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Fiocruz e China avançam em acordo de cooperação científica


20/07/2017

Pamela Lang e André Costa

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Uma delegação de especialistas em saúde e genômica da China visitou a Fiocruz, em Manguinhos, no Rio de Janeiro, na última semana de junho, com o objetivo de discutir futuras parcerias entre os dois países. Em diversos encontros, reuniões e palestras, as duas partes discutiram áreas de mútuo interesse, tornando mais próximo um acordo científico.

Em sessão especial organizada em conjunto pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), pelo Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz) e pelo Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz), no dia 27/06, pesquisadores chineses e brasileiros compartilharam suas descobertas científicas sobre os vírus zika e ebola e discutiram possibilidades de colaboração para controlar a re-emergência de outros vírus e antecipar novas epidemias. Já no dia 28/06, dirigentes e pesquisadores chineses do Instituto Genômico de Beijing, do Centro de Controle de Doenças da China (BGI e CDC China, respectivamente, nas siglas em inglês), integrantes de órgãos ligados às ciências nacionais e representantes da Fiocruz debateram como viabilizar isso, em reunião fechada.

George Gao falou sobre a importância estratégica da troca de conhecimento acumulado em doenças infecciosas entre Brasil e China (foto: Gutemberg Brito)
 

No primeiro evento, estiveram presentes o vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Rodrigo Correa, o diretor do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), José Paulo Leite, e o diretor do Centro de Relações Internacionais da Fiocruz (Cris) e ex-presidente da Fundação, Paulo Buss. O evento também contou com a presença de Carlos Morel, ex-presidente da Fiocruz diretor do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS).

Além de destacarem a importância estratégica da troca de conhecimento acumulado em doenças infecciosas entre Brasil e China, visando uma parceria para os próximos cinco a dez anos, os integrantes da mesa falaram sobre a valorização do papel dos países que formam o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) na comunidade científica internacional.

“Essa colaboração é uma oportunidade de reforçarmos o papel do bloco de países que compõem o Brics, como uma alternativa ao grupo mais tradicional de instituições de pesquisa dos Estados Unidos e Europa”, destacou Paulo Buss.

Com o objetivo de refletir sobre as possibilidades de cooperação em estudos sobre o vírus zika, os dirigentes do Center for Disease Control and Prevention (China CDC), George Gao e William J. Liu relataram a experiência adquirida pelo CDC em Serra Leoa, no período de 2014 a 2016, durante o surto de ebola na região, desde o desenvolvimento de uma plataforma capaz de detectar inúmeros vírus (zika, ebola, febre amarela, dentre outros), até estudos realizados sobre a persistência do vírus em sobreviventes, sua imunologia e estrutura biológica.

Gao, que também é presidente da Sociedade Chinesa de Virologia e membro da Academia Chinesa de Medicina, destacou a importância das grandes instituições de pesquisa mundiais cooperarem e compartilharem seus trabalhos na perspectiva do conceito One World, One Health, lançado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2008. O pesquisador considera que há três elementos centrais na re-emergência dos vírus: mudanças climáticas, alterações no comportamento humano e a facilidade que os vírus têm para se adaptar a novos hospedeiros, por meio de mutações genéticas. “Por isso a necessidade de atuarmos juntos e unirmos diferentes setores da sociedade para controlar a emergência ou re-emergência dos vírus”, comentou Gao.

Para relatar o acúmulo de conhecimento do vírus zika adquirido durante a epidemia que assolou o país em 2015 e 2016, incluindo o recente estudo sobre o impacto do medicamento sofosbuvir na replicação do vírus zika, estiveram presentes os pesquisadores do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), Patrícia Brasil e José Cerbino Neto, e Thiago Souza, do Centro de Desenvolvimento Tecnólogico em Saúde (CDTS/Fiocruz).

Como resultado do encontro, foram apontadas possiblidades objetivas de cooperação que incluem a evolução do vírus zika e sua capacidade de adaptação ao hospedeiro; características das respostas imunológicas entre pacientes e sobreviventes; estudos sobre a persistência do vírus zika e estudos mais aprofundados dos casos negativos, na perspectiva de antecipar e introdução ou re-emergências de outros vírus.

Parceria deve se desenvolver de modo ágil, diz Carlos Morel

Já na reunião do dia 28/06, o diretor do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde da Fiocruz (CDTS), Carlos Morel, defendeu que a parceria entre a Fundação e as instituições chinesas de saúde se desenvolva de modo ágil e eficaz. Segundo ele, uma vez estabelecida uma primeira colaboração como “prova de conceito”, será possível pensar em medidas a longo prazo.

           Carlos Morel aposta em parcerias no campo da genômica (Foto: Peter Ilicciev - CCS/Fiocruz)

 

“Devemos dar um passo depois do outro. Para começar, podemos instalar uma ou duas máquinas de sequenciamento genético em um de nossos laboratórios, e então evoluir”, disse Morel. “Podemos agir de modo muito rápido. Doamos algum maquinário, algum espaço e verbas para trazer pesquisadores da China. Se começarmos logo, provaremos que podemos trabalhar juntos, e então poderemos expandir a partir daí”, disse Morel.

Segundo o vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Rodrigo Correa, se concretizadas, as parcerias entre a Fiocruz e as instituições chinesas de saúde levarão a cooperação internacional da Fundação a um novo patamar, com impactos na pesquisa nacional em temas como genômica, saúde de grandes populações, mudanças climáticas e doenças emergentes e reemergentes.

“O sistema genômico brasileiro pode se inspirar melhor no que o BGI fez, entender melhor seu modelo de negócios e de desenvolvimento, o que pode levar a novas vacinas, drogas ou apenas a informações úteis no futuro. Eles [do BGI] tomaram uma decisão política bastante forte de investir na área, e hoje competem em nível igual ou superior com os principais institutos do mundo. Até as próprias máquinas são desenvolvidas por eles atualmente”, disse o vice-presidente da Fiocruz.

O coordenador do Centro de Relações Internacionais da Fiocruz, Paulo Buss, enfatizou como um acordo com a China reforça a presença da Fundação no Sul global. “Nossa missão é estarmos presentes na América Latina, nos países lusófonos e no sul global como um todo. Temos muito a contribuir com as instituições chinesas, como uma rede laboratórios e grande proximidade com as escolas nacionais de saúde pública”, disse Buss.

Segundo o representante do CDC chinês, George F Gao, a China tem atuado sob o lema Um mundo, uma saúde (One World, One Health, em inglês) o que demonstra seu compromisso e interesse em desenvolver parcerias internacionais. Segundo o pesquisador, a atuação do país em casos como as epidemias de síndrome respiratória aguda grave (Sars) em 2003 e de ebola em 2014 provam a capacidade do país em exercer papel de liderança na saúde global. “Temos desafios e interesses em comum. Esperamos ter forte colaboração entre a China e o resto do mundo, em especial o Brasil”, afirmou.

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