suprir a maior demanda por mosquitos na fase atual do projeto.

Atualmente, a capacidade de produção é de 600 mil de ovos a cada semana. No Simulado de Campo, a capacidade passará inicialmente para 1,6 milhão de ovos e alcançará um pico de 3 milhões. A capacidade máxima estimada de produção semanal é de 10 milhões de ovos de Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia. “Esta estrutura é única no país e será a primeira vez que uma instituição pública de pesquisa atingirá essa produção, viabilizando a expansão do projeto. Estes ovos serão utilizados para a liberação nas áreas de abrangência do Eliminar a Dengue, para a manutenção da nossa colônia e também para as pesquisas conduzidas pelas equipes dos especialistas do projeto”, enfatiza o pesquisador líder do EDB, Luciano Moreira.

Ao dar início a essa nova fase do projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil, os pesquisadores da Fiocruz, em parceria com outras instituições, reforçam suas apostas em iniciativas inovadoras e buscam, por diferentes prismas, enfrentar uma doença que traz problemas ao país. “Este projeto é uma clara demonstração de que a inovação tecnológica pode contribuir para a superação de graves problemas de saúde pública, como as doenças que têm o Aedes aegypti como transmissor. No entanto, não podemos esquecer que a proliferação do mosquito está intimamente associada a questões sociais e ambientais: à forma como lidamos com o ambiente, descartando objetos que podem se transformar em potenciais criadouros do mosquito Aedes aegypti; à deficiência na coleta do lixo urbano, ao abastecimento irregular de água para uso doméstico e à violência urbana que impede a adequada ação dos agentes de endemias", ressalta a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima.

Estrutura

O Simulado de Campo é formado por quatro módulos com 45 metros quadrados de área cada. Apenas uma das faces do local é completamente fechada; as três outras faces são revestidas com tela, o que permite a circulação do ar e da umidade com o ambiente externo. Daí o nome "simulado": a estrutura reproduz as condições existentes no habitat dos mosquitos.

No primeiro módulo funcionará o estoque e a oficina de manutenção dos equipamentos. O segundo módulo será destinado à lavagem dos tubos utilizados para a liberação dos mosquitos, que são reutilizados a cada soltura. No terceiro módulo acontecerá uma das etapas mais importantes do processo: é onde os ovos eclodirão e serão acondicionados em bandejas para se transformarem em pupas, processo que demora entre seis e sete dias.

O Módulo 3 é o único ambiente do Simulado de Campo climatizado e totalmente isolado do meio exterior. A temperatura, em torno de 27 graus, é a ideal para o desenvolvimento das larvas até a fase de pupa. Cortinas de ar instaladas nas portas que conduzem aos módulos vizinhos auxiliam na manutenção dessa condição e evitam que outros mosquitos ingressem no recinto.

No Módulo 4 ocorrerá o último estágio antes da liberação dos mosquitos: as pupas serão colocadas em tubos e, nestes recipientes, se transformarão em mosquitos adultos. É neste momento que ficarão no ambiente telado, ambientando-se às condições externas. Após cerca de cinco dias, os tubos serão transportados pela equipe de Entomologia de Campo do EDB e liberados nas áreas programadas. "O Simulado de Campo traz uma série de vantagens. Além do aumento da produção, existe a otimização do processo como um todo, com a redução do manuseio dos ovos, das pupas e dos mosquitos, a melhoria do fluxo possibilitada por ambientes dedicados exclusivamente à cada atividade", avalia o gerente Operacional do EDB, Gabriel Sylvestre.

O projeto

O programa Eliminar a Dengue: Nosso Desafio é uma iniciativa internacional, sem fins lucrativos, com o objetivo de oferecer uma alternativa sustentável e de baixo custo às autoridades de saúde das áreas afetadas pela dengue, zika e chikungunya, sem qualquer gasto para a população. A sede do programa mundial Eliminate Dengue: Our Challenge é na Universidade Monash, na Austrália. Os demais países em que a iniciativa está presente, em diferentes etapas de desenvolvimento, além de Brasil e Austrália, são Colômbia, Índia, Indonésia, Sri Lanka, Vietnã, Fiji, Vanuatu e Kiribati.

O projeto propõe um método inovador capaz de reduzir a transmissão dos vírus da dengue, zika e chikungunya por meio da liberação de mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, promovendo uma substituição gradual da população de mosquitos em uma determinada área. Antes da liberação de mosquitos, a equipe de Engajamento e Comunicação do projeto vai a campo para interagir com a comunidade em busca da conscientização a respeito da importância da metodologia e da parceria com a população.

O método constitui uma alternativa autossustentável pois, no cruzamento com mosquitos de campo, a fêmea transmite a bactéria aos seus filhotes e, naturalmente, a Wolbachia se perpetuará nas gerações futuras dos mosquitos (Figura 2). Dessa forma, as liberações de mosquitos são feitas por um período em determinada localidade, não havendo a necessidade de continuadas liberações após o estabelecimento desta população de mosquitos Aedes aegypti na área.

As técnicas empregadas pelo EDB não envolvem modificações genéticas, nem no Aedes aegypti e nem na Wolbachia, não provocam a supressão do mosquito, e sim, a substituição de uma população que transmite dengue, zika e chikungunya por outra que não oferece risco à população.

A verificação da presença da Wolbachia nos mosquitos é feita por meio da análise em laboratório dos mosquitos que são capturados, semanalmente, pela equipe do EDB. As armadilhas de mosquitos ficam instaladas na residências e comércios de moradores ou trabalhadores nas áreas, que aceitam participar voluntariamente como anfitriões, formalizando sua parceria junto ao EDB.

Expansão

O projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil teve início em 2014, por meio de um projeto piloto realizado em Tubiacanga, bairro da Ilha do Governador, e Jurujuba, em Niterói. No final de 2016 o projeto iniciou a sua expansão e, no segundo semestre de 2017, está presente em 27 bairros de Niterói e em dez bairros da Ilha do Governador.

Aprovações éticas e regulatórias

O protocolo desta fase de expansão do projeto no Brasil foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) após rigorosa avaliação sobre a segurança para a saúde e para o meio ambiente.

Apoiadores e financiadores

No Brasil, o projeto é apoiado pelo Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis (Devit/SVS) e pelo Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (Decit/SCTIE), ambos do Ministério da Saúde, com contrapartida da Fiocruz. A Secretaria de Saúde de Niterói e a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro atuam como parceiros locais na implantação do projeto, fornecendo contrapartida de pessoal e logística. O financiamento internacional inclui verba da Fundação Bill & Melinda Gates, via Universidade Monash (Austrália) e Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. 

Para mais informações, acesse o site sobre o Eliminar a Dengue: Desafio Brasil.

Curta a página no Facebook.

Voltar ao topoVoltar